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O cuidado com os registros


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 14/07/2020
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Nunca devemos duvidar do valor das nossas próprias anotações e dos nossos cadernos. Não significa, é claro, que as anotações não podem ser de forma digital, elas podem, desde que tenham por característica a nossa identidade.

Há muitas facilidades em nossa sociedade do consumo e do conhecimento, porém, as facilidades muitas vezes não se traduzem por mais conhecimento, pois a dispersão também pode ter aumentado consideravelmente. O estudante e a pessoa formada podem ter uma estante repleta de livros ou uma pasta no computador com uma vasta biblioteca, mas todo esse material, se não for absorvido, verdadeiramente ruminado, torna-se um produto qualquer.

Não custa trazer um exemplo para a presente discussão. O gênio Leonardo da Vinci, segundo atesta Walter Isaacson, deixou mais de sete mil e duzentas páginas escritas, entre invenções, pinturas e estudos. O biógrafo diz textualmente:

As mais de 7.200 páginas que sobreviveram até hoje provavelmente representam um quarto do que Leonardo de fato produziu, mas isso é uma porcentagem maior, após quinhentos anos, do que a de e-mails e documentos digitais de Steve Jobs dos anos 1990 que ele e eu conseguimos recuperar. Os cadernos de Leonardo são nada menos do que uma valiosa e inesperada herança que fornece registros documentais de sua criatividade aplicada (ISAACSON, 2017, p. 128).

Por analogia, convém estender o questionamento: quem de nós, pessoas do século XXI, possuímos guardadas sete mil páginas? Quem de nós tem um zelo tão grande pelo que é dito? O professor Attico Chassot tem por uma de suas preocupações o cuidado com os textos e com a perda que tem sido efetuada a respeito na contemporaneidade, daí o seu alarme: “Salvem nossos escritos!”.

O estudante, seja ele de ensino médio ou da graduação, tão logo se tornará um profissional e em meio ao dia a dia não haverá tempo para refazer leituras. Se a pessoa não teve um zelo por guardar anotações, o seu trabalho terá uma dificuldade grande. Às vezes a pessoa só precisa de uma frase de um livro inteiro, e esta foi dita por um professor em uma aula ou em um bate-papo. Registrar o conhecimento é mais do que um preciosismo ou algo antiquado, é uma questão vital a todo profissional.

Walter Isaacson. Leonardo da Vinci. São Paulo: Intrínseca, 2020.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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