Saúde mental é o que interessa
Por Ana Paula Peña Dias
Com a retomada da vida pós-Covid, o novo normal não nos parece assim tão normal. A questão sobre o que é voltarmos ao que era antes é muito subjetiva e depende do significado que a pandemia teve para cada um. Se por um lado conseguimos entender melhor alguns sentimentos, por outro o isolamento social nos trouxe problemas e emoções mal digeridas.
A pandemia foi um estressor crônico que desarranjou o sistema nervoso. No lado profissional, altas demandas e carga horária sem limites. No pessoal, ela nos forçou a olhar para dentro e perceber quais são as áreas da vida que estão em desequilíbrio. Com funções diversas acumuladas e com as cobranças internas e externas, a adaptação nos trouxe exaustão, angústia e cansaço. Por conta destas situações, alguns transtornos mentais surgiram e outros pré-existentes ficaram mais intensos.
Segundo pesquisa do Instituto Ipsos (2021), encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros declararam que o bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano. Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmam que o Brasil tem a maior prevalência de transtornos de ansiedade nas Américas, com 9,3% da população, bem como a ansiedade, relatada por 5,8% dos brasileiros. Os dados ainda mostram que a cada ano cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida. No Brasil, ocorrem cerca de 32 mortes diárias por suicídio.
Com estes dados percebemos que a piora na saúde mental da população brasileira é um fato. Um problema real, não uma ‘frescura’. No meu livro “E agora? Como ficam nossas emoções após a pandemia” trato os temas citados acima. Junto com um time de especialistas, como Maryana com Y, Izabella Camargo, Joel Jota, Camila Magalhães, Daiana Garbin, Thiago Godoy, Cinthia Alves e Cláudia Tenório, falamos ainda sobre o transtorno ligado ao esgotamento profissional, ansiedade alimentar e até mesmo a ansiedade financeira.
No próximo mês, a campanha Setembro Amarelo irá abordar questões relacionadas à saúde mental, especialmente o suicídio. Os temas discutidos ainda são considerados tabus pela sociedade, mas a ideia é conscientizar as pessoas de que elas não estão sozinhas, podem procurar apoio e ajuda médica para um tratamento eficaz.
Este movimento é de fundamental importância, pois reforça não somente o debate em torno do problema, mas também alertar a população para as devidas soluções. Como resultado, a campanha colabora para o desenvolvimento de uma sociedade mais sadia e civilizada.
Como a grande maioria dos transtornos é de controle, com os que são crônicos, precisamos ter um enfoque de cuidado. É importante deixar claro e difundir a ideia de que recuperar o equilíbrio interno é possível com a ajuda de especialistas, medicamentos e técnicas comprovadas cientificamente, como a psicoterapia, a meditação, os exercícios físicos, a gratidão e, porque não, o bom humor.
Temos à disposição dois elementos transformadores, a resiliência – a habilidade para superar adversidades nos momentos difíceis – e a empatia para se colocar no lugar do outro. Com eles, podemos melhorar nossas relações e, diante de toda a complexidade do mundo, nos tornar aptos a criar uma vida melhor.