A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Um olhar de pesquisador


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 10/08/2023
  • Compartilhar:

É difícil, no universo das pesquisas, encontrar um objeto intocado. Uma tese de doutorado, por exemplo, que traz em si alguma pretensão e até exigência de ineditismo, na verdade, dificilmente é inédita. Em certas ocasiões, o ineditismo se dá em apenas um parágrafo ou em uma página. Todavia, não significa que com isso, a saber, com a falta de ineditismo, não existe uma tese, pois esta é muito mais uma profunda discussão/avanço/crítica sobre determinado assunto do que um achado inédito.

A título de exemplificação, cabe um caso dentro das humanidades. Quando se é proposto um trabalho sobre adolescência/juventude, não há como falar desse período da vida como uma “coisa em si”, deslocada do que faz ou do que pensa um adolescente. Não há nada no interior do indivíduo daquela faixa etária (ou de qualquer outra) que o pesquisador possa dizer: “eis aí a essência”. Nesse registro, um estudo sobre a adolescência deve se focar em hábitos e pensamentos correlacionados a esse período da vida. Apenas uma observação: por mais que possam existir peculiaridades entre adolescência e juventude, como a faixa etária, as tomarei como sinônimos nesse texto, para não precisar distinguir o tempo todo um termo do outro.

Como consequência direta do parágrafo anterior, algo que é até uma obviedade, todo estudo sobre puberdade, namoro, escola, alunos e professores, primeiro emprego, desobediência, medo, ansiedade, pais e filhos, e força física, direta ou indiretamente toca na juventude. Logo, tanto mais será compreendido esse período da vida quanto mais forem estudados os seus entornos.

Nos dois parágrafos anteriores foi relacionada a juventude à faixa etária, porém, às vezes ela é um estado de espírito. Ainda assim, o mesmo pode ser dito quanto a esse segundo exemplo se comparado com o anterior (do período etário), visto que os entornos são sempre importantes. Eis questões que devem perpassar o universo do pesquisador: como se caracteriza o estado de juventude? Como que o indivíduo jovem (mesmo tendo, por exemplo, quase cem anos) se relaciona com a vida? A partir de posturas vigorosas, cheias de energia física (às vezes relativa) e mental (mais efetiva)? A partir de uma mente sempre aberta, disposta ao novo? Também se observa nessa situação que a pretensa “coisa em si”, no caso, a pura juventude, não existe, ela só existe se relacionada com determinados assuntos e contextos.

Em síntese, a dica a todo pesquisador, de qualquer nível de estudo, é que pesquise tudo o que conseguir sobre o que se propôs a estudar e perceba que há uma ligação, ora mais forte, ora mais fraca, sobre certos temas. Nada está solto no ar. Tanto mais a bibliografia for conhecida, mais a pesquisa será rica. O mero trabalho erudito, no entanto, não é suficiente por si só para uma boa pesquisa; é o meio, mas não o fim. O salto de qualidade está na criatividade, no olhar distinto do pesquisador, que o colocará além da reprodução do que já foi dito. No entanto, criatividade não é sinônimo de arrogância, de autossuficiência. Ciência não rima com autossuficiência. A criatividade é o cerne de uma boa pesquisa, logo, de uma boa tese e também de um bom artigo.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.