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Dupla Jornada


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 18/08/2022
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Semana chuvosa e com fim de semana frio, a melhor pedida, sem dúvida alguma, é ficar em casa, afinal, o clima está bastante convidativo. Bem por isso, resolvi comentar sobre mais um lançamento de streaming, dessa forma, você pode aproveitar a diversão de ver o filme no sofá de casa com aquela pipoca feita em sua própria cozinha. Acredito que nunca, em anos anteriores, eu havia comentado tanto sobre filmes em streaming, nem mesmo durante o período mais pesado da pandemia. Isso se dá porque a Netflix tem abarrotado sua plataforma com novos filmes semanalmente. Interessante é que esse grande número de lançamentos, como já apontado anteriormente, não segue um grande padrão de qualidade. De qualquer forma, os filmes ainda são interessantes o suficiente para divertir num domingo à tarde. Partindo dessa premissa, quero me dedicar nessa edição ao filme de ação/terror/comédia/aventura intitulado Dupla Jornada. Um filme que exemplifica muito bem o que tem sido essa iniciativa da Netflix de um novo filme por semana. Algo que poderíamos chamar de “fast filme” (fazendo alusão ao fast food), rápidos, divertidos e pouco nutritivos, ou melhor, pouco profundos (risos), quase descartáveis. Ainda assim, dignos o suficiente para consumirem quase duas horas de nossa existência.

Vamos lá! Sobre Dupla Jornada, comecemos falando a respeito do gênero, que é completamente indefinido. Parece que o diretor J.J. Perry resolveu construir uma obra que agradasse ao maior número de expectadores possível, por isso, colocou de tudo um pouco em seu filme. Ele é divertido e funciona bem como comédia, mesmo estereotipando personagens e evidenciando problemas fisiológicos que necessariamente não deveriam fazer rir, como é o caso da incontinência urinária. Além disso, a obra cai de cabeça na onda recente de valorização dos filmes de ação/aventura, com muitas lutas e ritmo bem acelerado. Não bastasse tudo isso, ele traz uma trama vampiresca em seu eixo central. Filmes desse tipo, com terror leve, casam muito bem com o gênero aventura e fazem o público lembrar saudosamente de obras antigas e consagradas desse gênero, como Um Drink no Inferno, de 1996,      ou Blade —O Caçador de Vampiros, 1998.

Diante disso, pode-se dizer que a tentativa era pegar vários gêneros de sucesso popular do cinema e colocar tudo num grande caldeirão, misturar e vender como novidade. Poderia dar muito certo e até que deu, mas em partes, pode-se dizer que deu errado também, graças ao roteiro descuidado. Escrito por Shay Hatten e Tyler Tice, o roteiro tem um indigesto sabor de xenofobia. É claro que para a grande maioria do público que está interessada apenas em tiro e muita porrada, isso pode até passar despercebido. Mas para um expectador mais atento e minimamente sensível, isso pode estragar toda a diversão. Para explicar essa afirmação é preciso conhecer primeiro a trama.

Em Dupla Jornada, um pai trabalhador busca desesperadamente levantar uma grande quantia em dinheiro para pagar a escola e o aparelho ortodôntico da filha de 8 anos. Ao fazer isso, ele tentará convencer sua ex-mulher de que ainda pode oferecer um mínimo de estabilidade para elas na Califórnia, fazendo com que ela desista de se mudar para a casa de sua mãe na Flórida.  Mas seu trabalho comum de limpeza de piscinas em San Fernando Valley é apenas uma fachada para sua verdadeira fonte de renda: caçar e matar vampiros. Numa de suas caçadas ele acaba matando vampiros que são membros da família de uma poderosa e mafiosa vampira latina que, ao agir como corretora imobiliária, está adquirindo um grande número de imóveis para disponibilizá-los para os de sua raça.

A trama seria ótima se não trouxesse uma mensagem subliminar muito negativa. Ao escolher como vilã uma atriz latina e ao construir a ameaça de fazer de Los Angeles um refúgio para os vampiros — que nesse caso são um tipo de mutantes e classificados em grupos distintos a partir de suas características —, roteiristas, diretor e estúdio zombam do sonho americano de milhares de pessoas da América Latina que buscam nos Estados Unidos uma vida melhor. Mais ainda, identificam os mesmos como monstros, que podem oferecer grande risco para a população local e para a sociedade. É uma mensagem implícita, mas para um bom entendedor isso já basta.

A partir disso, todo o esforço em fazer do filme uma obra divertida e alucinante cai por terra. A escolha de uma dupla improvável no melhor estilo do clássico quina Mortífera acaba ficando em segundo plano. Os atores Jamie Foxx e Dave Franco encarnam muito bem esses papeis e ostentam uma química excelente. Tanto que a atuação de Franco realmente me surpreendeu durante o filme, pena que eu ainda estava incomodado com o tom xenófobo. A participação especial de Snoop Dogg, que tem presença marcante sempre que aparece em cena, também acaba ofuscada.

De qualquer forma, independente dos problemas de roteiro e trama, a questão técnica é louvável. O diretor J.J. Perry escolheu contorcionistas para interpretarem os vampiros e isso fez deles uma verdadeira ameaça. Seus movimentos são incríveis e a agilidade é impressionante. Um trabalho muito bem feito na coreografia das lutas faz delas um espetáculo à parte. Beirando a premissa do impossível plausível, o expectador fica sempre à espera do próximo movimento e de como os protagonistas irão revidá-los. Isso tudo com um ritmo bem intenso, tanto que as quase duas horas passam rapidinho. Esses acertos técnicos fazem de Dupla Jornada um bom filme, salvo a mensagem implícita, já exposta anteriormente.

Diante disso, fica a pergunta: Por que ver esse filme? Filmes de ação tendem a não gerar nenhum tipo de reflexão e isso é uma afirmação que já é quase praxe nessa coluna. Por isso, assista ao filme, se você for fã de ação irá vê-lo e nada nele irá incomodá-lo, pelo contrário vai ser diversão de primeira. Se você for um expectador mais crítico e antenado deve vê-lo, até para que possa fazer sua reflexão particular sobre a forma como a trama apresenta a questão da migração, podendo se posicionar melhor a respeito dela. Do mais, aproveite o fim de semana e dê uma chance para Dupla Jornada. Boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


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