Sucesso é diferente de fama, mas essa distinção, na prática, a muitos confunde. Se fosse perguntado a alguém o que é uma cirurgia de sucesso, a resposta seria uma cirurgia que atingiu o objetivo; por consequência, um médico de sucesso deveria ser aquele que, com constância, atinge os objetivos de sua profissão.

Com a escrita, o mesmo deveria se passar. Um trabalho de sucesso seria aquele que conseguisse responder aos seus problemas, e um escritor de sucesso, por analogia, aquele cujas obras contribuíssem para o seu campo específico.

Os dois parágrafos, que em tudo guardam relações, na prática se revelam diferentes, isto é, um médico ou um escritor de sucesso seriam aqueles que teriam angariado grande fama, para além dos pacientes e dos leitores. Mas, contra tais visões, que se mostram equivocadas, é que este texto se opõe e que dará um exemplo na sequência.

Certo dia fiz três perguntas a um escritor com uma extensa carreira literária: “O que é ser escritor? Como se tornar um escritor? O que é ser um escritor de sucesso?” Quanto às duas primeiras, as respostas foram boas, mas, quanto à terceira, caiu em clichês quantitativos. Eis a resposta: “Eu não sei o que é ter sucesso. Eu tenho poucos leitores.” Na verdade, perto de mim, ele tem muitos leitores, mas, isso não significa que não atingi os meus objetivos com os livros, ou seja, que eu não tenha sucesso.

Sob tais perspectivas é que é possível afirmar que um professor, um médico ou um escritor que consiga realizar bem o seu trabalho possui sucesso, e que, se além disso, conseguir inspirar, é alguém de fama. Colocar a palavra “sucesso” em perspectiva, eis algo fundamental para questionar o império da quantidade.