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Premonição 6: Laços de Sangue


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 22/05/2025
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O bom e velho terror é sempre uma força motriz para o cinema, de tempos em tempos uma nova abordagem ou retornos triunfantes desse gênero abalam o mundo do entretenimento cinematográfico, chamando a atenção de fãs ao redor do mundo. A bola da vez é o ressurgimento de uma franquia que fez muito sucesso ao longo da década de 2000 e que muitos já consideravam como extinta. Na última semana o mais novo capítulo da franquia Premonição tem agitado os cinemas e despertado novos fãs, sobretudo entre o público mais jovem. A respeito de Premonição 6: Laços de Sangue você vai ficar muito bem informado na Coluna dessa semana.

Após 14 anos de silêncio, a franquia Premonição ressuscitou das profundezas do terror adolescente para nos surpreender com um sexto capítulo ousado, autoconsciente e, acredite se quiser, cômico. Premonição 6: Laços de Sangue é como aquele parente distante que chega na reunião de família e rouba a cena: é familiar, mas traz algo inesperado na bagagem. Sob a direção criativa de Zach Lipovsky e Adam B. Stein, com roteiro ácido de Guy Busick e Lori Evans Taylor, o filme se assume como um tributo irreverente ao próprio legado — e funciona surpreendentemente bem.

A trama gira em torno de Stefani, papel de Kaitlyn Santa Juana, uma jovem atormentada por pesadelos recorrentes ambientados nos anos 1960, envolvendo um desastre em uma torre que abriga um restaurante panorâmico. A conexão com o passado se revela por meio de Iris, interpretada por Brec Bassinger, uma figura central que liga os fios da narrativa entre presente e passado. Com isso, o filme costura um enredo que aposta menos em sustos e mais em conexões familiares, trocando os típicos grupos de adolescentes sem vínculos por uma linhagem inteira marcada pela Morte — literalmente.

Essa decisão de transformar a trama em uma maldição familiar é o grande acerto de Premonição 6: Laços de Sangue. Não é apenas uma nova roupagem para a velha fórmula do “escape do desastre e sofra as consequências”, mas uma tentativa corajosa de humanizar o terror. Quando os personagens são pai, mãe, primo e irmã, cada perda adquire um peso emocional que há tempos a franquia não alcançava. Isso traz um novo senso de urgência às premonições, e a protagonista deixa de ser uma “Cassandra” solitária para se tornar uma guardiã da própria história familiar.

Mas se engana quem pensa que o tom é sombrio e reflexivo. Premonição 6 flerta o tempo inteiro com o absurdo e o deboche, como um primo rebelde que decide fazer graça no velório. O filme sabe exatamente de onde veio — todas as cenas exageradas de morte, os padrões de perseguição da Morte, os traumas que a franquia gerou em quem nunca mais entrou em um salão de bronzeamento ou tem medo de dirigir atrás de um caminhão de toras de madeira — e faz questão de rir disso. Aqui, a Morte se torna uma figura quase cínica, sádica e impiedosamente criativa. O desastre da torre, logo na cena de abertura, já entrega esse espírito: tudo pode matar você, e o filme vai fazer questão de lembrar disso em cada esquina, torradeira, faixa de pedestres ou ressonância magnética.

É impossível falar desse novo capítulo sem comentar o quanto ele se distancia da estética mitológica dos anteriores. A trilha sinistra, o clima opressivo e a ideia de que existe um “sentido oculto por trás dos acontecimentos dão lugar a um festival de mortes estilizadas que mais parecem saídas de uma fanfic escrita por fãs apaixonados e criativos. A estética aqui é de um terror tragicômico: a tensão ainda existe, mas caminha lado a lado com o riso nervoso e o prazer quase culposo de ver o imprevisível acontecer. O resultado é um filme que diverte e intriga, mesmo sem a aura de mistério dos originais.

O CGI, infelizmente, não acompanha essa ousadia toda. Há momentos em que o uso de computação gráfica deixa a desejar, especialmente em cenas de grande impacto como o colapso da torre. Mas essa falha técnica não compromete o conjunto, pois a força do filme está justamente em sua criatividade e em seu tom irreverente. E nesse quesito, o longa entrega de sobra.

Outro ponto alto é a presença de Tony Todd, o icônico William Bludworth. Ainda que debilitado na vida real, o ator é reverenciado em tela com uma participação que mais parece uma despedida solene. Isso porque o ator faleceu em novembro de 2024, sendo essa a última participação dele na série de filmes. Seu personagem ganha relevância e profundidade, servindo como elo entre todas as gerações da franquia. É um aceno comovente a quem esteve presente desde o início, e um gesto de respeito à própria mitologia que o filme, de maneira tão irreverente, subverte.

Diferente de muitas sequências que tentam resgatar franquias desgastadas com a fórmula do reboot, Premonição 6: Laços de Sangue não quer repetir nem reinventar com pretensão. Ele apenas deseja brincar. É um exercício de estilo, uma celebração autorreferente que entende o próprio ridículo e faz dele o seu maior charme. A tragédia vira espetáculo, a morte se torna piada e o público é convidado a rir antes de gritar.

No fim, o filme não é apenas uma continuação: é quase uma reinterpretação. Uma obra que poderia facilmente tropeçar na paródia rasa, mas que escolhe abraçar a sátira inteligente e a metalinguagem com um sorriso no rosto e uma foice nas mãos. É uma aula de como renovar sem negar o passado, reinventando-se sem pedir desculpas, algo raro em franquias tão longas.

Por que ver esse filme? Premonição 6 talvez não agrade os puristas do terror psicológico ou os fãs das primeiras abordagens mais sombrias, mas para quem aceita a ideia de que a Morte também pode ser pop, irônica e até afetuosamente cínica, o filme é um deleite e bem por isso, merecer ser visto. Em tempos de tantas sequências esquecíveis, é revigorante ver um filme que, mesmo com tropeços, escolhe fazer diferente. O melhor é que faz isso com muito estilo. Boa sessão!

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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