"Mas, afinal, para que interpretar um poema? Um poema já é uma interpretação." — Mario Quintana (1906-1994), poeta, tradutor e jornalista brasileiro.

Por João Francisco Carraro Borges^[1]

“Carraro, o que é poesia para você?” Essa foi a pergunta provocante e instigante que meu professor de Filosofia, Prof. Fernando Razente, me fez após ler o meu livro. Publicado em 2022 pela editora The Four, “Poemas para todos e para ninguém” é o meu primeiro escrito poético que se tornou em livro.

A pergunta do meu professor foi seguida de um silêncio reflexivo meu e depois uma rápida observação dele sobre as definições da linguagem poética na filosofia grega, especificamente a aristotélica. Segundo meu professor, para o filósofo Aristóteles em sua obra Poética, o pensamento pode ser ou é poético quando é relativo à arte ou ao fazer artefatos. É usar a linguagem por meio do belo com habilidade para criar obras para o afastamento do horrendo.

Por outro lado, a definição de “poesia” no dicionário comum é simplesmente a arte de escrever versos e tem sido assim que muitas pessoas têm visto a poesia: como apenas um método diferente de escrever. Mas seria essa definição do dicionário a mais correta? Como definir algo tão simples e ao mesmo tempo tão complexo quanto um poema? Como responder uma pergunta tão curta, mas tão profunda do meu professor?

Como um desafio, venho por meio deste texto explicar o que seria, para mim, fazer poemas e o ser poeta. A poesia, para mim, não está ligada unicamente ao poema em si, mas está além. A poesia, penso, é enxergar a beleza nas coisas simples e cotidianas da vida, como o nascer do sol ou como uma noite estrelada e ser capaz de comunicar essa beleza. A poesia é uma expressão desse sentimento de maravilhamento do mundo que me cerca em contato com o “Eu” mais profundo.

O poema, como resultado, parece uma coisa simples: um mero texto escrito em versos e estrofes? No entanto, o poema é algo muito mais do que mero método; ele é sério e profundo como a experiência humana com o mundo em sua imensidão. Dentro de um pequeno poema, o poeta é capaz de expressar todos os seus sentimentos neste mundo.

No momento da escrita, toda tristeza, alegria, frustração, espanto ou medo advindo dessa contemplação da realidade é posta para fora. Por isso a poesia é vida, e a escrita é, propriamente, somente o momento de catarse (kátharsis) do poeta!

Por fim, o poeta é aquele que, a partir dos seus versos, consegue não só se expressar belamente, mas também tocar as pessoas com sua palavra escrita, com suas falas em versos; pois há pessoas que vivem e sentem como nós, mas que não possuem a arte de expressar esses sentimentos como os poetas fazem, com tanta beleza e profundidade emocionantes!

Por isso, o poeta é aquele que tem a habilidade (arte) de alcançar por meio da linguagem o interno da pessoa que lê. Logo, mais do que apenas escrever em versos, a natureza e o objetivo do poema para o poeta é fazer conhecido seus sentimentos de dentro de si (o Eu) para o próximo (o Outro), comovendo (seja na tragédia) e até mesmo levando ao divertimento ou a paixão (seja na comédia ou no romance).