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Sétima Arte - Adoráveis mulheres e Parasita


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 17/01/2020
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Nesse pouco tempo em que estive de férias muita coisa aconteceu no mundo do cinema. Por exemplo, comédias nacionais (Minha Mãe é uma Peça 3) ultrapassaram a bilheteria de blockbusters (Star Wars – A Ascensão Skywalker), a premiação do Globo de Ouro ditou o tom do próximo Oscar e a divulgação dos indicados ao Oscar polarizou ainda mais as redes sociais que se mantêm divididas desde a última eleição (Democracia Em Vertigem). Diante disso, preferi abrir o ano de 2020 da Coluna Sétima Arte comentando sobre dois filmes que ainda estão em cartaz e que já deram muito o que falar no mundo do cinema nos últimos dias. Comentarei sobre a mais recente versão de Adoráveis Mulheres e sobre o surpreendente sul-coreano, Parasita.

Vamos começar com o drama de época Adoráveis Mulheres. As irmãs March já são velhas conhecidas do público que ama literatura e do público que adora o cinema. A obra baseada no livro de Louisa May Alcott é atemporal e está muito além dos seus 150 anos de idade. A história já foi adaptada para o cinema seis vezes e sua sétima, que está em cartaz, é a mais intimista e interessante de todas. Isso porque a diretora que também é roteirista, Greta Gerwig, conseguiu levar para as telas uma das melhores adaptações literárias já vistas em todos os tempos. 

Sem desmerecer os trabalhos anteriores – inclusive a versão de 1994 com Winona Rider é excelente –, o que se tem na versão atual é uma narrativa não-linear que, na mão de outro profissional, seria problemática e difícil, mas que flui perfeitamente e amplia o prazer e a história nas mãos competentes de Gerwig. Com grande fluidez a diretora transita entre várias épocas ao longo do filme, dando ênfase a vários momentos que, como uma colcha de retalhos, ajudam o expectador a construir a história. Bem por isso, constatar que ela não figura como uma das indicadas ao Oscar de Melhor Direção esse ano é, no mínimo, uma injustiça! Ou uma grande esnobada como dizem os críticos.

Essa forma diferente de narrar a complexa história de Adoráveis Mulheres abre arcos de desenvolvimento para todas as irmãs March, de forma que Jo ainda é a protagonista, mas dessa vez é possível conhecer e se emocionar com as demais irmãs que brilham tanto quanto a própria Jo. Algo que é muito bom, já que o filme não conta apenas com roteiro e direção espetaculares, mas também com um elenco de superestrelas, tendo destaque dentre elas Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Laura Dern, Timothée Chalamet, Meryl Streep e, é claro, a indicada ao Oscar de Melhor Atriz Saoirse Ronan.

Um filme ímpar, com uma história muito bem contada e uma sequencia final que exalta tanto o trabalho de Louisa May Alcott quanto o de Greta Gerwig. Falando em história, vamos à trama!

As irmãs Jo (Saoirse Ronan), Beth (Eliza Scanlen), Meg (Emma Watson) e Amy (Florence Pugh) amadurecem na virada da adolescência para a vida adulta enquanto os Estados Unidos atravessam a Guerra Civil. Com personalidades completamente diferentes, elas enfrentam os desafios de crescer unidas pelo amor que nutrem umas pelas outras.

Não é de hoje que o cinema tem buscado se redimir da forma como tratou as mulheres ao longo do tempo e, ainda mais agora, em tempos de empoderamento feminino. Por isso, assistir à nova versão de Adoráveis Mulheres é compreender como a arte é capaz de contribuir para a construção de um mundo mais igualitário. 

Deixando o romance o drama de lado, vamos falar do filme mais surpreendente dessa temporada, Parasita. Que a Coreia do Sul vem conquistando o mundo há algum tempo por meio da cultura pop, isso a gente já sabia (lembra do Psy com seu Gangnam Style ou do grupo BTS o qual eu não sei nenhuma música, mas que seu filho adolescente provavelmente sabe cantar todas? É disso que eu estou falando!), mas ninguém desconfiava que eles iriam chegar com tanta força ao cinema. Parasita é, no mínimo, perturbador.

Tanto que fez a incrível façanha de receber uma indicação ao Oscar de Melhor Filme e outra ao de Melhor Filme de Língua Não-Inglesa, sendo assim, fica quase subentendido que a segunda, provavelmente, ele já ganhou. Mas quem sou eu para fazer apostas?! O que sei é que o filme tem uma imensa capacidade de mudar de gênero, pegando todos de surpresa e dando a sensação ao expectador de estar numa montanha russa de sentimentos.

Ele é tragicômico, ele é sanguinário, parece terror, mas além de tudo ele é uma crítica social complexa e pesada e, a meu ver, isso é o que ele tem de melhor. O diretor Bong Joon-ho já é conhecido por esse tipo de narrativa em que há reviravoltas e mudanças de gêneros, mas sua fama nunca havia chegado ao ocidente. Agora ele conquista o público e a crítica ao estampar as mazelas da estratificação social de forma crua e a miséria e a ostentação como duas faces de uma mesma moeda.

O filme pode ser dividido em três partes e cada uma irá despertar um sentimento diferente em você. Primeiro você vai se divertir com uma elaborada farsa cômica, exagerada, mas, mesmo assim, convincente. Depois o suspense se instaura e você começa a perceber que as agruras da vida levam indubitavelmente à luta de classes e, por fim, a tragédia vem recheada de terror. Dando um desfecho plausível para uma bomba-relógio armada no momento em que você senta diante da tela grande do cinema. Ficou curioso, conheça um pouco melhor a trama.

Toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.

Dois filmes incríveis. Adoráveis Mulheres é uma obra de arte e atende ao gosto de muitos fãs de cinema, por outro lado Parasita é a arte em toda a sua capacidade crítica exposta de forma abrupta, não é um filme para todos, mas é um filme que todos deveriam ver. Aproveite que os dois ainda estão em cartaz e curta bem esse finalzinho de férias indo ao cinema. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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