Enfim chegamos ao ano novo, ao tão esperado e desejado 2025. As esperanças, metas, objetivos e sonhos se renovam para um novo período de trezentos e sessenta e cinco dias sem que exista realmente um motivo ou fato que justifique tais sentimentos.

Acompanhando a catarse coletiva, sempre me recordo da frase de uma música dos Engenheiros do Hawaii: “...E a certeza de que o último dia de dezembro é sempre igual ao primeiro de janeiro”. E mais recentemente, embora a música também seja antiga, adicionei a tradução de uma música do U2: “Tudo quieto no Ano Novo....Nada muda no Ano Novo”.

E na prática o que mudou? Para alguns a cor da pele, de branca para vermelha ou bronze. Para outros, alterou o diâmetro do abdome, o peso na balança, o formato do rosto. Para muitos, aumentou o número de fotos e vídeos na galeria das redes sociais, para outros a experiência de conhecer locais novos. Situações, fatos e circunstancias que podem ocorrer em qualquer período do ano, em especial feriados prolongados.

Ouvindo, lendo ou vendo o que as pessoas, ou nós mesmos, comentam sobre a sua vida no dia 31 de dezembro e o que esperam que aconteça a partir de 1º de janeiro, surge aquele questionamento: Será mesmo que queremos um novo ano ou nos limitamos a viver o ano novo?

A resposta a esta indagação será elaborada com o passar dos meses e será apresentada em dezembro quando poderemos definir quanto de nós só vivemos mais um ano novo, que passou a ser velho, e quantos conseguiram fazer do ano novo um novo ano.

Será que aquela meta de emagrecimento virará aquele meme que diz que dos dez quilos que ia perder só faltam quinze? Será que aqueles doze livros que prometemos ler, um por mês, serão os mesmos da meta do próximo ano? Será que aquela viagem, aquele carro, casa que sonhamos desde 2019 e prometemos que realizaremos esse ano não ficarão para 2026 ou 2027? Será que continuaremos olhando e rolando a tela e vendo a vida dos outros, comparando-as com as nossas mais um ano sem sair do lugar?

A diferença entre se viver um ano novo e um novo ano reside em não aceitar viver somente os dias do calendário da mesma forma que sempre, mas, em buscar mudar a nossa realidade, aceitando e reconhecendo que o que acontece em nossa vida é responsabilidade nossa e espelho do que oferecemos ao outro e a sociedade.

A auto responsabilidade, o autocuidado e o autoconhecimento nos permite sair do piloto automático e assumir o controle da nossa rotina diária, com as mudanças que entendemos necessárias para o nosso bem-estar.

Conseguiremos admitir que estamos acima do peso porque não conseguimos controlar a vontade de comer ou até porque não queremos controlar, não querendo fazer parte do padrão social de beleza e assumindo o risco de termos problemas de saúde. Saberemos que estamos ansiosos porque não estamos conseguindo controlar os pensamentos ou queremos controlar algo que está fora do nosso alcance. Saberemos que algumas conquistas, estar em forma física, ler um livro, viajar, exigem sacrifícios, como se privar de horas de sono, de sair para comer fora, de sentir dor, e, assim, podemos decidir se estamos dispostos a isso ou não.

Sem esses “autos” temos a tendência de olhar para o outro e, consequentemente, atribuir a responsabilidade pelos nossos fracassos a eles. Estamos obesos porque os amigos nos convidam toda semana para um churrasco; não conseguimos viajar porque meu trabalho paga pouco e não porque gastamos muito e não economizamos; não conseguimos ler ou ir a academia porque não temos tempo e não porque ficamos nas redes sociais vendo a vida dos outros.

Enquanto não olharmos para nós mesmos teremos muitos anos novos sem que haja novos anos. E repetiremos as metas, sonhos e objetivos a cada ano novo, aumentando nossa frustração, decepção e diminuindo a esperança na concretização daquilo que queremos.

Que tenhamos um novo ano, repleto de novos dias dirigidos por nós mesmos, para que possamos ao final deste ano novo afirmar que fizemos um novo ano e que para o próximo ano, nossos sonhos, metas e objetivos são outros, porque os definidos para este ano foram todos cumpridos.