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A violência da desumanização do humano


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 25/04/2022
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Dou início, a esta nova exposição de ideias, fazendo alusão ao livro “O Menino do pijama listrado” do escritor John Boyne e que rapidamente foi adaptado as telas de cinema com o mesmo título. A história gira em torno de um menino alemão, cujo pai se torna comandante de um campo de concentração, durante a II Guerra Mundial. Este menino, sentindo-se infeliz e solitário, escapa de sua casa e encontra o campo de concentração, sem ter a mínima ideia do que seja de fato. Do lado de fora do campo, demarcado por uma cerca de arame farpado, o menino alemão chamado de Bruno, conhece o menino de origem judaica, cujo nome é Shmuel. Surge então uma amizade e Bruno não compreende o motivo do amigo usar sempre um “pijama listrado” e não poder ultrapassar a cerca que os separam.    

A inocência de Bruno, o faz questionar a causa do amigo, viver em condições pouco humanas, pois afinal Shmuel, seu novo amigo, é um menino humano como ele. Uma ocasião, Bruno decide “brincar” no local onde o amigo se encontra e não pode sair. O menino alemão, ultrapassa a delimitação do campo e veste um “pijama listrado” como o do amigo e de todos os que vivem no campo. O resultado desta aventura é trágico: o menino alemão, é colocado em uma fila para ser incinerado junto com outros que usam o mesmo pijama. Esta cena do filme ou passagem do livro, faz uma forte crítica à ignorância e a estupidez da violência que desumaniza o humano, por critérios de raça, credo, cultura, gênero etc., e que não sabe discernir que somos todos humanos e não é possível diferenciar ou caracterizar uns dos outros, como superiores e inferiores ou mais humanos e menos humanos.

Este livro e o filme, demonstram a que ponto a barbárie humana pode chegar a limites absurdos de destruição, presentes em nossa realidade e atualidade, como no caso de guerras como a da Síria, Iemên e mais recentemente, entre Rússia e Ucrânia. Também pode expressar as violências que desumanizam crianças que não necessariamente usem “pijamas listrados”, mas que são colocadas em campos de concentração de exclusão e marginalização social, econômica e política, simplesmente pela sua raça e posição social. Algo perceptível em sociedades como a nossa. Em grandes cidades marcadas pela violência racial e social, que produzem inúmeros modos de campos de exclusão e marginalização.

Desta forma, desumanizam-se os humanos, os tornando passíveis de eliminação e extermínio.  A questão passa pela situação ilustrada no livro e filme, quando Bruno, o filho do comandante alemão, apresentando-se como pertencente a raça superior, foi assassinado como se fosse da raça do amigo judeu Shmuel: o pijama listrado os igualou, demonstrando a estupidez representada na violência da desumanização do humano: somos todos humanos e quando colocamos um “pijama listrado”, nos igualamos mais ainda. Assim sendo, tanto os que desumanizam quanto os desumanizados, podem ser destruídos, se não aprendermos e praticarmos o reconhecimento à diversidade e o respeito a alteridade.

BOYNE, J. O Menino do pijama listrado. Ed. Companhia das Letras, 2007.

Filme - O Menino do pijama listrado – 2008 – Youtube.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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