Dois pelo preço de dez
Nunca tive muito dinheiro. Às vezes, nem pouco dinheiro eu tinha. Mas, o dinheiro para comprar o pão de cada dia sempre tive. Na verdade, vez por outra não tive como pagar o pão no dia, porém, mesmo assim comprava e depois arcava com os juros.
Em posse de cinco reais fui até a padaria comprar dez pães. Para mim, pão é de uma utilidade enorme, vale tanto para o hoje quanto para o amanhã e até para o depois e depois de amanhã. Pão seco? Possui mil e uma serventias. Com pouco é possível fazer muito: com uma pitada de sal ou com uma colher de açúcar os pratos facilmente se diversificam.
Chegando à padaria, disse ao Seu Cícero, dono do estabelecimento e o responsável pela produção de tudo:
- Quero dez pães, por favor.
Entreguei os cinco reais, vi o Seu Cícero colocar os pães no pacote e, depois, os retirou. Fiquei curioso para entender o porquê ele tirou os pães. Ele saiu da minha frente e foi até uma sala no fundo. Pensei: “Foi buscar pães quentinhos”. Porém, ele voltou de mãos abanando e me entregou a sacola quase vazia.
- Seu Cícero, aqui só tem dois pães.
- Eu sei. Mas, por que você precisa de dez pães? Dois bastam.
Achei interessante o raciocínio do padeiro, porque na minha casa volta e meia minha esposa e eu nos descuidamos e o pão embolora. Economia é sempre bem vinda. Uma vez que eu levaria menos pães, disse:
- Então me devolve os quatro reais.
- Não. Você não precisa de dez pães, mas eu preciso dos cinco reais.
Pensei: “vou contender como padeiro? Vou mover uma ação contra ele, já que sou quase formado em Direito?” Voltei para casa, com os dois pães. Um eu comi, o outro minha esposa comeu.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.