Meu pai e o caos estudantil
São poucas as pessoas que realmente entendem o que é estudar. Quanto a isso, meu pai era paradoxal: ora me apoiava integralmente, ora não apreciava os meus hábitos de estudante.
Por mais organizado que eu seja com os estudos, o caos sempre me acompanhou. Eu sempre fui organizado, porque se eu me dispusesse a estudar algum assunto, mais cedo ou mais tarde o estudaria e não deixaria as tarefas para a última hora. E o caos sempre me acompanhou, pois sou desorganizado. A minha escrivaninha, por exemplo, é um caos, e eu estudo quando consigo; não tenho hábitos rígidos (este texto o escrevo próximo às duas da manhã).
Meu pai, que não tinha o ensino médio completo, detestava que eu estudasse de madrugada. Quando ele ia ao banheiro e via meu quarto aceso, a bronca era certa, e as batidas na porta do meu quarto também. Na hora eu apagava tudo, depois religava, ou simplesmente dizia para ele me deixar quieto estudando.
Por outro lado, meu pai e minha mãe, eram os primeiros a apoiar meus estudos. Eu podia esperar dinheiro do meu pai a toda semana, seja para comprar livros, seja para fazer cursos. E eu sabia que ele dizia para os seus amigos que gostava do meu empenho. Mesmo após a sua morte, em novembro de 2013, alguns conhecidos do meu pai ainda comentam o orgulho que ele tinha por ter um filho professor. O fato é que meu pai foi um grande apoiador dos meus estudos.
A questão é que o trabalho chamado estudo destoa da maioria dos outros trabalhos, como o que o meu pai exercia, vendedor de pneus e caminhões. Ele acordava às seis, ia ao serviço às sete, voltava para almoçar às onze, concluía o serviço às seis e dormia às nove. Quanto a mim, eu tinha horários completamente diferentes, o que lhe incomodava sobremaneira. Além disso, por um período de tempo longo, estudar não traz retorno material, e isso não deixa de ser o contrário da lógica da produtividade cada vez mais precoce. Apesar desses contratempos, com o passar do tempo tudo se ajeitou, total ou parcialmente, e os conflitos com o meu pai acerca de horários foram superados. Ele passou a compreender um pouco do caos que envolve o estudar, ou, ao menos o meu caos.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.