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Alguns sentimentos


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 26/05/2020
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Vou me permitir escrever algo que quase nunca faço: um texto sentimental. Não gosto desse tipo de texto porque geralmente são apelativos e pouco práticos. Porém, tentarei ser o mais razoável possível.

Sempre ouvi dizer que “nascer em berço de ouro” era uma expressão que dizia respeito a quem tinha nascido em um lugar de grandes possessões materiais. Com o passar do tempo percebi que essa interpretação literal era de uma pobreza incomensurável. Foi com essa flexibilização de perspectiva que me dei conta que eu tinha de fato nascido em um berço de ouro, afinal, meus pais, de sol a sol, lutaram para me criar e para me dar o que havia de melhor em formação. Segundo os meus pais, o estudo é “um tesouro que ninguém tira”. Quantos livros que meus pais me deram? Mais de 200, certamente, fora inúmeras outras coisas.

Meu saudoso pai costumava dizer que fazia o máximo para nos dar “tudo do bom e do melhor”. Também com o tempo eu entendi um pouco o que eram esses “bom” e “melhor”. Como regra, ele comprava (aspecto material) boas coisas para nós, e, quando podia, buscava exceder o “bom” e dava o “melhor”. Esse é um ditado que hoje vejo como muito forte e com um profundo caráter formativo, pois eu, professor, nem sempre consigo ministrar a melhor aula, mas uma boa aula busco fazer como regra. Eu me avaliar enquanto profissional é por si só um problema, no entanto, como eu disse que esse texto é um tanto sentimental, me darei a esse luxo talvez pedante.

E foi entre o “tesouro que ninguém tira” e o “tudo do bom e do melhor” que fui aos poucos sendo formado (óbvio que sigo sendo formado), tanto por meu pai quanto por minha mãe. O tesouro legado por meus pais já me levou a tantos lugares, 25 países e 15 estados brasileiros, bem como já possibilitou com que inúmeros estudantes viajassem comigo (mentalmente) nas aulas de História. Isso tudo não é uma riqueza?

Uma vez participei de uma palestra do professor Celso Antunes e ele contou uma história, que reproduzirei de forma sintetizada:

“Uma pessoa que na terra foi bastante ruim morrer e foi ser entrevistada por Deus, que lhe daria o direito a uma última palavra para ver se seria, apesar de tudo, possível dela ir para o céu.

- Você tem direito a um argumento para justificar o porquê você foi tão ruim na terra.

De cabeça baixa, o homem disse:

- Eu nunca tive um bom professor.

Diante de tal argumentação, as portas do céu se abriram.”

O que é possível perceber é que há tesouros que ninguém é capaz de tirar, como o de poder conhecer certas pessoas e aprender com elas. Não há nada mais rico do que esse tipo de experiência.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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