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Noroeste Revista - Cemitério da Recoleta: O Museu da eternidade em Buenos Aires


Por: Alex Fernandes França
Data: 08/03/2024
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Entre arte, história e mistérios: Descubra o fascinante mundo dos mausoléus da Recoleta

Confira também a matéria na Noroeste Revista (Fotos: Divulgação)

Em setembro, a equipe da Noroeste Revista teve a oportunidade de explorar as riquezas culturais da capital argentina e descobrir os segredos guardados pelo Cemitério da Recoleta. Recentemente elogiado como um dos cemitérios de arquitetura mais interessantes do mundo pela Architectural Digest, este local histórico localizado ao lado da Praça Intendente Torcuato de Alvear, no bairro Recoleta, cativa os visitantes com sua impressionante trajetória histórica e arquitetura singular.

No coração de Buenos Aires, o Cemitério da Recoleta é muito mais do que um simples local de descanso eterno. Com mausoléus de mármore, abóbadas majestosas e estátuas realistas, ele cria uma atmosfera única que transforma uma visita a este cemitério em uma experiência obrigatória. Conhecida como a "cidade de mortos dentro de uma cidade", esta necrópole foi projetada em 1822 pelo arquiteto e engenheiro francês Prosper Catelin, inspirado no famoso Cemitério Père-Lachaise de Paris, e foi o primeiro cemitério público da cidade. Ela foi construída sobre o que antes era o jardim da Basílica de Nossa Senhora do Pilar, um Monumento Histórico Nacional construído em 1732 pelos monges da Ordem dos Recoletos.

No final do século XIX, à medida que as famílias abastadas se mudaram para a zona norte da cidade devido a uma epidemia de febre amarela que afetou os bairros do sul, o bairro Recoleta ganhou status de "classe alta", e o cemitério tornou-se o local de sepultamento preferido dessas famílias, assim como de cidadãos argentinos de grande prestígio.

Entre as lápides, túmulos e mausoléus impressionantes, encontram-se personalidades que desempenharam papéis cruciais na história argentina, como Eva Duarte de Perón, escritores notáveis como Silvina Ocampo e Adolfo Bioy Casares, médicos, artistas, vencedores do Prêmio Nobel como Carlos Saavedra Lamas e Luis Federico Leloir, esportistas e empresários de destaque.

A entrada principal, marcada por um pórtico que foi concluído durante uma das reformas em 1881, leva os visitantes a uma jornada no tempo. As datas gravadas no chão - 1881 e 2003 - evidenciam as duas grandes fases de desenvolvimento deste local icônico. Mais de 4.000 abóbadas e mausoléus de mármore, adornados com estátuas de variados estilos, compõem o cemitério, organizados em um traçado retangular de quadras e ruas.

Os estilos arquitetônicos que se destacam vão desde o Gótico até o movimento Art Deco, tornando cada mausoléu uma obra-prima única. Atualmente, o Cemitério da Recoleta é o cemitério mais visitado de Buenos Aires, oferecendo um passeio arquitetônico por sua quadrícula tradicional e decorada, que reflete o auge econômico de uma época crucial na história argentina e testemunha a competência das famílias que deixaram sua marca na memória do país.

Além da riqueza histórica e arquitetônica, o Cemitério da Recoleta também esconde segredos e mistérios que o tornam um dos pontos turísticos mais intrigantes de Buenos Aires. Durante o dia, os visitantes exploram mausoléus e monumentos que são verdadeiras obras de arte, mas à noite, o cenário muda. A lenda local sugere que os fantasmas, os verdadeiros donos deste lugar, tomam conta do cemitério, envolvendo-o em histórias de tragédia, amor e amizade.

O Cemitério da Recoleta é um tesouro histórico e arquitetônico que continua a encantar visitantes de todo o mundo. Sua mistura única de beleza e mistério o torna um destino imperdível para quem deseja explorar a rica herança cultural de Buenos Aires e mergulhar na história que habita seus corredores de mármore. Uma visita a este local extraordinário é mais do que uma experiência turística - é uma viagem ao passado e uma celebração da vida e da morte.

Algumas histórias intrigantes:

 

A Dama de branco - Luz María

Possivelmente um dos mistérios mais famosos do Cemitério da Recoleta. Em 1925, Luz María sucumbiu à leucemia aos 15 anos de idade. Cinco anos depois, um jovem da alta sociedade avistou uma menina chorando perto das imediações do cemitério. Com compaixão, aproximou-se e convidou-a para tomar um café no que hoje é o renomado Café La Biela, antigamente conhecido como "La Veredita".

Apresentando-se, ela o surpreendeu com um beijo. No entanto, ela imediatamente fugiu em direção ao cemitério, derramando café em seu paletó. Quando ele tentou encontrá-la, descobriu seu paletó manchado de café sobre um túmulo de mármore com a imagem da menina que beijara momentos antes. Segundo a lenda, outros espíritos noturnos sempre deixam uma flor nas mãos da Dama de Branco durante suas caminhadas pelo cemitério.

 

O zelador - David Alleno

David Alleno dedicou a maior parte de sua vida como zelador do cemitério da Recoleta. Sua paixão pelo local era tão intensa que economizou diligentemente dinheiro ao longo dos anos para ser sepultado ali. Quando finalmente reuniu os recursos necessários, encomendou uma escultura da Itália. Após a conclusão de seu próprio jazigo, ele retornou para casa e tirou a própria vida.

 

Liliana Crociati e seu cachorro

Liliana encontrou a morte em uma avalanche durante sua lua de mel na Áustria, enquanto seu fiel cachorro faleceu em Buenos Aires no mesmo dia. Em homenagem a ela, sua família encomendou um túmulo, um dos mais belos do cemitério, que reproduz o quarto onde costumava dormir, junto com uma estátua de seu leal cão ao seu lado.

 

Rufina - A jovem enterrada viva

Outro conto conhecido como a "Dama de Branco" envolve a trágica história de Rufina Cambaceres em Buenos Aires. Ela foi encontrada morta no dia em que completaria 19 anos, supostamente vítima de um ataque cardíaco, conforme os médicos diagnosticaram, e foi enterrada no dia seguinte.

Entretanto, dias depois, notou-se um deslocamento no caixão, e seu corpo não estava mais na posição em que fora sepultado. Marcas de unhas foram encontradas tanto no caixão quanto nas mãos e no rosto da jovem, sugerindo que ela poderia ter sofrido de catalepsia, um estado em que a pessoa parece estar morta, mas não está, ou seja, Rufina foi enterrada viva. Seu mausoléu apresenta uma estátua que a representa abrindo uma porta, simbolizando o terrível acontecimento.

 

Capitão Gandhi

Um dos mistérios mais sinistros do Cemitério da Recoleta envolve o político Germán Fernández Alvariño, conhecido como "Capitán Gandhi". Em 1953, ele entrou ilegalmente no cemitério e dirigiu-se ao mausoléu da família Duarte, onde o corpo de Eva Perón estava enterrado. Lá, ele decapitou Juan Duarte, o irmão de Evita, levando sua cabeça como troféu para sua oficina, onde a manteve na geladeira e a exibiu a seus colegas.

 

Inés e os Cavaleiros da Noite

Em 1881, um grupo autodenominado "Caballeros de la Noche" sequestrou o caixão de Inés, cunhada do governador de Buenos Aires na época. Eles logo perceberam a impossibilidade de completar o feito devido ao peso do caixão, levando a família e a polícia a descobrirem que o caixão ainda estava dentro do cemitério. Para libertar Inés, o resgate foi pago, mas com dinheiro falso. Surpreendentemente, os "Caballeros" foram absolvidos, pois naquela época a lei não abordava o roubo de cadáveres. Posteriormente, o artigo 171 foi adicionado, com pena de 2 a 6 anos de detenção para quem "subtrair um corpo fazendo pagar por sua devolução".

 

Os três amigos

Também encontramos histórias de amizade no Cemitério da Recoleta. Na década de 1980, três amigos decidiram erguer um monumento em celebração à sua amizade dentro do cemitério. A inauguração foi marcada por uma grande festa com champanhe, brincadeiras e discursos. No entanto, de forma misteriosa, os três amigos faleceram por diferentes motivos nove meses depois.

 

Outras histórias e mistérios

O Cemitério da Recoleta é rico em histórias e lendas intrigantes. Há a história da "Fiel Mucama", uma servente sepultada junto com uma família, mas fora do mausoléu. Existe também a história de um casal que brigava tanto em vida que solicitou que suas estátuas fossem posicionadas de costas umas para as outras. Há relatos de que uma neta de Napoleão esteja enterrada ali. Além disso, há o caso de um jogador enterrado aos 20 anos, e a lenda diz que se pode ouvir o som de uma bola e corridas durante a noite.

Por fim, não podemos deixar de mencionar o túmulo mais visitado do cemitério, o de Eva Perón. Ela faleceu em 1952 devido a um câncer e seu corpo foi embalsamado e exposto. No entanto, seu corpo foi sequestrado e recuperado várias vezes antes de finalmente repousar no Cemitério da Recoleta em 1976, 24 anos após sua morte.

 


Anuncie com Jornal Noroeste
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