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Exposição fotográfica “Rosângela Figueira: Oásis INFOCO”


Por: Especial para JN
Data: 14/04/2022
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Entre os dias 18 de abril e 06 de maio de 2022 ocorrerá a exposição “Rosângela Figueira: Oásis INFOCO”, na Biblioteca do Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus Paranavaí. A exposição contará com 80 fotografias sobre o Jardim Oásis, de Paranavaí, que mostrarão desde a instituição de ensino IFPR, até plantas, bichos e flores daquele bairro. Esse trabalho é resultado de sete anos de cliques, de muita paciência e amor pela natureza, e estará disponível para visitação das 08 às 22 horas. Uma observação: as fotografias deste texto são de autoria da fotógrafa.

Mas, afinal, quem é Rosângela Figueira? É com muito orgulho que digo que o sobrenome não é coincidência: ela é a minha mãe, e tenho que confessar, desde já, que escrever sobre alguém tão importante para mim é emocionante.

Tromba d’água registrada a partir do Jardim Oásis

 

Minha mãe sempre foi a memorialista da família. Se hoje possuímos diversas recordações armazenadas em álbuns, isso se deve ao seu cuidadoso trabalho. Lembro-me que, quando criança, eu não gostava de ser constantemente fotografado, mas ela, pouco se importando com birras, fotografava mesmo assim. O mesmo se passou com a minha irmã, Fabiana, e com outras pessoas de nossa família. Se hoje posso lembrar com tanta nitidez do passado, e isso é fundamental para mim, historiador, devo à minha amada memorialista.

E como que começou o gosto pela fotografia? Minha mãe afirma que ele nasceu há décadas, quando ela era criança. Rô Figueira, como gosta de ser chamada, admite: “Sempre gostei de tirar fotos, mas, era difícil, pois eu tinha que comprar os filmes, com 12, 24 ou 36 poses, e muitas vezes as fotografias ficavam horríveis.” Mas, como tudo na vida, o aperfeiçoamento só ocorre mediante muita paciência, no caso, mediante muitos e muitos cliques.

Borboletas

 

A minha mãe tem uma predileção por tirar fotos da natureza, por mais que também goste de fotografar pessoas, como os seus parentes, filhos e neto (Eron). É na natureza que ela realmente se descobriu fotógrafa, observando o que pode parecer imperceptível, e também vendo o que está às claras, mas que poucos dão o devido valor. É o caso de contemplar o nascer e o entardecer, em suas belas cores, e de ver a natureza dia a dia se multiplicar e se renovar, apesar de muitas vezes a ação humana destruí-la. Araquém Alcântara, fotógrafo do Brasil, diz que a Amazônia tem o potencial para alimentar boa parte dos brasileiros e do próprio mundo, mas, desde que ela não seja destruída. Essa mesma preocupação eu percebo em minha mãe, que chora quando vê o homem destruindo e tacando fogo na natureza. Será que o ser humano não percebe que isso é uma autodestruição?

Rô Figueira bem sabe que fotografar nada tem de glamour, antes, de paciência e de amor ao que se faz. Fotógrafos como Sebastião Salgado e Araquém Alcântara, admirados pela minha genitora, por mais que tenham exposições e sejam reconhecidos internacionalmente, sabem bem que o trabalho de campo do fotógrafo não tem nada a ver com palmas e estrelato. É um trabalho exigente, que requer total dedicação de quem a ele se dedica. É de Salgado as palavras a seguir, em seu livro “Da minha terra à Terra”:

“Quem não gosta de esperar não pode ser fotógrafo. Em 2004 cheguei à ilha Isabela, em Galápagos, aos pés de um belíssimo vulcão chamado Alcedo. Deparei-me com uma tartaruga gigante, enorme, de no mínimo duzentos quilos, da espécie que deu nome ao arquipélago. Cada vez que me aproximava, a tartaruga se afastava. Ela não era rápida, mas eu não conseguia fotografá-la. Então refleti e pensei comigo mesmo: quando fotografo seres humanos, nunca chego de surpresa ou incógnito a um grupo, sempre me apresento. Depois me dirijo às pessoas, explico, converso e, aos poucos, nos conhecemos. Percebi que, da mesma forma, o único meio de fotografar aquela tartaruga seria conhecendo-a: fiquei agachado e comecei a caminhar na mesma altura que ela, com palmas e joelhos no chão. A tartaruga parou de fugir. E quando se deteve, fiz um movimento para trás. Ela avançou na minha direção, eu recuei. Esperei um momento e depois me aproximei, um pouco, devagar. A tartaruga deu mais um passo na minha direção e, imediatamente, dei mais alguns para trás. Então ela veio até mim e se deixou observar tranquilamente. Foi quando pude começar a fotografá-la” (SALGADO, 2014, p. 9).

Árvore seca no pôr do sol

 

Ai de quem achar que pode se aproximar da natureza e dos bichos de qualquer jeito: nada captará sobre a essência da vida. Tendo isso em vista, minha mãe deita-se, ajoelha-se para conseguir uma foto. Quando alcança o seu objetivo, minha mãe sente que atingiu a plenitude do dia; quando ela vê o nascer e o pôr do sol, ela se sente completa e até se emociona por tamanha dádiva. Alguém pode pensar: “Os dias são todos iguais. O sol se levanta e se põe todos os dias.” É verdade, há essa repetição cósmica, porém, ela não se dá da mesma forma, ou, ao menos, não se dá assim a quem se atenta para a vida. A fotografia revela que cada dia é um dia, que cada animal é um animal e que cada planta é uma planta. Nada é igual e essa é a beleza da existência.

Tudo o que a minha mãe faz não é com câmera profissional e nem com lentes para as mais diversas distâncias. Seu companheiro é um simples celular Samsung. Porém, se engana quem acreditar que as fotos não ficam belas. Alguém também poderia dizer: “A opinião de filho não conta.” A essa objeção, eu digo: “Vá conferir, estarei no IFPR para te receber.” Literalmente, estarei lá para a recepção, pois sou professor no Instituto há 10 anos e será uma satisfação receber a comunidade externa para algo tão importante para mim e para a minha família. No entanto, essa importância não é só para meia dúzia de pessoas, mas para a população como um todo, já que, por meio das fotografias, toda uma história é contada, no caso, a de Paranavaí e a do Jardim Oásis, em especial. Que esse trabalho possa inspirar outros Paraná e Brasil afora.

Se fosse para elencar algo em especial do apreço da minha mãe é por árvores secas. Ela diz: “Eu vejo histórias no que parece estar sem vida. Eu até as toco, pois tenho carinho por elas.” Essa percepção bem que poderia ser uma metáfora para o ser humano: muitos desprezam o velho quando, na verdade, neles há vida, vida com abundância.

É realmente preciso delicadeza para fotografar, de modo que a fotografia se torne arte, uma vinculação com o sagrado, com Deus, e não só algo que existe sem qualquer importância. Nesse sentido, há profunda diferença entre a fotografia que busca preservar a vida da que é puro exibicionismo.

Em minha casa, sempre tive contato com álbuns fotográficos. Viria daí o meu gosto pela história? É difícil discordar. Boa parte dos álbuns foi feita exclusivamente pelos cliques da minha genitora. Dói ver fotos dos meus avôs Waldemar e Adelino e do meu pai, Luiz Carlos, pessoas que nos são importantes e que se foram. Mas, ao mesmo tempo, eu posso senti-los novamente e dizer: “Essas são as minhas raízes.” Eu, Figueira, possuo raízes profundas e elas se mostram, um pouco, na arte da minha mãe.

Tenho que contar a você, caro leitor, mais uma história. Quando minha mãe começou a fotografar com o celular, as suas fotos não eram nada boas, na maior parte das vezes saíam tortas e desfocadas. Por causa disso, a apelidei de “Sebastiana Torta”, em referência irônica ao mestre da fotografia. Contudo, devido à sua persistência, suas fotos ficaram muito boas, a ponto de que hoje a chamo de “Sebastiana Ex-Torta” e as suas fotografias, de tempos em tempos, até são exibidas na Rede Paranaense de Comunicação (RPC), como a de uma imponente tromba d’água. De reconhecimento em reconhecimento, de melhoria em melhoria, minha mãe compôs um conjunto de imagens que são um misto de fotografia e poesia que muito a orgulha e que, também, nos orgulha. Parte de seus trabalhos é compartilhada no Instagram, que pode ser assim encontrado: @ro_figueira03.

Rô Figueira em plena atividade

 

Como este é um texto que mistura fotografia e história, preciso dizer que o Instagram também é um companheiro da minha genitora. Uma de suas amigas mais antigas, Lena, gostando de suas fotografias, incentivou a minha mãe a compartilhá-las na internet. Rô Figueira, atenta a isso, buscou ajuda para aprender a mexer com essa rede social, e minha irmã e minha esposa a ajudaram. Hoje, o seu Instagram possui mais de 500 fotografias e já foram vistas por pessoas de vários países.

Cheguei ao final deste texto, o que me incomoda, pois eu sei que disse pouco do que era possível e preciso dizer. No entanto, que esse meu incômodo possa ser compensado convidando-os para a exposição de minha mãe. Rô Figueira teve apenas dois filhos, mas, por causa de seu amor pela fotografia, ela diz que vê sua arte “como um terceiro filho”. Portanto, caro leitor, venha conhecer minha família, venha conhecer as loucuras da minha mãe, venha contemplar um pouco das belezas da vida. É preciso passar adiante as boas coisas. Nas palavras de Rô Figueira: “O Jardim Oásis é um verdadeiro oásis.”

Endereço da Exposição: IFPR Campus Paranavaí – Rua José Felipe Tequinha, 1400 – Jardim das Nações | Paranavaí – PR – Brasil | CEP 87703-536

 

Instagram da fotógrafa: @ro_figueira03


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