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A Literatura de Lima Barreto e a Questão Racial


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 15/07/2021
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A literatura indubitavelmente, apresenta-se e sempre se apresentou, tratando-se obviamente de uma boa e contundente literatura, como forma não apenas de expressão estética, mas também configurando-se enquanto atitude crítica sobre uma época, uma determinada sociedade, seus costumes, além de destacar as questões mais imperativas, para serem retratadas através da ótica literária. Desta forma, muitas obras literárias, oriundas de outros momentos históricos, mantém-se bem atuais. Principalmente quando tratam de problemas como o racismo, tão presente em sociedades como a nossa.

Ressalto a literatura de Lima Barreto, que experenciou na carne, a violência do racismo. Este autor, negro e pobre, deixou desenvolveu uma contundente crítica à sociedade brasileira de sua época, já com a pós-escravidão, porém preservando os costumes e práticas escravocratas, além de implementar e promover o racismo, marginalizando e excluindo a população negra. Situação que convenhamos, guardada as medidas proporções, perpetua-se intensamente em nossa atualidade.    

Segundo essa condição, Lima Barreto foi um dos primeiros autores nacionais a atribuir protagonismo a um personagem negro, atribuindo-lhe um corpo e uma voz que passa a expressar de forma nua e crua, sua exclusão e marginalização. Assim sendo, a crítica literária de Barreto, denuncia o quão danoso é o racismo anotado nessa sociedade que, depois de um longo processo histórico, largara a prática retrógrada da escravidão, mas carregava - e ainda carrega - marcas desse período.

 A literatura de Barreto traduz a questão do racismo e contempla de modo combativo, as mais variadas maneiras de excluir, promovidas por práticas sociais de exclusão do modus vivendi das comunidades negras. Apesar de todo esse reconhecimento crítico da obra de Barreto, ainda existe uma lacuna a ser preenchida: regatar o valor de uma literatura que dá espaço àqueles que se encontravam e encontram marginalizados. Podemos observar que no Brasil contemporâneo, marginalizar a diversidade significa continuar a corroborar um processo de segregação que não contribui para o avanço dos reconhecimentos sociais e a efetivação dos direitos das minorias.

            Destaque-se que mesmo reconhecendo-se a sua importância, a obra literária de Lima Barreto foi e de certo modo, ainda permanece marginalizada. Porém, apesar de tudo, os atos de silenciamento jamais calaram Lima Barreto, durante seu exercício de denunciar e criticar as opressões, nem mesmo o silêncio do hospício foi capaz de silenciá-lo. Por esse motivo, a voz desse personagem da literatura nacional, deve ser cada vez mais resgatada nas letras nacionais, devido à sua contribuição ao denunciar as mazelas do racismo que nos afetam até o momento atual.

 

 

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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