A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


O que eu vou fazer com o restante da minha vida?


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 17/04/2020
  • Compartilhar:

Estamos todos vivenciando um momento inédito em nossas vidas e na humanidade. O mundo todo compartilha angústias, incertezas, inseguranças em relação ao futuro.  Nunca estivemos tão distanciados uns dos outros, mas, ao mesmo tempo, tão juntos. Como lidar com tudo isso? Como manter a saúde mental em meio a uma pandemia? O que fazer quando tudo isso acabar? Há algo bom a ser retirado dessa tragédia? 

Fazemo-nos muitas perguntas sobre o tempo em que estamos vivendo, mas o que ouvimos como resposta é muitas vezes o eco de nossa própria voz. 

De repente aglomeram-se inúmeros discursos do que fazer numa quarentena: dicas, sugestões, listas, etc. E aí lidamos com a culpa ou angústia por não conseguir fazer o que estão nos propondo.

É uma pandemia, não são férias! A noção de produtividade está totalmente equivocada nesse momento. Cobrar-se não é saudável. Cada um, dentro de sua dinâmica psíquica, terá que descobrir como lidar com isso. Haverá muitos momentos de dúvidas, insegurança, angústia, desamparo, diante do isolamento imposto, mas mesmo em meio a tudo isso, há de se criar saídas saudáveis.

Ficar tanto tempo com a família pode começar a provocar alguns conflitos que antes estavam silenciados pela correria do dia-a-dia. Talvez agora, seja o momento de resolver isso. Como? Cada um vai precisar descobrir.  E buscar ajuda profissional pode ser a melhor opção. 

Sobre isso ressalto pontos importantes: Se a minha família me irrita muito, se o meu marido ou esposa faz-me sentir um constante mal estar, se os meus filhos não me dão paz, se eu acho que meu pai ou mãe me cobram além do que eu posso dar, se o meu emprego é péssimo e agora eu tenho certeza disso, e etc. Todas essas questões e muitas outras ressurgem agora num volume mais alto. Porque agora, como em nenhum outro momento de nossas vidas, somos todos obrigados a olhar de frente para o que está nos acontecendo e se perguntar o que faremos com o restante de nossas vidas.

Problemas que estavam soterrados ou que tentávamos negar a sua existência, e, portanto, são anteriores ao Covid-19, podem ganhar uma maior força agora. 

Neste momento estamos todos respirando o medo. Estamos todos nos sentindo desamparados. Em alguns mais, outros menos, mas todos! Aqueles que já tinham depressão, síndrome do pânico, TOC, ou outros sintomas, essa nova situação pode servir de gatilho para um mal estar maior. A esses eu sugiro que procurem ajuda profissional com a proposta de trabalho que pode ser possível nesse momento: o atendimento online.

Outros conflitos como mencionei aqui, também é de suma importância que se busque ajuda, porque como foi dito, é anterior ao covid-19 e precisam ser escutados.

Outra vertente do medo é aquela convicção de que evitamos a todo custo: Somos mortais! Só esse único pensamento pode desencadear uma série de outros pensamentos que podem nos levar a dois caminhos, sendo um deles, patológico e o outro saudável: o pânico e o cuidado. O pânico nos confunde ainda mais, nos paralisa, portanto, é o cuidado que traz junto uma responsabilização comigo mesmo e com os outros, tornando-se o melhor caminho para lidar com tudo isso.

Esse ponto me leva a outro ainda mais importante: o pensar coletivo. Estamos isolados conjuntamente. Todo mundo está vivenciando a pandemia, incluindo aqueles que a negam. Todo mundo apresenta suas dificuldades em diferentes níveis. Ser solidário uns com os outros precisaria ser maior do que o vírus Covid-19. Ou seja, precisamos todos nos infectar por um vírus maior: o da solidariedade.

Por fim, como o trágico sempre nos revela, há algo que podemos pensar e retirar dessa experiência. O que eu vou fazer com o restante da minha vida? E essa questão que trago a vocês não é o de desejar mais coisas para as vossas vidas, mas o de desejar melhor. Se eu desejo viver mais, por exemplo, posso reformular isso para viver conforme o que eu desejo. Se eu não sei isso, o que, aliás, é difícil mesmo de saber, e, estamos ainda mais confusos agora, talvez seja o momento de repensar, e procurar desvendar, decifrar, ainda que com ajuda profissional, o que eu desejo, qual é a minha verdade. 

A vida é um sopro! Se antes não nos dávamos conta disso, agora isso se faz em ato. 2020 talvez nos passe como um relâmpago. Talvez seja o ano em que podemos dizer que decidimos viver melhor a partir daquilo que tínhamos ou com novas escolhas. O tempo se gasta a cada dia, e, aprendemos em meio a uma tragédia que não dá mais para perdê-lo de qualquer jeito. 

 O que você vai fazer com o restante da sua vida? 

Simony Ornellas Thomazini


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.