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A POESIA EM TEMPOS DE PANDEMIA


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 21/08/2020
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Não será motivo de surpresa, se o título proposto para este texto, causar uma certa perplexidade. Afinal, pode-se indagar com toda a propriedade: “Como relacionar a poesia com uma situação tão trágica como esta fatal pandemia?” Indagação muito justa. Mas proponho para esta nova exposição de ideias, a seguinte reflexão: “E porque não poesia?”  Contudo, creio que para determinar o começo da conversa, uma questão bastante “espinhosa” deve ser inicialmente colocada: “O que é poesia?” Recorro à posição de Mário Faustino que coloca o problema de forma muito interessante: “nenhum de nós pode pretender, lucidamente, apresentar, sobre isso, um conceito definitivo. O máximo que podemos fazer é buscar estabelecer, discutindo o assunto por algum tempo, o que representa para nós, a esta altura, aquilo que chamamos de poesia” (*Faustino, 1977). Deve-se reconhecer então ser muito difícil buscar uma descrição fechada, um fator extremamente positivo para o debate. Desta forma, tomo a seguinte ousadia de minha parte: a exposição de uma descrição muito particular de poesia, que obviamente será passível de discordância e encontrar-se-á aberta às muitas críticas, extremamente benvindas neste espaço. Ressalto que não entendo o ato de poetar como efeito de uma inspiração que pode ser entendida como uma essência do fazer poesia ou algum tipo de força mágica, que preencha a subjetividade do poeta ou de quem produza poesia. Ou mesmo como um dom ou propriedade de determinados indivíduos que são beneficiados com a genialidade do fazer poético. Percebo sim, o ato de poetar como um efeito oriundo do pathos das entranhas humanas. Este termo originário do grego que define paixão, segundo a humilde percepção deste que vos escreve, impulsiona o poetar como uma força que em várias ocasiões nos apanha de surpresa, quando somos afetados por alguma coisa ou mesmo alguém que provoca as ações movidas pelas paixões. A poesia revela o que há de mais existencialmente humano, pois fazemos poesia quando sofremos. Quando amamos. Quando nos indignamos. Quando nos horrorizamos. Fazemos poesia para exaltar a vida ou para expressar o sentimento da morte. A poesia pode ser um grito de revolta ou expressar-se enquanto o chamamento pela paz. Poesia pode se converter em instrumento de crítica mordaz. Fazemos poesias também durante os denominados momentos trágicos, como nas guerras e também nas situações de pandemias, pois se assemelham na experiência de nos confrontar com a morte, a angústia, a finitude, a saudade, a perda, a impotência, a tristeza, a sobrevivência e a esperança. A catarse poética, nos auxilia a liberar as paixões que explodem perante estas situações, próprias da existência de ser do humano. Então penso que com a Covid-19 não será diferente. Fazemos e faremos poesia declamando os efeitos do Corona vírus com sentimentos de lamento, inconformidade, revolta e dor pelas perdas. Também teceremos poesia como uma ode à alegria, pela vida que persiste e abre esperança para melhores tempos ou como um réquiem em memória aos que partiram. Seja como for, penso que não nos deteremos em fazer poesia. Anal, dor e alegria são parte dos pathos que movem nossa existência e quem sabe, o Corona liberte-nos dos entraves que nos desumanizam como o egoísmo e a ambição. Nos faça romper com o isolamento de nós mesmos e nos transformemos em uma comunidade mundial de poetas? Seria o máximo da utopia? Ou não passa de mera fantasia? 

Penso que são elementos para uma existência humana mais poética! Todavia, como inicialmente ressaltei, só pretendo exercitar uma troca de ideias totalmente livre de certezas e conclusões, mas com toda a liberdade de uma ação de construir talvez uma bela poesia para pensar e realizar algo novo. Quem sabe! Compor uma poesia sobre o Amor Mundo, tomado por mais sentimentos de esperança, solidariedade e paz! 

*Faustino, Mário. Poesia-experiência. São Paulo: Perspectiva, 1977.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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