Na próxima quinta feira 31 de outubro de 2019 comemora-se os 502 anos da Reforma Protestante. Vamos falar um pouco sobre o contexto histórico em que esse evento aconteceu e depois fazer uma breve analise do resultado disso aqui no Brasil
Os anos que antecederam o inicio do movimento que deu origem a Reforma Protestante em 1517 foram marcados pela degradação do papado, as explorações e extorsões feitas pelos lideres da Igreja e suas intromissões em todos os negócios da Igreja e também do Estado, os vícios, as ambições desmedidas, a incompetência e negligência do clero, a queda geral da disciplina e a administração entregue às mãos de bispos fracos e corruptos.
Martinho Lutero (1483-1546) entrou para a vida sacerdotal em meio a uma tremenda batalha espiritual. Tinha entrado para o mosteiro à procura da salvação, mas não encontrou a paz e a segurança de quem está no caminho de Deus. Excedeu-se em jejuns, vigílias e flagelações. Livrou-se dessa indescritível angústia, desse terror espiritual, pelo que lhe foi revelado a respeito da verdade central do Evangelho de Cristo. Ou seja, a salvação vem de Deus e não dos homens.
Em 31 de outubro de 1517, véspera do Dia de Todos os Santos, quando enorme multidão comparecia à Igreja do Castelo, na cidade de Wittenberg, Lutero colocou às portas dessa igreja as 95 teses que tratavam do caso das indulgências.
O gesto audacioso de Lutero tomou proporções inimagináveis por ele, até fundaram uma igreja com o seu nome “Luterana”, algo que com certeza ele abominaria.
Ainda naquele século (VI) surgiram muitos reformadores, a maioria com uma boa teologia como a de Lutero e de boa fé, outros nem tanto. É caso do rei da Inglaterra Henrique VIII (1491-1547). Henrique aderiu os princípios da Reforma porque o Papa se recusou a lhe conceder o divorcio com a sua então esposa Catarina de Aragão (1509–1533), depois de divorciado Henrique casou-se cinco vezes, isso porque ele havia se autodeclarado chefe da nova Igreja da Inglaterra, logo, ele poderia conceder a si mesmo quantas cartas de divorcio ele quisesse.
Os séculos passaram e nunca houve uma hegemonia de pensamento entre aqueles que seguiram os passos dos Reformadores do século VI. Isso explica a quantidade de denominações (igrejas diferentes) que temos hoje.
No Brasil os protestantes chegaram depois da metade do século XIX, um tanto tarde, pois, antes não havia abertura para missionários de outra religião que não fosse a Católica.
No inicio do século XX chegam os Pentecostais, eles se instalam no norte do país, o movimento cresce e logo está presente em todo o Brasil. É ai que o termo “evangélico” começa a ser usado para designar aqueles não são Católicos.
No cenário brasileiro quando falamos em “evangélicos” tende-se a ideia de que é tudo a mesma coisa, o que não é verdade. Como já dito acima, o movimento iniciado por Lutero e que conquistou o coração de muitas mentes brilhantes e de boa fé do século VI, não conseguiu se estabelecer de uma forma homogênea, ou seja, apesar de que nos pontos fundamentais a maioria concordava, sempre havia um ponto de desacordo.
Quando falamos de evangélicos no Brasil, estamos falando daqueles que ainda seguem os passos de Lutero e seus contemporâneos, mas também estamos falando do individuo de boa fé que em busca de uma cura, um milagre, respostas para as suas angustias acabou caindo no ledo engano de frequentar uma igreja que tem de tudo, menos os ensinamentos de Jesus.
É preciso entender que o movimento se fragmentou a tal ponto de ser quase impossível de traçar uma identidade quando se fala de uma igreja evangélica aqui no Brasil. Isso quando se trata das mais recentes. Não estou afirmado que todas as igrejas novas não possuem identidade ou que não são autenticas, alias, quanto ao ultimo quesito não sou eu juiz para declarar tal sentença.
Apenas afirmo que como uma das características da pós-modernidade é a pluralidade, as igrejas evangélicas também são plural no que diz respeito a sua identidade. Também acabam assumindo praticas de outras religiões, a maioria dessas igrejas tem sua identidade vinculada a do seu líder, que geralmente também é o fundador, morre o fundador, muda às características.
O que Lutero diria se vivo estivesse? Difícil dizer, mas com certeza não estaria feliz com o rumo que as coisas tomaram. Minha opinião é que precisamos de uma nova Reforma, mas o difícil é surgir um novo Lutero que consiga reunir as milhares de denominações evangélicas e convencer as mesmas a ouvi-lo. Mas já que estamos falando de igrejas e em igrejas geralmente se fala de fé, então, tenhamos fé.