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Como eu leio?


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 03/08/2023
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Desde 2013, quando comecei a ministrar a disciplina de Políticas Públicas e Fundamentos Educacionais, trabalho o livro “Educação e Emancipação”, de Theodor Adorno, especialmente o capítulo “Tabus acerca do magistério”. Já li esse capítulo algumas vezes, estimo que umas cinco ou seis, e a cada leitura novas ideias surgem, deixando minhas anotações (fichamentos) cada vez maiores.

Geralmente, todo texto que leio eu faço fichamento, que se constitui por destaques principais que quero me lembrar, sendo que esses vêm na forma de “copia e cola” das partes mais importantes, seguidos de comentários a essas partes. Esses fichamentos acabam se tornando as bases das minhas aulas, o que significa que em regra elas são resultado de leituras e, consequentemente, de muitas anotações.

A vida de um professor, como é de conhecimento comum, acaba por ser muito corrida, já que é do ofício docente preparar aulas, ministrá-las, corrigir avaliações, participar de reuniões, estudar, escrever, orientar alunos, conversar com pais, integrar comissões e cargos administrativos, avaliar trabalhos, participar de congressos, etc. Diante dessa série de atividades, o professor acaba por não ter tempo para ler um texto toda vez que for ministrar uma aula, uma disciplina, o que faz com que ele necessite ter várias anotações como base. Para a minha sorte, tenho inúmeros fichamentos à minha disposição. Quem trabalha com o estudo usualmente não tem o tempo necessário para estudar, o que é trágico.

Voltando ao caso do texto “Tabus acerca do magistério”, esse é um trabalho que de tanto eu citá-lo ele já faz parte de mim, como uma espécie de membro do meu corpo. Isso pode ser perigoso, pois, às vezes, o professor/pesquisador pode acreditar que está a falar de determinado pensador/escritor, quando, na verdade, está falando de algo além (ou aquém) do estudioso em questão. Dito em outros termos, a atividade docente, e a atividade intelectual como um todo, nunca está dada por completo, e mesmo textos que a pessoa tem por consolidados podem carecer de revisões.

Logo se percebe pelas considerações aqui trazidas que ler é uma atividade um tanto frágil e traiçoeira, sendo que o sujeito, ainda que sob uma leitura cuidadosa, pode cometer equívocos e ter inseguranças. Qual a saída, se é que ela existe? De tempos em tempos ler/rever um texto ou outro e colocar a si próprio em desconfiança: o pesquisador demasiado confiante pode cair no próprio laço.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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