A Arte em Tempos Pandêmicos
Soa como estranho, o título desta nova exposição de ideias. Afinal, pode-se questionar a ligação entre arte e revolta, com o momento de pandemia que experimentamos. Entretanto, gostaria de ressaltar o valor e importância da arte que carrega a exigência de determinar forma ao que se considera impossível, realizando o imprevisto, a despeito de qualquer realidade que se demonstre esmagadora, como no caso da pandemia do Covid-19 e suas consequências.
Em tempos pandêmicos, por mais esforço que façamos, há sempre o ceticismo quanto ao futuro, pois nesta situação, o que está por vir, aparenta insegurança, medo e ausência de perspectiva. Ora, a arte deve expressar exatamente a ruptura com tal visão. Devemos nos tornar “artistas de nossas vidas”, refazendo o mundo ou ousando refazê-lo por nossa iniciativa. Temos a necessidade de assim como conceber uma obra de arte, seja na escrita, escultura ou pintura, construir novas formas estéticas de arte de viver. Como destaca o autor Albert Camus: “Como toda obra de arte, a vida exige que se pense nela” (2018). Significa dizer que para além e paralelamente ao pensar, mesmo em tempos pandêmicos, somos desafiados a nos atrevermos a criar no momento presente, novos modos de afirmar as nossas existências.
A arte nos desafia a buscar vivermos em um mundo digno, nos levando à recusa contra as barreiras da previsibilidade e da imobilidade. Exatamente neste sentido de criação artística e considerando a construção de nossas existências, enquanto obras de arte, localiza-se a possibilidade de criarmos uma sociedade mais justa e solidária, no agora da pandemia, visando um modo de viver menos mercadológico, utilitarista e egóico. Mediocremente estético. Essa empreitada expressa a percepção de que a grandeza humana se encontra em sua capacidade de criar sentido para a vida. Citando mais uma vez Camus: “Por que criar se não for para dar sentido ao sofrimento, nem que seja para dizer que ele é inadmissível” (1998).
Camus, Albert. A Morte Feliz. São Paulo: Editora Record, 2018.
Camus, Albert. Ensaio O Artista na prisão. Falaize, editor, 1952.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com