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Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 18/04/2022
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O cinema é feito de erros e acertos, na maioria das vezes tanto uns quanto outros são mais creditados aos figurões que comandam os estúdios do que necessariamente às cabeças criativas. Dessa forma, a arte sempre foi e sempre será superior à mesquinhez do lucro. Isso não quer dizer que o cinema não seja um produto comercial, como outro qualquer, tanto que o termo “indústria do cinema” é muito plausível. No entanto, diferente de um ultraprocessado qualquer que você busca no supermercado, o cinema flerta com a arte e exige, tanto de quem faz, quanto de quem assiste um tipo de liberdade que o capitalismo não consegue monetizar. Na última semana, por causa da estreia de Morbius, eu elenquei vários erros da Sony, que, na simples busca por lucro, enterrou grandes possibilidade artísticas. Nessa mesma linha, por ocasião da grande estreia da semana, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, comentarei sobre como a Warner conseguiu, na busca desenfreada por lucro, destruir a magia na imaginação de uma geração inteira.

A partir dessa introdução, você deve estar se perguntando: será que Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é tão ruim assim? Pior que não, em comparação com seu antecessor ele fica até acima das expectativas. Mas, o problema está no conjunto da obra. A franquia Animais Fantásticos foi vendida inicialmente como um total de cinco filmes, que prometiam levar de volta ao cinema uma multidão de fãs, ávidos pelo mundo mágico de Harry Potter. As possibilidades eram infinitas, os animais incríveis e mágicos, os lugares e os personagens que poderiam ser explorados nessa prequela de Harry Potter eram inimagináveis. Para mais, a mente criadora por trás da famosa saga do “menino que sobreviveu” estaria por trás de toda a criação de Animais Fantásticos.

Aumentou-se as expectativas do público e os estúdios cresceram os olhos no lucro fácil. Afinal, a autora J. K. Rowling não se tornou uma das mulheres mais ricas do mundo por nada. Tudo certo, até que o primeiro filme foi lançado. Ele tinha ao mesmo tempo tudo e nada de Harry Potter, por isso, os fãs precisaram fazer um esforço imenso para gostar dele, mas é claro que gostaram, afinal, fã é fã.

O problema ganhou proporções mais catastróficas quando a sequência foi lançada, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald, de 2018. Atacado intensamente pelo público e pela crítica, o filme amargou aquilo que já se esperava, foi um fiasco. Faltava muita coisa, um fio condutor, respeito para com as tramas apresentadas e um protagonista realmente carismático. Ao final, o que sobrou foi o gosto agridoce de um estúdio que estava muito mais interessado no lucro que poderia obter da multidão de fãs, do que oferecer para essa multidão um produto que realmente os agradasse e atendesse aos seus anseios. Sobrou indústria e faltou arte.

Agora, tudo indica que a saga chegará ao fim com o filme que está nos cinemas. Ao abraçar a ideia de uma trilogia, o estúdio deixa de lado o sonho de cinco volumes para uma obra completa. Nesse meio tempo, entre o filme de 2018 e o lançamento do filme atual, muita coisa aconteceu e colaborou para que a saga não fosse vista com bons olhos. Dentre esses acontecimentos, dois foram fatais: os escândalos envolvendo Johnny Deep e as polêmicas com a própria J.K. Rowling.

Vamos aos fatos! Johnny Deep havia sido escolhido para fazer o papel do vilão Grindewald, até então tudo bem, ele sempre havia sido considerado um bom ator e tinha em sua história papeis memorais de personagens espalhafatosos. Mas, após a separação de seu rápido casamento com a também atriz Amber Heard, a coisa degringolou. Heard, além do divórcio, pediu uma medida restritiva, alegando que sofreu, ao longo do tempo em que estiveram juntos, agressões físicas, verbais e psicológicas. Algo que abalou a carreira do ator e, é óbvio, respingou em Animais Fantásticos.

Já J. K. Rowling, infelizmente, se mostrou uma mulher muito mais parecida com a “tiazona do WhatsApp” (aquelas sempre propensas a apoiarem o pseudo presidente) do que qualquer fã poderia imaginar. Em 2020, ela lançou um livro chamado Troubled Blood que contava a história de um homem, que se transvestia de mulher para enganá-las. Ao ser criticada, defendeu-se dizendo que havia se baseado em assassinos que se vestiam de mulher para matá-las. Apenas isso foi necessário para que qualquer um percebesse que a autora de Harry Potter nutria e, ao que tudo indica, ainda nutre um profundo e anacrônico preconceito contra pessoas trans. Não bastasse isso, ela ainda se envolveu reiteradamente em polêmicas no twitter sobre o mesmo assunto. Resultado? Cancelamento total! Os fãs de Harry Potter cresceram em um ambiente propenso ao diálogo e à liberdade, logo não seria concebível aceitar esse tipo de comportamento.

Após tudo isso, o novo filme de Animais Fantásticos chega ao cinema, substituindo Johnny Deep pelo ator dinamarquês Mads Mikkelsen e tentando passar um pouco de pano na arranhada figura de J.K. Rowling. Será que isso será suficiente para fazer o filme se tornar um sucesso de público e crítica?

De qualquer forma, podemos considerar o seguinte a respeito de Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore. Primeiro, os segredos não são tão reveladores quanto esperávamos. Segundo, haverá sim referências diretas ao romance homossexual entre Dumbledore e Grindewald (as tias do WhatsAppo pirar risos). Terceiro, o filme tem o suficiente para fechar de maneira digna a saga como uma franquia.

Como dito na introdução, quem dá as cartas nesse caso são os figurões do estúdio, por isso, novamente, não espere arte. O que se apresenta é uma tentativa de fan service, mirando especificamente seu bolso, querido leitor. O diretor, David Yates, que esteve à frente da saga Harry Potter a partir do filme Harry Potter e A Ordem da Fênix, não entrega nada mais do que o esperado. As criaturas são realmente fantásticas, suas construções em CG são muito incríveis. Talvez se o trabalho de luz fosse um pouco melhor, o público pudesse apreciá-las de forma mais plena. Outro ponto é o fato de Yates não ter preocupação em dar um fim à sua história, talvez ele ainda queira se aventurar por um quarto filme, por isso, não há um clímax final, mas quase um anticlímax e eu diria que isso não é bom, mas também não atrapalha.

O roteiro é uma bagunça bem fundamentada. Há muitos personagens, vários arcos já abertos e, ao que tudo indica, faltou a J. K. Rowling perspicácia para colocar as ideias, os personagens e as sub-tramas em alinhamento à trama central. Bem por isso, personagens considerados importantes, como, por exemplo, Credence, tem suas questões resolvidas de forma imediata, sem a menor dramaticidade. No atual roteiro, falta aventura e sobra política. Num mundo real polarizado, infelizmente isso acaba não tendo uma conotação positiva. Principalmente quando vemos que a democracia abre, cada vez mais, espaço para vilões fascistas, tal qual no filme.

Em contrapartida, o elenco aguenta muito bem o tranco e faz do filme algo bom de se ver. Eddie Redmayne já não é mais tão protagonista e o público nem sente tanto a sua falta, já que sua interpretação, nessa franquia, sempre foi aquém do esperado. Em contrapartida, a dupla Jude Law, que interpreta Dumbledore e Mads Mikkelsen, que herdou o papel de Grindewald, dão um show de profissionalismo e química. Outro que continua roubando a cena e que mantém o alto nível de atuação desde o primeiro filme, é Dan Fogler. Na boca dele até o texto indigesto do roteiro de Rowling se torna engraçado. Ah, eu ia me esquecendo de Maria Fernanda Candido! Ela aparece tão pouco que fica até difícil lembrar que ela estava lá. Criou-se muita expectativa em volta de sua participação nesse filme, mas, mesmo aparecendo pouco, ela fez bonito e vai encher os brasileiros de orgulho. Vamos à trama!

O professor Alvo Dumbledore sabe que o poderoso mago das trevas Grindelwald está se movimentando para assumir o controle do mundo mágico. Incapaz de detê-lo sozinho, ele pede ao magizoologista Newt Scamander para liderar uma intrépida equipe de bruxos, bruxas e um corajoso padeiro “trouxa” em uma missão perigosa, em que eles encontram velhos e novos animais fantásticos e entram em conflito com a crescente legião de seguidores de Grindelwald.

Por que ver esse filme? Os efeitos visuais são excelentes, visualmente falando ele é muito bonito e, por mais que não seja um primor de aventura, ainda encanta muito mais que seu antecessor e, caso a Warner ainda queira investir na franquia, ele tem fôlego o suficiente para fazer com que o público volte a se apaixonar pelo mundo mágico de Harry Potter. A trama encerra de maneira digna um arco de história bastante irregular e isso já basta para justificar uma ida ao cinema. Boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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