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Os Rejeitados


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 19/01/2024
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Para começar a análise desta semana, voltemos no tempo até o ano de 2004, quando Sideways – Entre Umas e Outras, dirigido por Alexander Payne e estrelado por Paul Giamatti, encantou a crítica com sua mistura única de comédia e drama. Esse filme, ambientado no mundo dos vinhos, foi aclamado por suas performances e roteiro, influenciando até mesmo a indústria vinícola. Eu, por exemplo, me tornei fã da uva Pinot Noir por causa desse filme e toda vez que compro esse vinho, me recordo do filme. Mas porque falar sobre Sideways vinte anos depois? Comecei fazendo esse tipo de introdução porque ela serve como pano de fundo para entendermos a expectativa em torno da nova obra que voltou a reunir a dupla principal destacada acima, Alexander Payne e Paul Giamatti, que estão juntos novamente no lançamento Os Rejeitados, um filme que tem chamado as atenções na temporada de premiações de 2024, recebendo vários Globos de Ouro e Critic’s Choice Awards nos últimos dias.

A maestria de Payne em transformar situações simples em histórias envolventes se destaca mais uma vez em Os Rejeitados. A trama, ambientada nos anos 1970, se passa em um colégio interno da Nova Inglaterra e explora questões de classe intensificadas pela Guerra do Vietnã e pelo movimento dos direitos civis. No entanto, a problemática central do filme reside na aparente desconexão temporal dos personagens principais, interpretados por Giamatti e pelo estreante Dominic Sessa, que mais se assemelham a pessoas do ano de 2023 do que necessariamente a figuras da década de 1970.

Essa tensão temporal, uma característica recorrente nos filmes de Payne, reforça sua resistência à conformidade com a mentalidade californiana predominante imposta aos filmes hollywoodianos. Os Rejeitados, ao contrário do que foi visto em Sideways – Entre Umas e Outras, se apresenta como um filme mais sincero e menos cínico, mas, mesmo assim, mantendo paralelos com os pontos positivos da parceria anterior entre Giamatti e o diretor.

Entre frustrações pessoais, desejos não realizados e coincidências infelizes, Payne, apoiado pelo roteiro de David Hemingson, cria uma obra envolvente e apaixonante. A transição fluida entre drama e comédia conduz o expectador por uma trama quente e catártica, explorando temas profundos de vida, crescimento, amadurecimento, solidão e família. Os Rejeitados se revela como uma ode aos desfavorecidos da vida cotidiana, celebrando aqueles que sofrem calados e enfrentam as consequências das escolhas alheias.

Do ponto de vista técnico, é imprescindível destacar a direção característica de Payne, com zooms rápidos e cortes secos, evidenciando seu auge criativo. As escolhas estéticas transportam o espectador para os anos 70, proporcionando um valioso recorte na vida de três protagonistas pouco convencionais, mas extraordinariamente ricos em termos cinematográficos.

O elenco, liderado por Paul Giamatti, entrega performances notáveis. Giamatti, no papel de um homem cético e frustrado, carrega o filme com um carisma inigualável. Da’Vine Joy Randolph, com sua tristeza invariável, adiciona a dose certa de dramaticidade, enquanto Dominic Sessa fecha o trio de forma impactante como um aluno revoltado com a síndrome do abandono.

A trama envolvente se desenrola durante o Natal, quando um grupo conhecido como “os rejeitados” fica para trás no internato Barton Academy. Paul Hunham é encarregado de cuidar desses alunos, especialmente de Angus, um adolescente rebelde lidando com a morte do pai. As interações entre eles revelam descobertas surpreendentes sobre a vida, com a cozinheira-chefe da escola desempenhando um papel crucial.

Apesar da importância simbólica do Natal na construção do enredo, o uso excessivo de corais natalinos, principalmente na parte final do filme, pode irritar um pouco, principalmente agora que período do Natal já acabou. No entanto, a habilidade de Payne em não descaracterizar o desenvolvimento dos personagens, mesmo com essa escolha musical, destaca a competência da edição de Kevin Tent.

O final melancólico e triste deixa portas abertas para inúmeras possibilidades, gerando o desejo de passar mais tempo com esses personagens e saber como suas vidas se desenrolaram após esse memorável final de ano juntos. De qualquer forma, essa é uma obra cinematográfica que vai além da tela, proporcionando uma experiência profunda, emocional e reflexiva que perdura muito tempo após os créditos finais.

Por que ver esse filme? Os Rejeitados deve ser visto porque, para além da qualidade técnica de Payne e do talento de Giamatti, a obra oferece ao público uma oportunidade única de reflexão sobre suas próprias escolhas. O filme, é memorável e deixa o espectador ansioso por mais, criando uma conexão duradoura que vai além da tela. Se você busca uma experiência cinematográfica envolvente, repleta de significado e emoção, Os Rejeitados é uma escolha certeira. Aproveite que esse filme acabou de chegar aos cinemas e boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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