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A impermanência nossa de cada dia


Por: R. S. Borja
Data: 13/06/2024
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Desde que nascemos e durante a infância aprendemos que a única coisa inevitável na vida é a morte. Com o passar dos anos, descobrimos que há outra coisa da qual não conseguimos escapar ou fugir, por mais que queiramos: a tal da impermanência.

Traduzindo. As únicas certezas que temos na vida é que um dia nosso passeio por este mundo cessará e que tudo, a toda hora, muda, nada, absolutamente nada permanece igual. As transformações ocorrem a cada momento, algumas imperceptíveis, outras escancaradas, como por exemplo, as harmonizações (ou (de) monizações faciais, dependendo do resultado). A forma de falar, de vestir, de pensar, agir, olhar o mundo se alteram a cada dia, semana, mês ou ano.

O paladar, a forma de sentir, demonstrar, amar, o corpo (aliás, nesse último quesito, um amigo sempre dizia que, com raras exceções, o tempo era uma fábrica de monstros). Cada um de nós percebe e sente essas mudanças no dia a dia: aquele esporte que amávamos praticar, hoje não nos anima sequer a trocar de roupa para ir; aquela comida que achávamos fantástica, hoje não conseguimos nem sentir o cheiro; já aquela outra que não conseguíamos colocar na boca, hoje consideramos a mais saborosa do mundo. O mesmo serve para bebidas, filmes, programas de fim de semana. E mesmo que não queiramos sentir ou ver, tal como a morte, as mudanças ocorrem, ainda que não queiramos.

E, diante dessa consciência da finitude e a mutabilidade da vida, surgem algumas das maiores questões do dia a dia: Por que não aceitamos as nossas mudanças e as das pessoas que nos cercam? Por que nos apegamos tanto a situações que não mais existem e cujas as memórias nos impedem de ir para frente? Por que, tal qual buscamos prolongar nossa vida, não tomamos providências para evitar que aquelas mudanças que nos fazem mal aconteçam?

De antemão já digo que não sei nenhuma das respostas. O que sei, ou melhor, percebo, vejo, observo, é que nós, por não entendermos ou não queremos entender que tudo muda, em especial sentimentos, gostos, relações afetivas, situações econômicas financeiras, ficamos totalmente desequilibrados quando elas ocorrem, ainda se forem abruptas e profundas, e, na maioria das vezes, tomamos atitudes impensadas que normalmente impactam a nossa e a vida de outras pessoas de forma muito negativa.

Quem nunca ouviu uma história de pessoa, por não aceitar o término de um relacionamento, agride ou até mata outra pessoa, vindo a ser presa, perder anos na cadeia e a causar traumas irreversíveis na outra ou nos familiares de ambos? Quem nunca ouviu histórias de pessoas que ameaçam a outra, que buscam socorro em trabalhos espirituais para “amarrar” a outra pessoa, dispondo de recursos que não tem, cavando um buraco emocional e financeiro? Quem nunca ouviu histórias de pessoas que se encontram em uma situação favorável financeiramente e por conta de má administração, gastos excessivos e desnecessários, vieram a estar em uma situação de dificuldade, deixando de honrar compromissos e muitas vezes buscam recursos por meio de ludibriar amigos, parentes, manchando sua imagem e espalhando prejuízos para diversas pessoas?

E por que isso acontece praticamente todos os dias? Simplesmente porque não entendemos que as pessoas que iniciaram a relação não são as mesmas do momento da ruptura. Que a situação de fartura nos atinge em um determinado momento e que nos amoldamos a ela. Que buscamos retornar aquela situação anterior, fruto da memória, e não viver a situação atual. Porque acreditamos, ou queremos acreditar, que com as atitudes, teremos um futuro igual ao passado, esquecendo do momento presente e de quem somos e que certamente, aquela pessoa atual não é aquela de quem gostamos e que, pelas próprias mudanças da vida, daqui um tempo nem lembraremos mais.

Por tudo isso, acredito que quando o ser humano entender o significado da inevitabilidade da impermanência o mundo se tornará melhor, mais harmônico e menos cruel. Ao tomarmos consciência de que tudo e todos mudam, sentimentos, pessoas, questão emocional, financeira e de saúde, e que essas mudam são geradas por nossas escolhas, conscientes e inconscientes, que levam a ações e omissões, com certeza prestaríamos mais atenção em nós e naquelas pessoas com as quais nos relacionando, percebendo as mudanças cotidianas e as acompanhando para sabermos quando os ciclos se encerram, quando a situação está indo para um caminho indesejado, evitando conflitos, traumas ao mesmo tempo que se mantém a consideração e respeito.

Posso terminar com diversas frases que lemos e escutamos diariamente, principalmente em redes sociais que em suas páginas motivacionais postam:

“Está em um momento bom, vai passar;

Está em um momento ruim, vai passar.

A vida é feita de altos e baixos, por isso nunca desista”

“A vida é feita de escolhas e consequências”

“O plantio é opcional mas a colheita é obrigatória”

Todas elas falam de mudanças e escolhas conscientes. Será que estamos prontos para escolher mudar com sabedoria? Ou sabedoria para olhar as mudanças e aceita-las?

R. S. Borja


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