Devido ao título, torna-se necessário esclarecer que o tema escolhido para esta nova exposição de ideias, surgiu a partir da seguinte afirmação de minha esposa: “Há tantas pessoas jogadas nas ruas e não se enxerga ninguém. Mal vemos seus rostos. Penso que precisamos praticar a atitude de enxergar o outro, principalmente o mais necessitado”. Com tal observação, minha esposa expressa sua atitude ética, inspirada na compaixão cristã católica. Especificamente no meu caso, tal afirmação me fez pensar na proposta ética do filósofo lituano-judeu Emmanuel Lévinas, que afirma a importância de enxergar a face do outro, para percebermos seus sofrimentos, visando agir quanto às causas dos seus sofrimentos.

         O enxergar o outro ou a face do outro, apresenta uma característica ética de se respeitar a alteridade, princípio ético muito caro para Lévinas. Atitude ética de enxergar o outro, em suas necessidades e carências, o reconhecendo como pessoa digna de respeito, auxílio, compaixão e caridade. Desta forma, reconhecer através da face do outro, não alguma coisa largada, mas sim alguém que necessita de ajuda e respeito ético. Situação que vai muito além de qualquer tipo de atributo ou desqualificação preconceituosa ou moralista, devido a sua condição de estar, constituindo-se sim em um modo de pensar a relação com o próximo ou o outro, pelo qual devemos ter uma atitude ética de responsabilidade.

         O rosto ou face, revela as emoções e sentimentos, expressando muito do que se sofre ou carece. A alteridade, segundo Lévinas, torna-se uma abertura que existe sempre com relação ao enxergarmos a face do outro, Nesta relação, nos constituímos enquanto sujeitos éticos, agindo exatamente ao enxergarmos o sofrimento na face do outro. Enxergar o rosto do outro, jogado nas ruas, como faz minha esposa, nos direciona a construir uma relação da alteridade ética.