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Sétima Arte - Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 30/06/2022
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Nos dias de hoje o expectador está mais preparado do que nunca para o conceito de multiverso, ou, como se dizia antigamente, universos paralelos. Essa é uma premissa antiga no cinema e tão ou mais antiga nos quadrinhos, mas nem sempre foi de fácil compreensão para o público em geral. No entanto, desde o final do milênio passado, o conceito de vários universos deixou de ser coisa de nerds que gostam de quadrinhos e se popularizou graças a obras como Matrix, de 1999. Agora, com a grande expansão do MCU (o Universo Cinematográfico da Marvel) para outros universos, esse conceito se tornou comum para todas as faixas etárias e para a grande maioria das pessoas. Graças a filmes como Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura todo mundo virou especialista nesse assunto. Interessante que, mesmo a Marvel popularizando o conceito, não foi ela quem melhor se aproveitou da ideia. Um filme sem gênero definido e sem nenhum herói conseguiu fazer o que a Marvel não conseguiu e se consagrou como um grande sucesso de bilheteria nos Estado Unidos da América. Esse filme é a grande estreia da semana, o despretensioso Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo.

Guarde bem esse nome, uma das coisas que aprendi com a minha experiência de vida é que filmes com sinopses complicadas e nomes compridos tendem a ser excelentes surpresas. Caso duvide, mais uma vez utilizarei o exemplo já batido aqui nessa coluna de um dos meus filmes preferidos, Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças, de 2004. Usei esse filme como parâmetro de comparação não pela trama, mas pelo contexto de produção e apresentação que possuem muitas semelhanças, demonstrando que, às vezes, não entender tudo de uma história ajuda o expectador a se conectar com o lado humano dos personagens. Até porque, na vida real, dificilmente todo mundo compreende tudo o que está acontecendo ao seu redor.

Nesse sentido, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo dá um show e mostra que, sem super-heróis, mas com um roteiro meticuloso e competente, é possível construir uma obra intensa, significativa e envolvente. O filme, que tem aquela cara já conhecida de obra independente, foi dirigido, roteirizado e produzido pelos chamados “The Daniels, alcunha dada à dupla Daniel Scheinert e Daniel Kwan, premiados com melhor direção no Festival de Sundance de 2016 pelo filme “Um Cadáver para Sobreviver”.

Seguindo a mesma linha de absurdo plausível, eles levaram para o cinema essa nova trama que poderia muito bem pertencer ao enredo do último filme do Doutor Estranho, mas que se distancia dele sistematicamente ao mesmo tempo em que se aproxima de sua premissa básica. Ao propor essa inevitável comparação, vale a pena recordar a polêmica protagonizada no mês de maio por Jamie Lee Curtis e que envolvia esses dois filmes. Tudo começou quando a Marvel, em dias de lançamento de seu novo filme, supostamente copiou de forma descarada o pôster de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Na época, esse filme já havia sido lançado nos Estados Unidos e liderava as bilheterias. Jamie Lee Curtis que tem um papel importante na trama se doeu e foi rapidinho ao twitter polemizar. O lado crítico de Curtis não estava errado e em meio a trocadilhos inteligentes ela soube muito bem exaltar o que seu filme tem de melhor em comparação ao filme da Marvel. Pena que ao final de suas postagens sobre o assunto ela utilizou uma hashtag que, no mínimo, faz sentido. Dizia ela: “acho que nunca vou participar de um filme da Marvel”. Mas, considerando-se a grandiosidade de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, ela nem precisa.

Além da polêmica e competitiva Jamie Lee Curtis, o filme conta com um elenco de bons atores e atrizes. Ganhando destaque a chinesa Michelle Yeoh, conhecida por seus filmes de luta e que ganhou os holofotes do mundo por meio do inesquecível O Tigre e o Dragão, de Ang Lee. Michelle Yeoh surpreende nesse filme porque foge completamente ao estereotipo que sua carreira como atriz construiu. Nessa obra ela entrega mais do que apenas ação, ela entrega muito drama e muita humanidade. No filme também estão Ke Huy Quan, ator conhecido pelo filme Os Goonies e Stephanie Hsu, que brilha forte em suas cenas.

A trama é complexa, mas vou tentar resumir de forma bem simples para que todos consigam entender o básico e, a partir disso, divirtam-se com todas as maluquices que vão se desenvolvendo ao longo do filme. Vamos à trama!

Evelyn Wang, uma imigrante chinesa que mora nos Estados Unidos vive uma vida entediada ao lado de um marido sem graça e de uma filha lésbica. Prestes a pedir o divórcio e esgotada pela falta de compreensão que tem pela filha, ela vive entre o estresse e o tédio. Para piorar, ela descobre que está em vias de cair na malha fina e começa um intenso embate com uma terrível funcionária do governo. Nesse ponto, ela descobre de maneira muito inusitada que precisa aprender a saltar entre os universos e coletar habilidades com suas outras versões, de outros universos, para salvar a todos do terrível demônio Jobu Tupaki. Somente assim será possível reestabelecer a ordem no multiverso.

Parece estranho, não é? Mas é isso mesmo! O bom é que essa sinopse, mesmo que sintética, já é o suficiente para instigar no público muita curiosidade para entender mais como uma senhora idosa (que não é super-heroína) irá salvar o multiverso (Doutor Estranho deve estar se corroendo de inveja — risos). Quanto a isso, vale a pena destacar que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo entrega aquilo que Doutor Estranho no Multiverso da Loucura não consegue, construir e mostrar de maneira coerente e plausível vários universos. Nesse ponto, Jamie Lee Curtis acertou em cheio em todas as suas críticas, porque o filme em que ela está dá um banho na Marvel.

Por que ver esse filme? Por que é engraçado, porque é alucinante, porque tem excelentes lutas (prepare-se para assistir à arma mais estranha de todos os tempos em ação: uma pochete!). Mas, principalmente porque tem muita, mas muita humanidade. Um filme completo, nada convencional e que pode surpreender justamente por ser despretensioso. Aproveite, vá ao cinema, faça essa experiência e boa sessão!

Assista ao trailer:

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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