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A grama do vizinho é sempre mais verde


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 03/07/2020
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O drama da maioria das pessoas consiste numa neurose que está pautada em um ideal. Ou seja, acredita-se que irá encontrar no outro aquilo que ele gostaria de ser e ter. Às vezes isso ocorre no plano consciente mesmo, e, noutras vezes, isso se dá inconscientemente. Mas, o drama é sempre esse: encontrar no outro aquilo que supostamente eu não sou ou não tenho.

A grama do vizinho parece sempre mais verde do que a minha.

Para explicar como isso acontece e por que, irei trazer dois conceitos da psicanálise chamados: Eu Ideal e Ideal do Eu. 

O Eu Ideal está localizado no terreno da imagem, portanto, é da ordem do imaginário. Seria uma autoimagem idealizada, isto é, é a maneira como gostaríamos de ser vistos pelos outros. E dentro dessa dinâmica, existe uma rivalidade. Eu rivalizo com esse outro que tem aquilo que eu acho que eu deveria ter ou ser. 

O Ideal do Eu é aquilo que em psicanálise chamamos de significantes. Esses significantes, são palavras vindas daqueles que fazem a função materna e paterna. É aquilo que eles gostariam que eu fosse. E somos falados antes mesmo de nascer. Reparem como isso acontece com um casal que engravida. Antes mesmo do filho nascer já falam e idealizam como essa criança deverá ser. “Eu gostaria que ele fosse jogador de futebol”. “Eu queria que ela fosse bailarina”. “Eu gostaria que ela tivesse os olhos claros do meu avô”. E com isso, desejam coisas, características, profissões, e etc, antes mesmo de uma criança vir ao mundo.  E isso é saudável, é muito importante que isso aconteça. Uma criança deve sempre ser investida com afetos, antes mesmo dela nascer. O sofrimento consistiria posteriormente, quando se fica preso a esses ideais. Portanto, serão esses ditos que formarão nosso Ideal do Eu. 

Dessa forma, o Ideal do Eu, são as palavras que nos constituem por aqueles que ocuparam a função materna e paterna. São esses ditos que desenham e esculpem a imagem, isto é, o nosso Eu Ideal. 

E no meio disso tudo, há ainda uma terceira instância. E é essa que nos causa sofrimento. Há algo que em psicanálise chamamos de supereu. E é o supereu, que nos faz correr incansavelmente em busca desses ideais. Ele é uma espécie de chicote, pois fica nos comparando o tempo todo aos outros, a esses ideais, acreditando que a grama do vizinho é sempre mais verde do que a nossa. E ele nos diz assim: “Tem que chegar mais perto”. “Você não tem isso ainda”. “Você não conseguiu ser daquele jeito ainda”. “Tem que ser mais isso, mais aquilo”, fazendo a gente ficar nesse sofrimento infindável terrível, porque isso consiste num ideal, e, como todo ideal, nunca será alcançado. E pior, é um ideal do Outro! Que Outro? Aqueles que ocuparam a função materna e paterna.

O drama da grama do vizinho ser mais verde é justamente esse: são esses outros nas quais elegemos como aqueles que poderiam possuir aquilo que não temos e somos com o propósito de sermos mais amados.

Como resolver esse drama? Muita terapia, ou, como dizemos em psicanálise, muita análise. É só com ajuda profissional que se pode dizer sobre a sua história e a maneira como você conta sobre você mesmo. E sobre isso, sempre há muito que se falar. 

Simony Ornellas Thomazini


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