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Sorria


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 29/09/2022
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Recentemente, em entrevista dada no Brasil, Viola Davis, a estrela do filme que teve destaque nessa coluna na última semana (caso não tenha lido, o filme era A Mulher Rei), falava sobre como é difícil ser profissional do cinema em Hollywood. Ao longo de sua conversa ela explicitou que um alto índice de profissionais dessa área estão desempregados e que ela, particularmente, sentia-se abençoada por ter tido oportunidades que catapultassem sua carreira. Assim como Viola, inúmeros profissionais da Sétima Arte estão atentos, à espreita, esperando o momento certo para agarrar com unhas e dentes a tão sonhada oportunidade. Para o diretor Parker Finn essa oportunidade acabou de chegar. Conhecido por dirigir alguns curtas e ganhar certo reconhecimento por isso, ele acabou de receber a oportunidade de mostrar do que é capaz por meio da grande estreia dessa semana, o filme de terror Sorria.

Vale a pena destacar que Hollywood, na maioria das vezes, é bem cruel com os seus estreantes e dar espaço, oportunidade e orçamento não é o mesmo que ter total liberdade criativa, pois nessas situações produtores e até mesmo os estúdios acabam intervindo ora de forma positiva, ora de forma negativa na obra dos estreantes. Eu diria que isso foi bem o que aconteceu com Parker Finn e o seu Sorria, mas, de qualquer forma, a obra ainda é digna o suficiente para receber destaque na coluna de hoje.

Escrita de dirigida por Finn, a história é muito original e resgata um tipo de terror quase orgânico, aquele que sugere algo e depois mostra o que sugeriu, ao mesmo tempo em que cria um precedente para que o público espere algo que depois não acontece. Clássicos como Halloween já faziam isso no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, agora Parker Finn revisita essa prática de forma muito eficaz e faz de seu filme uma obra realmente capaz de assustar e arrepiar.

Construído em cima de uma poderosa metáfora sobre saúde mental, a história leva o expectador a duvidar constantemente sobre a natureza dos fatos ocorridos em tela. Seria o resultado de uma série de incidentes pós-traumáticos na vida de uma pessoa workaholic (viciada em trabalho) ou seria algum tipo de maldição que estaria assolando a protagonista? Essa premissa somada a um clima constante de tensão e jumpscares que vão além dos sustos já tradicionais — o diretor utiliza até mesmo áudios como forma de gerar medo, tensão e susto —, são uma boa receita de sucesso.

Outro ponto extremamente positivo de Sorria é seu trabalho de câmera. São ângulos, sequências panorâmicas ou cenas com a câmera em movimento que fazem com que o expectador espere encontrar algo, ou que aguardem a câmera mostrar esse algo. Quando a câmera para, o expectador já sabe que esse algo irá se materializar e que a ansiedade e o temor gerados apenas anteciparam o que será exposto de uma forma ou de outra. Ponto para o diretor.

Além disso, a ideia de gerar terror a partir do rosto das pessoas, ou melhor, de seu sorriso, é muito criativa. Transformar um símbolo da felicidade em algo que possa gerar medo é na verdade desnudar as pessoas das máscaras que usam enquanto sorriem. Afinal muitos sorrisos acabam escondendo intensões escabrosas. Na atualidade, pós pandemia, mais que nunca, a proximidade se tornou um verdadeiro horror para qualquer pessoa, imagine quando isso é levado ao limite. Sorria é um filme feito para bater de frente, por isso os atores se dirigem em suas falas diretamente para câmera, tudo tem proporções exageradas, os olhos, rostos e inevitavelmente, o sorriso, que é o mais medonho de todos. Com essa tática, tudo, até as interações mais cotidianas acabam sendo interpretadas como algo desconfortável, sinistro ou medonho.

A atriz Sosie Bacon tem uma excelente atuação e seu papel convence plenamente o público a respeito de seu estado e de sua situação mental precária devido aos tormentos que sofre por entidades malignas que insistem em se revelar com um macabro sorriso no rosto. A boa atuação da atriz é responsável por fazer com que a grande maioria dos jumpscares funcionem perfeitamente.       

Por boa parte do filme tudo caminha perfeitamente bem, até que a partir do terceiro ato o roteiro descamba por um rumo que ninguém esperava e nem queria (eu diria que nem mesmo o diretor queria isso). É aí que entra a minha teoria de que a excelente ideia desenvolvida pelo estreante Parker Finn foi maculada pela vontade de terceiros, talvez os produtores ou mesmo pelo estúdio Paramount. Finn havia desenvolvido uma ideia muito coesa e completa, não haveria porque trilhar um caminho tão tortuoso em seu terceiro ato. A última parte do longa, poderia dar continuidade ao processo já desenvolvido ao longo de toda trama, mas não faz isso, acaba resolvendo explicar demais. A sensação que se tem é que havia o desejo de entregar algo palpável no final do filme, talvez uma explicação lógica, sendo que, na maioria das vezes, um filme de terror não precisa disso. Esse é o principal pecado de Sorria. De qualquer forma, isso é um problema do ponto de vista técnico e artístico, mas não o suficiente para desmerecer tudo o que foi construído nesse terror, que beira o psicológico. Vamos à trama!

Rose Cotter é uma psiquiatra dedicada. Depois de testemunhar a misteriosa e assustadora morte de uma paciente, ela fica obcecada com a ideia de que precisa encontrar uma explicação para o ocorrido. Tudo leva a acreditar que a resposta está num sorriso fixo e ameaçador relatado pela vítima. Só que ao investigar o enigma, Rose passa a vivenciar experiências perturbadoras. E quando Joel relata a existência de várias mortes relacionadas ao recente acontecimento, tudo indica que ela será a próxima vítima e tem pouco tempo para enfrentar e vencer essa força maligna.

Por que ver esse filme? Para os fãs de terror esse é um prato cheio e por isso deve ser assistido. Ele tem um clima sombrio muito bem construído pelo diretor, sua forma de contar a história deixa qualquer uma à beira de um ataque de nervos e do ponto de vista estético ele é extremamente competente. Salvo o deslize do roteiro na parte final, tudo o que é entregue é muito eficaz e gera a sensação de medo constante que todos esperam. Boa sessão!

Assista ao trailer: 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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