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Sobre tristeza e depressão: “Envelheci hoje a minha vida inteira”


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 30/08/2019
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Essa frase do título é do escritor Jorge Reis Sá no livro “A definição do amor”, e ela me inspirou a escrever uma crônica para a coluna de hoje a respeito de dois temas que irei discutir: tristeza e depressão.

Há dias em que a minha alma carrega o peso do universo inteiro. Dias comuns, sem nada aparentemente acontecendo - fora - obviamente. 

Há dias em que a guerra é interna. Dias em que quero morrer. Não fisicamente, mas simbolicamente. Deixar de existir, desaparecer. Abrir um zíper atrás das costas e fugir de mim mesma. Ou ainda, correr pra longe, de tudo, de todos, viver isolada numa ilha sem nenhum ser humano me dizendo o que ser, como ser, o que fazer, como fazer.

É verdade em que há dias em que me perco e travo batalhas intermináveis comigo mesma. Não quero saber de nenhum ‘mestre’, doutor, ou esses novos curadores da moda me dizendo que eu vou conseguir sair disso, que é só pensar positivo, que é só ter fé ou qualquer coisa parecida a esse discurso. Estou cansada de dizeres que não ajudam em nada.

Não me deem fórmulas de supostas felicidades prontas. Sim, eu preciso me permitir sentir dor, sentir todo o meu corpo implorar por algo que eu não sei ao certo o que é. Um olhar para a minha luta interna. Para essa ‘coisa’ que caminha comigo e eu não entendo de onde vem.

Há lutas que não são curadas com discursos floridos. Às vezes não vai passar. Às vezes a dor tem que ficar e me mostrar a que veio. Não me dope. Não tape a única voz que ainda tenho. Às vezes, tenho a impressão de que só quando sinto dor, estou viva.

O que essa dor pode me dizer? Por que meu corpo todo dói? Por que não consigo chorar? Ou, Por que só choro? Por que sinto essa necessidade em sair correndo e ficar só? Porque sinto que envelheci hoje a minha vida inteira?

A vida não é composta somente de dias felizes e isso é tão óbvio, que precisa ser dito, e escrito.

A felicidade é mostrada e publicada nas redes sociais, é a necessidade da minha geração, mas a tristeza é oculta como uma deformidade, uma voz que precisa ser silenciada a todo custo. Mas, essa voz retorna. 

E retorna cada vez mais alta, berrando para que algo seja feito, ou, para que pelo menos, em dias como hoje, eu apenas me escute, reconheça que não estou bem, que não sei o que fazer, e quando eu quiser, quando perpassar esses caminhos tão meus, pedir ajuda para dar nomes ao que sozinha não consigo.

Pode ser um luto. Pode ser um desemprego. Um fracasso. Uma rejeição. Abandono. Bullying. Traição. Ódio. Inveja. Medo. Vergonha. Culpa. Ansiedade. Depressão.

E pode ser tantos outros nomes que nos fazem envelhecer num só dia. Ninguém melhor do que a gente mesmo para criar espaço em endereçar a outra pessoa o nosso sofrimento. Quando é possível, quando a dor ainda não corroeu todo o corpo e a nossa voz. Mas, para que isso ocorra é preciso tempo, e entendendo esse tempo, como sendo de cada um.

 A depressão é um exemplo. Pessoas depressivas convivem muito com esses sentimentos e é preciso muito cuidado e cautela quando oferecemos a nossa escuta, e digo aqui, não só enquanto profissional, mas também enquanto pessoa. Como foi dito na crônica, é preciso que a pessoa em sofrimento reconheça o momento de pedir ajuda.

 E me refiro aqui ao momento em que a pessoa com depressão ainda pode verbalizar alguma coisa, e tem condições de criar esse pedido no seu tempo, porque quando isso não ocorre, aí sim precisamos interferir com a ajuda de medicamentos.

O amigo ou parente próximo pode ajudar oferecendo uma escuta sem julgamentos, e jamais iniciar discursos que comecem com: “Você tem que...”  Ninguém “tem que” nada. E pessoas com esse nível de sofrimento sabem o que precisam fazer, mas não conseguem, porque estão imersas em sofrimento.

Cada coisa no seu devido tempo. É preciso paciência e gentileza. É necessário sentir a dor num momento de tristeza ou até mesmo numa depressão, e deixar que ela fique pelo tempo que precisar ficar. Porque só percorrendo esse caminho poderemos ter notícias de seu fim.

Simony Ornellas Thomazini


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