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O ABISMO SÓCIO-RACIAL BRASILEIRO


Por: Josimar Priori
Data: 18/02/2021
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Josimar Priori

            Tenho destacado nos últimos textos a existência de uma profunda desigualdade entre negros e brancos no Brasil. Sustentei que a desigualdade racial perpassa diversas esferas, de modo que pessoas negras levam desvantagem em relação aos brancos em inúmeros indicadores sociais, como o nível de pobreza, acesso à educação e taxa de homicídios. Inúmeras pesquisas tem confirmado essa tendência. Pretendo, com este texto, trazer alguns números a respeito.

            O Relatório das Desigualdades de Raça, Gênero e Classe, produzido por pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro em 2017, apresenta dados importantes sobre a temática. A pesquisa explica que, de acordo com o IBGE, a população negra brasileira é composta por pessoas autodeclaradas pretas e pardas, em razão das similaridades de ambos os grupos nos indicadores socioeconômicos. Citando dados de 2015, o estudo indica que 45% dos brasileiros se declaram pardos e 9% pretos, o que torna o Brasil um país majoritariamente negro.

Apesar de serem a maioria, a investigação demonstra que os negros vivem em piores condições. De acordo com a pesquisa, enquanto 15% da população branca recebia até meio salário mínimo per capita por mês no ano de 2015, esse quantitativo era de 29% para os pardos e 31% para os negros. Tais dados mostram que a pobreza segue sendo um problema estrutural do Brasil, mas ela está muito longe de ser distribuída igualmente, visto que há o dobro de negros nesta condição, quando comparados aos brancos. Quando se olha no outro extremo do indicador, observa-se que 7% dos brancos recebiam renda per capita mensal de mais de cinco salários mínimos, enquanto apenas 2% de pretos e 2% de pardos possuíam renda superior a este valor.

            A desigualdade racial aparece de maneira muito clara também no acesso à educação. Também no ano de 2015, o número de negros sem nenhuma escolaridade era mais do que o dobro dos brancos. Enquanto 4% de pessoas deste grupo não possuíam nenhuma escolaridade, havia 9% de pretos e 9% de pardos que nunca tinha entrado numa escola. Por outro lado, 19% dos brancos possuíam ensino superior completo, enquanto apenas 7% dos pretos e dos pardos detinham tal diploma. Observa-se também desigualdade quando se nota que brancos possuíam uma média de 10 anos de escolaridade, enquanto pardos e pretos oito anos.

A pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, realizada pelo IBGE em 2019, por sua vez, demonstra que, no ano de 2018, 12,5% das residências negras não possuíam coleta de lixo, enquanto domicílios de brancos sem este serviço somavam 6%. 42,8% dos negros não contavam com rede coletora e pluvial, enquanto brancos desatendidos somavam 26,5%. Já em relação ao abastecimento de água, 17,9% dos domicílios negros estavam desassistidos, enquanto 11,5% dos brancos não tinham água encanada.

Já o Atlas da Violência, publicado em 2020 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, mostra que os negros possuem chances bem maiores de serem assassinados. Segundo o estudo, em 2018, 75,7% das vítimas de homicídios no Brasil foram negros e negras, o que representou um crescimento de 11,5% no número de assassinatos deste grupo entre os anos de 2008 e 2018. O número de homicídios contra brancos, por outro lado, caiu 12,9% no mesmo período. Quando se olha especificamente para as mulheres, nota-se que as negras também são mais assassinadas. Em 2018, 68% das vítimas foram mulheres negras. Igualmente, entre os anos de 2008 e 2018, a taxa de homicídios de mulheres brancas caiu 11,7% e entre as negras aumentou 12,4%.

Poderíamos tecer muitas e profundas reflexões sobre esta realidade. Destaquemos apenas algumas delas. São, de fato, números preocupantes que afetam toda a população. Considerável taxa de analfabetismo, grande número de pessoas vivendo com renda extremamente baixa, saneamento básico precário e altos índices de violência. No entanto, estas realidades não são distribuídas proporcionalmente entre os diferentes grupos étnico-raciais, o que nos permite afirmar que o Brasil além de possuir um grave problema social, é também racialmente injusto, pois, como se vê, negros e negras e negras são os mais afetados com todas estas situações aqui descritas.

 

Josimar Priori


Anuncie com Jornal Noroeste
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