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O presidente Jair Bolsonaro publicou em sua conta no Twitter na sexta-feira passada (26) que estuda em conjunto com o ministro da Educação, Abraham Weintrab, descentralizar os recursos financeiros destinados aos cursos de filosofia e sociologia do país. 

De acordo com as próprias palavras do Presidente o objetivo seria focar "em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina". Em outro trecho o Presidente diz ainda que “a função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, a escrita e a fazer contas”.

Vamos analisar essas duas declarações do nosso Presidente.

Concordo com o Presidente, existe mesmo um problema de “retorno imediato” em relação aos cursos de Filosofia e Sociologia, diria que na área de Humana em geral esse é um problema recorrente. Eu mesmo tenho um diploma de Bacharel em Teologia, uma Pós-graduação quase finalizada em Filosofia e estou terminando minha Licenciatura também em Filosofia. Se eu fosse fazer uma pesquisa, aqui mesmo entre os leitores do JN, acerca da “utilidade” que eu teria para a sociedade sendo portador desses títulos, creio que poucos seriam capazes de oferecer uma resposta em que um Teólogo e Filósofo tem um papel importante a ser desempenhado na sociedade. 

O problema do retorno não envolve apenas o contribuinte, os profissionais formados na área também são afetados, pois, como disse acima, infelizmente, nossa sociedade é incapaz de reconhecer o valor dos mesmos. Porém, eu não os culpo, pois, isso é um problema cultural. 

Em um país onde faltam referências na arte, musica, literatura e as poucas existentes permanecem reclusas a um reduzido circulo taxado pela sociedade como chatos e “intelectuais”, seria de se estranhar que Filósofos e Sociólogos teriam seus valores reconhecidos. 

Vamos a um exemplo, na Europa, onde a Educação está muita a frente em relação a nossa o cenário é completamente o oposto. Eu poderia ficar citando nome de grandes Filósofos e Sociólogos Europeus ou até mesmo Teólogos para mostrar como esse continente foi e continua sendo fecundo na produção dessas ciências. Mas vamos a um exemplo prático. 

Logo após a queda do Muro de Berlin em 1989, surgiu na Europa à preocupação de um renascimento do conceito de sociedade civil, irredutível às estruturas do Estado, como uma comunidade de cidadãos livres e iguais na sua dignidade, que se associam para realizar o bem comum sem excluir ninguém. 

Isso fez com que em 1991, na cidade de Hannover (Alemanha) ocorresse uma reunião de Filósofos, Teólogos e Cientistas de diversas nacionalidades, que centraram os debates na nova figura de uma Europa cultural, que se pense para além dos limites estreitos do economicismo. 

E isso foi importante para o momento que a Europa estava vivendo. Estou falando de um evento que aconteceu há menos de trinta anos, que narra uma situação em que o mundo acabara de sair de um momento de tensão (fim da guerra fria) e precisava definir seu futuro. Filósofos, Sociólogos, Teólogos e Historiadores tiveram um importante papel nesse momento na Europa. Pois, se trata de uma cultura aonde o pensamento crítico já vem sendo desenvolvido há séculos. 

Não estamos falando de um povo que, nas “sabias” palavras do Presidente, sabe apenas “ler”, “escrever” e “fazer continhas”. Estamos tratando de uma sociedade que há séculos vem produzindo Filosofia, uma sociedade que há quinhentos anos, tomada pelo renascimento dos ideais Greco-romanos, enfrentou o maior poder vigente da época (Igreja Católica). Essa sociedade hoje, em tempos de crise recorre aos seus “pensadores” para saber o que eles têm a dizer. E em tempos de paz, reconhece o valor que eles possuem. Lá (Europa) Filósofos e Sociólogos oferecem retorno imediato à sociedade. 

Agora te pergunto, o problema são os cursos de Filosofia e Sociologia? Ou a nossa sociedade que infelizmente ainda não aprendeu a reconhecer o valor que esses profissionais possuem?

Concordo com o Presidente quando ele diz que o fundamental é ensinar “para os jovens a leitura, a escrita e a fazer contas”. Afinal, de nada adianta dar um livro do Nietzsche nas mãos de uma pessoa que é incapaz de fazer as quatro contas matemáticas de cabeça por mais simples que elas possam ser. 

Porém, atrelado a esses três itens que o Presidente destacou, a Filosofia e a Sociologia possuem sua importância conforme  já demonstrei no exemplo da Europa. De que adianta termos uma geração de jovens com acesso a cursos como veterinária, engenharia e medicina assim como o Presidente mencionou, mas, no campo crítico, não termos nada. 

Já que essas são áreas tão desvalorizadas na nossa sociedade, e é, pois, a proposta do corte prova isso, porém já demonstrei a importância que elas possuem, ao invés de tira-las do alcance daqueles que não têm condições de pagar uma faculdade privada, o governo deveria estimular os jovens a ingressarem nesses cursos, pois eles ampliam o pensamento e aumentam o censo crítico. 

Médicos cuidam da saúde, veterinários cuidam de animais e engenheiros cuidam das estruturas. E quem vai pensar nessa terra tupiniquim? Os políticos? Os da classe do Presidente?

Se for assim, minha proposta é que se faça o que Raul Seixas disse: “A solução pro nosso povo eu vou dá. Negócio bom assim ninguém nunca viu. Tá tudo pronto aqui é só vim pegar. A solução é alugar o Brasil”. 

Alison Henrique Moretti


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