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Extermínio: A Evolução


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 03/07/2025
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Em cartaz há alguns dias, eu demorei para dar atenção a um novo capítulo de uma franquia de filmes de zumbis que tem feito história no cinema nesse início de século XXI. Como o interesse do público foi grande, o filme continua em cartaz e bem por isso, aproveitei a oportunidade para escrever um pouco a respeito dessa obra que tem reascendido junto aos fãs o gosto de assistir na tela grande o misto de horror e aventura que esse subgênero do terror pode oferecer. Nessa edição, você saberá um pouco mais sobre Extermínio: A Evolução.

Recentemente, movido pelo frisson em torno do filme que está nos cinemas, revisitei Extermínio (28 Days Later no original), uma obra de 2002, dirigida por Danny Boyle e roteirizado por Alex Garland. Um verdadeiro filme cult do subgênero, gravado em vídeo digital, usando câmeras Canon XL1, com resolução de apenas 480p, apresenta uma estética muito particular, que ressalta um clima de realismo na obra e concede a ele um granulado muito particular nas atuais telas de alta definição. Após o filme, o mundo do cinema zumbi nunca mais foi o mesmo. Com infectados velozes como balas e uma Londres fantasmagórica, o longa redefiniu o apocalipse no cinema, adicionando uma camada brutalmente humana ao horror. Agora, quase três décadas depois, o mundo se vê novamente diante de Extermínio: A Evolução (intitulado em inglês convenientemente de 28 Years Later), um novo capítulo que tenta ser ao mesmo uma continuação e uma renovação dessa história.

A trama apresenta Spike, um garoto de 12 anos que embarca em sua primeira caçada aos infectados, uma espécie de rito de passagem de sua comunidade em Holy Island, uma ilha isolada por uma estrada submersa durante a maré alta. Spike é interpretado por Alfie Williams, que entrega uma atuação surpreendente, bem diferente daquelas geralmente entregues por atores mirins. Seu pai, Jamie, papel de Aaron Taylor-Johnson, é a figura paternal misteriosa, enquanto sua mãe, Isla, interpretada por Jodie Comer, luta contra uma doença desconhecida. O trio se vê envolvido em uma jornada que mais se parece com uma fábula trágica do que necessariamente com um filme de zumbis. Algo que, dependendo da expectativa, pode ser uma virtude ou uma grande frustração.

Se há algo que Extermínio: A Evolução faz bem, é construir um universo instável, onde o vírus já não é só um elemento de horror físico, mas algo simbólico que representa as dificuldades pelas quais atravessaram as gerações nesse mundo apocalíptico. Garland transforma os infectados em uma fauna mutante, variando de corpos inflados até criaturas com mais de dois metros de altura. Uma abordagem um tanto quanto ousada, mas que funciona bem.

Mas é preciso reconhecer, o filme carrega um peso emocional que pode parecer deslocado para quem esperava a urgência e o desespero de seus antecessores. O horror visceral dá lugar a um drama existencial, com direito a diálogos reflexivos, flashbacks e até poesia. Como eu gosto muito de drama, achei que a mudança de tom veio bem a calhar, mas há quem critique. Funciona como conceito, mas nem sempre como ritmo. Há momentos em que o filme parece perder a próprio rumo, vagando entre a introspecção e a ação sem se decidir de fato.

A direção de Danny Boyle tenta equilibrar essa dualidade com ousadia estética. Ele filma boa parte do longa com iPhones, numa tentativa de repetir a revolução visual que fez em 2002 com câmeras digitais baratas. O resultado é, no mínimo, controverso. Se para alguns a textura granulada e a fotografia frenética de Anthony Dod Mantle criam uma sensação de urgência digital digna dos tempos de redes sociais e fake news, para outros o visual é confuso, cansativo e inconsistente. Há quem já comparou o filme a um videoclipe que parece ter se estendido além da conta.

A trilha sonora, por outro lado, é um espetáculo à parte. As composições evocam tanto o tom sombrio quanto o  lirismo de bandas pop rock do anos 2000. Aqui, Boyle acerta em cheio, criando um contraste entre a brutalidade das imagens e a melodia das canções – um lamento pop para um mundo em ruínas.

Ralph Fiennes, como o misterioso Dr. Kelson, entrega uma performance poderosa e multifacetada. Sua relação com Spike é o coração do filme: uma conexão entre o conhecimento sombrio e a inocência em risco. É nesse ponto que Extermínio: A Evolução brilha, pois é quando deixa de tentar ser um filme de zumbis e se permite ser uma parábola sobre a perda da inocência, o medo da guerra e o poder de pequenos gestos de humanidade em meio ao caos.

Mas nem tudo são flores em campos de sangue. Para os fãs das primeiras produções, Extermínio: A Evolução pode soar como uma traição. Não há cenas icônicas como a caminhada solitária de Cillian Murphy por Londres nem a brutalidade crua de Extermínio 2. A tensão foi substituída por contemplação, e o susto, por metáforas. Garland, em vez de repetir a fórmula, desconstrói o gênero, o que é corajoso, porém também é arriscado. E para muitos, um tanto frustrante.

Por que ver esse filme? Extermínio: A Evolução é um filme que não quer agradar todo mundo e talvez por isso mesmo tenha tanto a dizer. Ele é mais um tipo de tributo triste do que um espetáculo, mais um suspiro do que um grito. Para quem busca apenas o horror puro, talvez seja uma decepção. Mas para quem está disposto a encarar os zumbis como reflexos de nós mesmos, pode ser uma experiencia até mesmo poética e inquietante. Ainda que não assuste como antes, faz pensar e, isso é ótimo, principalmente vindo de um gênero tão saturado de sustos fáceis. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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