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O cansaço Nietzsche


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 21/03/2024
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Logo no início da obra “Schopenhauer como educador”, de Nietzsche, o prefaciador italiano Giorgio Colli alerta: “Este não é um livro relaxante, não se dirige àqueles que leem para repousar. E nem mesmo a quem lê para aumentar seus conhecimentos” (COLLI, 2018, p. 7). Todavia, apenas a título de esclarecimento, um livro não ser relaxante, como o destacado, nada tem a ver com ser enfadonho, mas com ser exigente, algo que é também dito por Colli: “É um escrito destinado a quem ainda tem qualquer coisa para decidir, a respeito de sua vida e de sua atitude face à cultura.” (COLLI, 2018, p. 7).

É possível dizer que a obra de Nietzsche, como um todo, exige do leitor mais do que a mera leitura, pois não basta passar os olhos sobre o papel, é preciso passar a vida a limpo. Uma leitura preguiçosa não resiste às duras críticas de Nietzsche à pressa. Por outro lado, uma leitura que trata Nietzsche sob o prisma do conhecimento pelo conhecimento (eruditismo), também não encontra guarida, pois Nietzsche é um ferrenho crítico do conhecimento que não serve à vida (eruditismo).

Há fórmulas para ler Nietzsche, talvez atalhos? Não, ainda que de tempos e tempos surjam livros com tal objetivo. Não significa que não existam bons livros de introdução ao pensamento do filósofo, pelo contrário, mas quem quiser conhecer Nietzsche (“como qualquer filósofo”, alguém diria) é preciso ir direito às fontes primárias e deixar que o corpo sinta o peso e a leveza dos escritos.

Peso porque não é das tarefas mais prazerosas – ao menos no princípio – ler o pensador, algo que Jacques Derrida alertou em seu livro “Esporas, os estilos de Nietzsche”. Nietzsche não raro espanta o leitor (esporas) para ver se ele de fato resistirá. Em contrapartida, há também leveza no filósofo, pois ele fala da vida e nos convida (intima) a nos tornarmos nós mesmos. “Schopenhauer como educador” é a história do vir a ser de Nietzsche, e a forma com que ele pôde sair do fardo do conhecimento pelo conhecimento. A filosofia deve estar a favor da vida.

Portanto, o cansaço de Nietzsche é semelhante ao produzido por um professor que exige do aluno tudo que ele tem para entregar. Se o aluno pode praticar sete horas de exercícios, não deve se contentar com menos e deve buscar sempre o mais, a superação. Isso tudo cansa, mas ao final (que final, afinal?) a pessoa sai outra, fortalecida.

 

Giorgio Colli. Prefácio. In: Friedrich Wilhelm Nietzsche. Schopenhauer como educador: considerações extemporâneas, 3ª parte. São Paulo: Mundaréu, 2018.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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