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Corpos largados nas esquinas do Rio de Janeiro


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 10/12/2024
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Quando construí esta nova exposição de ideias, destaco que o tema presente no título, teve sua origem a partir de minhas observações e reflexões acerca de um fato cada vez mais intenso e comum, em diferentes localidades da capital do Rio de Janeiro, que me faz encontrar o que denomino como corpos largados nas esquinas. Uso aqui a noção de largado, com a adjetivação de abandonado, rejeitado, esquecido e desprezado.   Reforço que tal situação se torna cada vez mais presente e intensa, nesta cidade onde tais corpos, sejam de homens, mulheres e crianças. Jovens e Idosos. E principalmente de negros e não brancos, se encontram intensamente largados nas esquinas da cidade do grande Rio. Partindo deste aspecto, posso descrever estes corpos enquanto totalmente desnudos. Muito enfraquecidos. Extremamente imundos. Enfim, carentes de muita coisa. Carentes principalmente de maior atenção, respeito e cuidado.

Indubitavelmente, podem ser descritos e denominados como corpos largados nas esquinas. Corpos sofrendo com intenso abandono, esquecimento e indiferença. Quando percebidos, são vistos na condição de coisas e não de alguéns. São outros desprovidos de humanidade, dignidade e também de moralidade. São alteridades largadas a sorte das esquinas e das ruas. Há ainda corpos largados mais atrevidos que ocupam o chão da frente das lojas e dos restaurantes de bairros importantes da cidade do Rio de Janeiro, tanto na zona norte quanto na zona sul. Não posso deixar de expressar minha impotência perante tal quadro, pois às vezes busco fazer algo, para minimizar tal situação de largamento destes corpos, porém não é nunca suficiente. Ao mesmo tempo, o descaso e a indiferença, por parte da estrutura oficial e também da população em geral, torna o quadro mais incômodo, além de bastante complicado.

Penso por fim, nas notícias oficiais destacando a diminuição da pobreza e das desigualdades sociais. Ótima situação sem dúvida. Contudo, como não levar em conta estes corpos largados em praticamente cada esquina da cidade do Rio de janeiro. Corpos desnudos inclusive de uma visão estatística, para que assim possam ser mais assistidos, enquanto seres humanos passíveis de humanização e eventual retirada de seus corpos das esquinas ou mesmo evitar que cheguem a ocupá-las com seus corpos.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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