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Concursos e ansiedades


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 26/11/2020
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Quantas inquietações pairam a mente de quem está para fazer um concurso? Tal questão ocupou e ocupa o meu universo existencial, seja porque já passei por concursos, seja porque constantemente conheço pessoas que farão concursos.

            Em 2009 eu era aluno de graduação em História e jogava futebol em um campinho que era possível acompanhar a construção do IFPR. Eu costumava dizer a alguns colegas:

- Tomara que abra concurso só quando eu me formar.

            O IFPR de Paranavaí começou as atividades em 2010, quando eu estava no quarto ano do curso, mas só abriu vaga para História no final de 2011, quando eu estava concluindo o primeiro ano do mestrado. Porém, antes mesmo de abrir concurso para Paranavaí, abriu edital para o Instituto Federal de Roraima (IFRR), campus Caracaraí, e eu quase me inscrevi. Só não fui prestar os exames porque simultaneamente abriu onde eu morava e não era possível concorrer nos dois certames.

            As provas do concurso do IFPR eram exigentes, como costuma ser um concurso de magistério federal. Para a minha sorte, um conhecido que já trabalhava como docente no Instituto, disse logo no início do ano que provavelmente até o final de 2011 abriria uma vaga para a minha área. Enquanto não abriu o edital, eu pude estudar de forma antecipada. O edital foi aberto em setembro de 2011 e as provas foram em três dias de dezembro.

            A concorrência estava de quinze pessoas por vaga, e eu, mestrando, inexperiente, queria ao menos ser aprovado na primeira fase do concurso, pois assim eu saberia que estava no caminho certo. Para a minha felicidade, fui aprovado em todas as etapas, da prova escrita sobre um tema específico (“A transição do Brasil Império para a República”), até a prova didática (“As grandes navegações e o imperialismo português”), passando pela entrevista, currículo e memorial descritivo.

            Durante a prova do concurso eu estudei tanto que fiquei afônico. A prova didática foi um terror, afinal, eu estava sem voz, mas, mesmo assim, tudo deu certo. Em janeiro de 2012 fui a Curitiba levar a documentação para ser empossado e em 31 de janeiro desse mesmo ano comecei a lecionar no IFPR.

 

            Olhando em retrospecto, não é tarefa das mais simples passar por um concurso. A pessoa quer ao menos ser classificada na primeira fase para que a sensação de estar no caminho certo exista. Além disso, todo candidato treme só de ver o edital e, em especial, quando vê a concorrência. Por mais errado que seja pensar em termos de números, tal pensamento é praticamente inevitável, ainda mais para quem não tem um emprego seguro ou que deseja trocar de trabalho.

 

 

Já que falo tanto do IFPR, não custa apresentá-lo. Fachada.

Bloco didático e ginásio poliesportivo

Quando a pessoa enxerga a concorrência de 200 por vaga ela chega a pensar: “Será que conseguirei ficar entre os 8 que irão para a segunda fase?”. Tenho um amigo que, diante dessa condição de ansiedade e por ser afrodescendente, chegou a ficar com medo se seria negado concorrer como afrodescendente (no caso, por cotas). Tudo isso serve para ilustrar inseguranças normais, mas que não podem dominar o profissional.

            Já participei de algumas bancas como membro efetivo e assisti outras como suplente. Dentre essas bancas pude dividir os trabalhos com um excelente professor, Marcello de Mello Rangel, que veio a se tornar meu supervisor de pós-doutorado, e com ele pude aprender bastante no que tange a bancas. Dizia o professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que diante de uma prova didática não é preciso zerar candidatos ou deixar as notas próximas de nada. Essa é, segundo o professor, uma estratégia que pode enfraquecer o candidato enquanto ser humano e que em nada contribui para quem será, de fato, aprovado no certame. Com tal ideia, Marcelo Rangel ao mesmo tempo aprovava o melhor candidato e não desestimulava os demais.

            No entanto, situação diversa pode se dar com a pessoa que já é concursada e que resolve fazer um segundo concurso. Ela pode ficar mais tranquila e, quem sabe, não pensar em termos de concorrência. O peso é menor entre quem já é concursado e quem não é, o que é natural.

            A experiência diz, apesar de não ser fácil, que nada substitui a pessoa fazer a própria parte. Se o edital tem dez tópicos ou trinta, é preciso estudá-los. Se o concurso tem 100 ou 200 candidatos, a pessoa só precisa de uma vaga, até porque muitos concursos só têm uma vaga. E que, por fim, se não houver êxito naquele momento ao menos aprendizado e experiência foram adquiridos, o que são requisitos para a vida como um todo, o que contempla novos concursos.

 

Dr. Felipe Figueira

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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