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Aprender sem aprender


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 13/07/2023
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Um dia resolvi fazer um curso sobre produção cinematográfica. Era um curso de introdução, o que me deixou duplamente animado: primeiro porque eu gosto de cinema, e segundo porque, sendo uma introdução, eu próprio poderia ser iniciado em algumas técnicas.

O curso teve três horas de duração e eu aprendi muito sem aprender. Aprendi muito, pois tomei conhecimento de questões que nunca imaginei; e sem aprender, porque eram assuntos para mim tão complexos que era impensável eu aprender em tão pouco tempo.

Dentre os temas do workshop estavam as características das lentes, tais quais: diafragma, foco, resolução, distorções, aberração cromática, contraste e estabilização; além de tais temas, soube da existência do “stop”, que é um duplicar a intensidade da luz que chega ao sensor. Também soube da existência do “ganhar um stop”.

Quem ministrava o curso dizia, com toda propriedade e exemplos, que a câmera deve ser uma escolha do fotógrafo; a equipe e o fotógrafo são as soluções para um projeto, e não a câmera; e que são os fotógrafos que produzem a imagem. Tais esclarecimentos colocavam por terra o fetichismo da câmera, pois é possível fazer muito com pouco, o que não exclui a necessidade para certos projetos de câmeras e lentes com mais recursos.

Fiquei pensando ao longo de todo o tempo: o que afinal eu sei de cinema? O que afinal eu sei de filmes? O que afinal eu sei de fotografia? Talvez, só talvez, eu saiba do enredo que é narrado, porém, esse enredo pode facilmente ser distorcido, reinterpretado, o que me gera uma nova pergunta: o que eu sei afinal de enredo?

É importante a pessoa participar de eventos sobre assuntos que ela gosta ou julga conhecer um pouco, e igualmente importante é ela se ver perdida e saber que ninguém é o centro do mundo. É valioso chegar à conclusão de que o que é visto às vezes não é enxergado, bem como há conteúdos por trás do que é transmitido que a pessoa pode se passar facilmente por uma marionete. Com tais condições estou abrindo portas ao fatalismo da ignorância? Não, afinal, há muito saber no não saber, e é possível aprender sem aprender.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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