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A cidade de Nova York recordou nesta quarta-feira, 11, as quase 3.000 pessoas mortas em 11 de setembro de 2001, em uma cerimônia solene no Marco Zero, onde os aviões sequestrados pelo grupo Al Qaeda derrubaram as Torres Gêmeas há 18 anos. Esse foi o ataque mais mortal ocorrido em solo americano desde Pearl Harbour, em 1941.

Mas o que aprendemos depois de 18 anos? Terrorismo em nome de Deus? 

No que diz respeito aos eventos do 11 de setembro de 2001, o que vemos é um caso de extremismo religioso. Os extremos nunca são saudáveis, independentemente da área em que se aplica. E se tratando de religião, o extremismo sempre foi algo nocivo para a humanidade. 

Matar em nome de “Deus” sempre esteve presente no pensamento religioso, desde os tempos antigos onde se oferecia sacrifícios humanos para “aplacar” a ira dos deuses, passando pelas Cruzadas (séc. XI-XIII) onde expedições foram formadas sob o comando da Igreja, a fim de recuperar Jerusalém causando uma guerra santa, até aos eventos de terrorismo mais recentes. 

Mas a questão é: a religião manda matar?

Nos três exemplos que mencionei acima fica evidente que sempre se tratou de um equivoco fruto da distorção humana em relação aos fatos que sempre tiveram origem  na ambição desenfreada da humanidade. A religião não manda matar.  

Os homens ofereciam pessoas como sacrifício na tentativa de obter o favor divino, quanto maior o favor desejado maior deveria ser a oferenda. Depois vem o conceito do monoteísmo (só existe um Deus). 

O que mais importava não era a teologia do monoteísmo, mas suas práticas políticas. A identidade da Igreja, com seu único bispado em Roma, com a autoridade do Império Romano com seu imperador único, requeriam uma religião com um deus único. Não demorou a travar uma guerra santa em nome da Igreja, e com a “benção” de Deus. 

Por fim temos os casos de terror em nome de Alá. Vingança aos inimigos de Alá. Essa é a justificativa aos atentados terroristas praticados por radicais islâmicos. 

Afinal, política e religião se misturam?

Se você acha que religião é uma experiência privada em que simplesmente um ser humano tem uma conexão com um ser divino, então não tem o porquê de misturar religião com política. 

O problema é que a religião não se define apenas nesses termos. Religião é principalmente uma questão de identidade, muito mais do que de fé ou prática. Quando o individuo religioso professa sua fé dizendo “sou muçulmano” ou judeu ou cristão, está formulando tanto uma definição de sua fé quanto uma definição de sua identidade. Está falando sobre quem ele é como vê o mundo e como compreende seu lugar nele.

 Quando tratamos de identidade, a religião é profundamente entrelaçada com todos os outros aspectos da identidade de uma pessoa: cultura, etnia, raça, gênero, orientação sexual, e, claro, orientação política. 

Então simplesmente é impossível divorciar religião da política. É obvio que pode haver problemas, e na maioria das vezes tem, especialmente uma vez que religião diz muito respeito a “mandamentos”, enquanto a política (pelo menos em teoria) supõe-se ser a respeito de compromissos. 

Mas, se o Estado oferecer liberdade de culto, então não se pode esperar que a religião se separe da política. De todo modo, é preciso assegurar proteções para aqueles que não compartilham da religião majoritária ou que não têm nenhuma religião.

Cristianismo, Islamismo, Judaísmo, etc., o que a história tem nos mostrado é que o homem sempre achou uma maneira de usar a religião em nome da sua ambição. Posso não professar a mesma fé que você, mas isso não me dá o direito de tirar a sua vida ou até mesmo de querer impedir que você expresse sua fé. 

Ao refletir sobre a incoerência presente entre as atitudes de cristãos e a pessoa de Jesus, Mahatma Ghandi disse certa vez: “não conheço ninguém que tenha feito mais para a humanidade do que Jesus. De fato, não há nada de errado no cristianismo. O problema são vocês, cristãos. Vocês nem começaram a viver segundo os seus próprios ensinamentos”.

O problema não são as religiões, e sim os religiosos. 

 

Alison Henrique Moretti é Teólogo, acadêmico do curso de Licenciatura em Filosofia da Unipar e está se especializando em Filosofia Contemporânea pela Faculdade Estácio de Curitiba.

Alison Henrique Moretti


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