Recentemente recebemos uma pessoa em casa e a primeira pergunta que ela fez foi: qual é a senha do Wi-Fi? Você já passou por esse tipo de situação? Aposto que sim, tanto de um lado como do outro.
Houve um tempo em que para receber bem uma visita oferecia-se uma xicara de café, uma fatia de bolo, um pedaço de torta ou até mesmo um copo de agua gelada em dias quentes como os da estação que estamos. Mas isso é passado, hoje em dia se você quer agradar o visitante, legal mesmo é revelar logo de inicio a senha do seu sinal do Wi-Fi.
Mas o que houve no curso da história que fez com que as pessoas trocassem um cafezinho pelo sinal do Wi-Fi?
A resposta é simples, foi o advento da Internet. No Brasil, as conexões inicialmente foram feitas no setor acadêmico, isso por volta do ano 1988, somente anos depois foi destinada a usuários domésticos e empresas.
A internet começou a chegar até os “meros mortais” por volta de 1994, mas o grande boom da rede aconteceu ao longo do ano de 1996. Um pouco pela melhoria nos serviços prestados pela Embratel.
Em menos de vinte anos de uso comercial, a internet modificou diversos aspectos da convivência humana. O principal deles foi a ampliação do conhecimento e do acesso à cultura. Tomando apenas por base os cinquenta anos anteriores à abertura da internet, as informações difundiam-se pelos livros impressos. As pesquisas escolares eram realizadas em enciclopédias e almanaques, disponíveis em bibliotecas e bancas de jornal.
Se você cursou o ensino fundamental ou o ensino Médio na década de 1990 assim como eu, com certeza você já teve que pesquisar na “lendária” Enciclopédia Barsa. Bons tempos. Agora, se você nasceu depois do ano 2000, sua fonte de pesquisa foi o “glorioso” Google.
Pela facilidade do acesso em qualquer hora e lugar, a velocidade da transmissão do conhecimento aumentou quase ao infinito. Isso fez da internet uma concorrente feroz do rádio e da televisão. Quanto aos livros, cresceu o número de textos que substituíram o material em papel pelas telas dos computadores, tabletes e similares.
A vida em sociedade fez surgir esferas de relacionamento do ser humano, as quais se transformaram com o passar dos séculos. A internet transformou as distinções entre essas esferas de relacionamento e também nossa relação com o tempo e espaço. Sendo possível acessar a rede de qualquer lugar e a qualquer hora do dia, permite-se a atuação na esfera social, ser visto e ouvido por todos, sem o necessário contato presencial para o estabelecimento dessas relações.
Diante dessa nova realidade, surge uma terceira esfera: a esfera virtual, em que a pessoa se apresenta na rede sem estar presente. O trabalho pode ser realizado socialmente com os trabalhadores em seus lares. O comércio é realizado não mais exclusivamente no mercado, mas também de um ambiente privado ao outro. Crimes podem ser agora praticados a distância.
A internet com certeza mudou o mundo e trouxe consigo muitas melhorias, mas a plena liberdade de difusão de informações e opiniões não significa, contudo, que o conhecimento melhorou.
Nílson José Machado em um artigo publicado na revista Estudos Avançados, diz que o uma vez que o conhecimento sobre determinado assunto não está reunido em um ponto, mas está distribuído por toda a parte, não existem pontos de partida obrigatórios ou caminhos a serem seguidos: a pesquisa tornou-se transdisciplinar. Em termos de historicidade, a facilidade de difusão de informações permite que a atualização seja muito rápida, defasando-se os conhecimentos em pouco tempo.
Tudo isso faz com que o primeiro pedido de uma pessoa ao chegar à sua casa ou até mesmo no seu estabelecimento seja a senha do Wi-Fi. Ela quer se conectar, talvez por motivos comerciais, mas na maioria das vezes é para acessar as redes sociais.
As redes sociais podem ser consideradas uma espécie de “realidade paralela”, pois, elas nunca expressão a realidade dos seus usuários. Ninguém posta fotos ao acordar, nenhum casal atualiza o status dizendo “acabamos de brigar”. Comum mesmo são fotos em restaurantes, festas, praias, enfim, como se a vida fosse perfeita e todo mundo vivesse num conto de fadas. Vez ou outra algum melancólico arrisca postar “sentindo-se triste”.
A internet encurtou as fronteiras, alargou as possibilidades em diversos setores da vida mas também trouxe consigo o ônus da superficialidade. Em tempos dos relacionamentos “virtuais”, tudo é muito superficial e frágil. “Amizades” são feitas e desfeitas com apenas um click. Estar conectado é o mesmo que ter o mundo na palma das mãos por meio do seu smatphone, mas é muita informação para ser processada, por isso não damos conta e nos tornamos superficiais. Para onde caminha essa geração do “Wi-Fi”? O futuro é incerto. Mas uma é coisa é certa, a internet é um caminho sem volta, por isso, busquemos um futuro com menos conexão com a “máquina” e mais conexão com as pessoas.