Sharenting
Por Luiza Gabriella Berti*
As tecnologias e as redes sociais estão tão integradas ao nosso cotidiano que muitas das vezes não nos damos conta dos malefícios que podem vir a causar no âmbito das nossas vidas, seja no pessoal e, até mesmo, no profissional. Se nos adultos a exposição reiterada já tem o condão de vir a resultar em uma série de danos, imagine na história de crianças e adolescentes?!
Hoje venho falar de um fenômeno de nome pouco conhecido no Brasil, mas que ocorre com muito mais frequência do que se imagina. É o chamado sharenting, já ouviu falar sobre? Esta expressão vem da língua inglesa, das junções das palavras share, que significa compartilhar, e parenting, que seria parentalidade. Pela tradução já deu para ter uma ideia do que isso significa, então vamos lá!
O sharenting resta caracterizado pela exposição reiterada de imagens, dados e informações de crianças e adolescentes pelos próprios genitores nas redes sociais. Sabe aquela história que os genitores dizem aos filhos de que não devem falar com estranhos e tomarem cuidado com quem se comunicam, seja na internet ou em qualquer outro lugar? Pois então, muitos andam fazendo exatamente ao contrário do que aconselham aos seus filhos.
Primordialmente, importante esclarecer que neste artigo não se pretende criticar toda e qualquer veiculação de crianças e adolescentes nas mídias sociais. Até porque, se usadas com filtro e sabedoria, podem influenciar de forma positiva no desenvolvimento desse público. Como, por exemplo, demonstração de afeto e amor! Além de que, até atingirem, em regra, os dezoito anos de idade, os pais é quem são seus responsáveis legais e tentarão exercer sua responsabilidade parental da melhor forma possível, a fim de que seus filhos se desenvolvam em um ambiente saudável.
Ocorre que a exposição da vida privada se tornou um hábito muito frequente entre nós, inclusive como uma espécie de aceitação social. De forma que o âmbito da vida privada vem perdendo espaço. Neste sentido, é natural que os filhos façam parte da vida de seus genitores e, mais natural ainda, que queiram mostra-los para o mundo, como parte de sua liberdade de expressão e externalização de afeto aos seus pequenos.
No entanto, é necessário que se tenha em mente que nem sempre a internet é um local seguro para veicular imagens, dados e informações de seus filhos. Mesmo que se tente dificultar a sua visualização por terceiros, a “rede” não é um local totalmente conhecido por nós e existem cada vez mais pessoas que se utilizam de mecanismos para darem fins nocivos aos materiais coletados de infantojuvenis. Como, por exemplo, se utilizar da imagem de crianças e adolescentes sema permissão de seus pais, ou, mais grave ainda, liga-los a crimes que firam a dignidade sexual dos vulneráveis.
De igual forma, é importante que se pense como seu filho reagirá ao ver, quando mais crescido, o que foi posto sobre ele nas redes sociais. Pode parecer irrelevante, mas algumas situações, aos olhos de crianças e adolescentes, são vistas como vexatórias ou constrangedoras e isso pode acompanha-los por toda a sua trajetória, tendo em vista que ambos estão em situação de constante desenvolvimento.
Postar demasiadamente nas mídias sociais também pode influenciar no conceito de vida privada de crianças e adolescentes, que passarão a achar que postar basicamente tudo é normal, haja vista que a maioria detém como principal exemplo os próprios pais.
É significativo lembrar que as crianças e adolescentes, primordialmente após a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente, são verdadeiros sujeitos de direitos. O poder que os pais exercem e têm em relação aos filhos não é absoluto. É preciso que, antes de se tomar qualquer decisão que os envolva, seja levado em consideração o que for mais benéfico para seu interesse. Pois, o que pode parecer simples, como uma postagem dos filhos nas redes sociais, é capaz de coloca-los sob riscos eminentes. Lembrem-se, compartilhamento com responsabilidade também é um ato de amor!