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Batman


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 03/03/2022
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O homem-morcego está de volta! Dos personagens de quadrinhos levados ao cinema, Batman é sem dúvidas o que ganhou versões mais diversas e que refletiu de forma muito contundente o espírito e os ares do tempo ao qual cada filme foi concebido. Com o abandono de Ben Affleck do manto do morcego, chegou ao fim a “era Snyder” para Batman. Agora, chega aos cinemas essa versão do “cavaleiro das trevas” dessa década de 2020. O que esperar e o que vale a pena sobre Batman você vai saber agora, na Coluna Sétima Arte.

As versões cinematográficas de Batman sempre foram um misto de seriedade e exagero. Cada diretor se deu ao luxo de levar para as telas suas visões muito particulares sobre o herói. Dessa forma, havia Michael Keaton e Val Kilmer, nas mãos de Tim Burton, passando pela versão fetichista de George Clooney e chegando ao brilhantismo de Christian Bale sob a tutela do incrível Christopher Nolan. Todos eles foram um belo reflexo de seus tempos, ou seja, retratavam as incertezas sombrias do fim dos anos 1980 - quando a Guerra Fria dava indícios de fim -, o exagero colorido e espalhafatoso dos anos 1990 e as perspectivas de mundo melhor forjadas pela virada do milênio nos anos 2000. Em cada uma delas um tipo de Batman, invocado por um ator diferente. Com a chegada dos anos 2010, principalmente em sua segunda metade, o mundo vai cada vez mais mergulhando em tempos sombrios, a sociedade dá sinais de retrocesso e Zack Snyder resolve levar para as telas um Batman ressentido e quase sobre-humano, revestido com camadas pesadas de tecnologias capazes de enfrentar de igual para igual até mesmo o homem-de-aço. Um reflexo da prepotência da tecnologia envolta no obscurantismo reacionário do ego.

Tudo passou, os anos 2010 chegaram ao fim. A década de 2020, como resultado do período anterior, veio mergulhada em dúvidas, segredos, incertezas e autoritarismo. Mantendo o caminho trilhado até então, o diretor Matt Reeves aproveita esse sentimento de clima escuro e apresenta ao mundo um Batman em estilo noir (que quer justamente dizer escuro em francês e foi um termo cunhado por um crítico da França para se referir a um tipo de filme comum nos anos 1940 e que eram ambientados em grandes cidades, com temática criminal, com anti-heróis, segredos a serem desvendados e forte tensão sexual implícita). Reeves não apenas se dedicou à direção, mas também ao roteiro que escreveu em parceria com Peter Craig e que bebe em fontes variadas, como as obras do já citado noir, mas também em filmes de suspense e de serial-killers. O público mais atento verá referências diretas à Taxi Drive, Seven – Os Sete Crimes Capitais, Silêncio dos Inocentes e muito mais.

Tecnicamente o filme esbanja profissionalismo, seja no enquadramento de cenas ou na própria construção de cenários. Um bom exemplo disso é a cidade de Gotham, que pulsa ao longo do filme e pode ser entendida como um personagem constante da trama. Lembrando claramente a Gotham City de Tim Burton de 1989, ela é gótica, rígida, feita de pedras, sombria e mal iluminada. A grande diferença está no fato de a Gotham de 1989 ter sido concebida em estúdio e a atual, de Reeves, ter utilizado locações reais em Liverpool e Glasgow, o que impõe não apenas veracidade à cidade, como também textura e profundidade.

Se Reeves cuidou tão bem do entorno de sua obra, o que dirá de suas maiores pérolas, os personagens. O universo de Batman ostenta a melhor coleção de vilões dos quadrinhos e o diretor escolheu alguns bem emblemáticos para colocar na tela. Pinguim e Carmine Falcone apresentam traços claramente mafiosos. Possuem charme e frieza capazes de impressionar logo de cara, um exemplo disso é o tom de voz de Falcone que é ameaçador mesmo sem nunca ser levantado. Já o Charada, o verdadeiro fio condutor da trama, é um perfeito serial-killer, estando presente o tempo todo, mesmo sem estar lá fisicamente. A eles, soma-se a sensualidade da anti-heroína Mulher-Gato, que tem a melhor química possível com o perturbado Batman, e o confiável tenente James Gordon, grande parceiro na resolução dos mistérios.

Para que essas características ganhassem peso, um elenco à altura foi escalado. O subestimado Collin Farrel exibe todo o seu talento como Pinguim, John Turturro assumiu o papel de Carmine Facolne, Jeffrey Wright encarna o tenente Gordon e Zoë Kravitz se destaca como Mulher-Gato. Soma-se a eles o protagonista, Robert Pattinson, que levantou suspeitas sobre sua capacidade quando foi anunciado para o papel, mas que entrega um personagem surpreendente. Ele ficou marcado por muito tempo como “o cara do Crepúsculo” e foi difícil se desvencilhar do rótulo, mas Pattinson procurou papeis complexos e tortuosos no cinema que lhe garantiram espaço nessa nova versão de Batman. Ele abraçou completamente o papel e traz para o público um homem-morcego sempre à beira de cruzar a linha entre ser herói ou vilão. O que é muito bom, já que o filme abandona completamente o clichê maniqueísta do bem contra o mal, levando uma história muito mais complexa para o cinema. Vamos à trama!

A história dispensa perder tempo com a origem do Batman e tem início no segundo ano de Bruce Wayne como o herói de Gotham, causando medo nos corações dos criminosos da sombria cidade. Para isso ele conta com alguns aliados de confiança, como Alfred Pennyworth e o tenente James Gordon. Numa de suas investigações, Bruce acaba se envolvendo, juntamente com o tenente Gordon, num jogo de gato e rato ao investigar uma série de maquinações sádicas numa trilha de pistas enigmáticas estabelecidas pelo vilão Charada. Segredos, mistérios, reviravoltas e corrupção dão o tom à trama.

Por que ver esse filme? Ultimamente ver um filme da DC/Warner no cinema tem sido sempre uma boa surpresa e uma grande satisfação. Depois que a DC/Warner resolveu abandonar o projeto de ser como a Marvel – com um grande universo cinematográfico que interligava os heróis –, tudo ficou muito mais interessante e capaz de agradar ao público e aos críticos (exemplo disso foi o premiado Coringa). Agora, ao levar sua nova versão de Batman ao cinema, os estúdios da Warner abrem um nicho muito interessante, com um filme que tem uma pegada madura, adulta e claramente inspirada na HQ O Longo Dia das Bruxas, de 1996. Um prato cheio para os fãs do herói e para os apaixonados pelo melhor tipo de suspense, aquele que faz você tentar adivinhar qual o próximo passo do começo ao fim. Aproveite o filme e boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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