Essa semana vamos abordar um filme inusitado, Gran Turismo: De Jogador a Corredor. Muito provavelmente você, como eu, foi pego de surpresa quando viu o pôster desse filme. Isso porque o game foi um sucesso junto a toda uma geração, mas daí se tornar um longa-metragem é algo, no mínimo, curioso. Bem por isso, Gran Turismo: De Jogador a Corredor ganhou espaço nessa edição e sobre essa obra você vai ficar muito bem informado.

Muitos adolescentes do final dos anos 1990 tiveram o seu primeiro contato atrás de um volante por meio desse jogo, simular o tão sonhado ato de dirigir era praticamente um prazer naquele momento. Gran Turismo foi responsável por fazer muita gente se apaixonar, não apenas por carros, mas também por pilotar uma máquina. A série de jogos Gran Turismo tinha como grande diferencial sua abordagem pioneira em relação à simulação de corrida.

Seu foco em realismo e autenticidade e sua influência duradoura na indústria de jogos eletrônicos também colaboraram para que esse jogo se tornasse uma boa lembrança na memória afetiva de muitos adultos de nosso tempo. Lançado pela primeira vez em 1997, esse jogo se tornou um dos mais populares da época, abrindo uma franquia de jogos de corrida de sucesso para o mercado e definindo padrões tanto para simulação de condução quanto para o realismo gráfico.

Por isso, qualquer um que tenha jogado o jogo deve ter se perguntado se esse tipo de game poderia virar filme. Pelo menos foi essa a pergunta que surgiu na minha cabeça. A magia de Gran Turismo está em dirigir e o jogo não tinha narrativa o suficiente para se tornar um longa. Mais do que depressa eu corri para internet (isso já faz um tempo, porque já tem alguns meses que os cinemas da região colocaram esse pôster em exibição em seus corredores) e fui tentar descobrir qual era a possível trama. Para minha surpresa, a trama foi baseada numa história real, isso mesmo. Gran Turismo: De Jogador a Corredor, tem em seu roteiro muita mais de história real e muito menos de jogo.

O roteiro escrito por Jason Hall e Zach Baylin traz a história de Jann Mardenborough, um cara comum, jogador de Gran Turismo que é convidado para participar de uma competição na qual os melhores jogadores desse game serão treinados para se tornarem verdadeiros pilotos da equipe Nissan. Para isso, eles receberão as orientações de um engenheiro veterano. É claro que eu nunca tinha ouvido falar desse tipo de programa, mas ao que tudo indica ele é real e tem sim, ou pelo menos já teve, jogador de Gran Turismo sendo treinado para se tornar piloto de competição.

Dito isto, entra em cena o imbróglio da definição de gênero. Como classificar esse filme? É um filme do subgênero game, é um filme sobre esportes ou é um drama de superação? Enfim, acredito que a melhor definição é que ele é tudo isso e um pouco mais, já que o diretor, Neill Blomkamp lança mão de tudo isso para a construção de seu filme, que acaba sendo um excelente representante daquele gênero que é só nosso e que a gente adora, o filme do tipo “sessão da tarde” (risos).

Sobre a direção, o que fica mais em evidência é a sua necessidade em fazer jus à essência do tema do filme e tornar tudo o mais rápido e ágil possível. Essa rapidez pode ser percebida desde a narrativa, que não perde tempo e investe em vários saltos temporais, até a apresentação e caracterização de personagens, passando, é claro pela dinâmica geral da obra, que lembra muito outros sucessos acelerados do cinema e que, consequentemente, aceleram os ânimos dos expectador, como, por exemplo, os filmes da franquia John Wick, ou Driver, de 2011.

Altamente comercial, esse é um dos melhores exemplares da utilização da Sétima Arte como base para merchandising, o que enquadra desde o game, que é voltado para a plataforma PlayStation, até chegar na Nissan. Esse é um filme construído como uma obra comercial, feita para exaltar essas marcas e, a meu ver, não existe problema algum nisso, já que estamos muito bem acostumados com as propagandas massivas no mundo do entretenimento. Entretanto, o que pode incomodar alguns é a pouca propensão do filme a se tornar um blockbuster.

A trama central não quer inovar em nada, ela segue fiel o caminho trilhado por tantos outros filmes de esporte que têm como inspiração central a superação, recriando à sua maneira a velha história da cinderela para os esportes. Não há novidades nisso, mas também não há complicações. Isso porque um clichê bem produzido pode ser algo bem agradável. Mas quem se propõe a levar para a tela grande um bom e velho clichê precisa saber que, para que funcionem, precisam estar envoltos na aura da grandiosidade. Por isso filmes seguros, construídos em cima desse tipo de premissa, tendem a buscar a alcunha de blockbusters. Era o que eu esperava de Gran Turismo: De Jogador a Corredor, mas não é isso o que é entregue ao público.

De qualquer forma, se falta audácia para a grandiosidade, sobra diversão e boas atuações. O elenco possui nomes estrelados, como Orlando Bloom, e nomes menos conhecidos, como o protagonista Archie Madekwe, mas quem chama mesmo atenção é David Harbour na pele do engenheiro veterano Jack Salter, num dos papeis mais carismáticos do ator.

Por que você deveria ver esse filme? Porque Gran Turismo é um filme honesto. Ele teria tudo para ser um filme fora da curva, com uma história de dedicação, paixão, superação e triunfo; com um forte potencial para emocionar tanto quanto para divertir, mas que busca seguir por outros rumos e já deixa isso bem claro desde o início. É um longa-metragem com dinâmica e visual de comercial, que diverte na mesma proporção que quer vender suas marcas. Mas, independentemente de tudo isso, é um filme que vai mexer com as lembranças dos adultos que cresceram dirigindo carros nesse jogo/simulador e que não querem nada mais do que matar as saudades. Um filme simples, capaz de tirar o foco das correrias da vida e colocar o foco no sonho de deixar de ser um jogador de vídeo game para se tornar um piloto de sucesso (sonho de qualquer um que já jogou Gran Turismo), é isso que te espera no cinema. Por isso, boa sessão!