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Rosa e Momo


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 19/11/2020
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A Netflix, quando quer, consegue surpreender em grande estilo. Em meio ao frisson gerado pela chegada do Disney Plus, streaming da todo-poderosa Disney, e a uma enxurrada de filmes natalinos, ela liberou, discretamente, uma pequena joia em seu catálogo. Um drama bastante consistente e de uma singeleza ímpar. Pena que o título nacional não chame muita atenção, mas, mesmo assim, merece ser visto. Essa semana a Coluna Sétima Arte traz para você algumas considerações sobre esse excelente drama, Rosa e Momo.

Sophia Loren é um ícone da dramaturgia internacional, grande dama do cinema e uma das maiores estrelas que o mundo já viu. Interessante é que Loren é como o vinho, a cada ano que passa fica ainda melhor. Distante dos cinemas a mais de dez anos, ela retorna para esse drama cheio de humanidade. Brilha ao longo da trama e empresta toda a sua experiência para fazer par com um ator estreante, o jovem Ibrahima Gueye, que em presença tão ilustre dá o melhor de si e encanta o público com sua atuação.

A história de Rosa e Momo não é novidade, baseada no romance do francês Romain Gary, foi levada ao cinema pela primeira vez em 1977, faturando o Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira no ano seguinte. Agora essa trama está repaginada e ganha uma nova versão exclusiva para a Netflix. Quem esteve à frente desse projeto foi ninguém menos que Edoardo Ponti, filho de Sophia Loren e dono de uma direção muito respeitosa e assertiva. Coube a ele conceber à personagem central da história toda a independência e relevância tão típicas de sua mãe.

Ponti constrói seu filme em bases já consagradas do cinema, nesse caso, a amizade entre idosos e crianças. Essa fórmula vem fazendo sucesso ao longo de anos, mas Ponti se aproveita do contexto para gerar um mundo de diferenças entre ambos que está muito além da idade. Em contrapartida, quase que de forma paradoxal, ambos são muito parecidos e se complementam. É como se não apenas as pessoas, mas mundos diferentes estivessem, ao longo do filme, se colidindo para depois se alinharem.

O roteiro é propositalmente simples e, ao contrário do que muitos possam pensar, esse é um traço de muita qualidade e não de defeito. Mais do que o texto, é a história de vida de cada personagem que dá peso a ele. Ainda que essas histórias não sejam reveladas por completo, o público sabe o suficiente de cada uma delas para que haja simpatia, empatia e identificação. São pessoas que vivem na periferia do mundo, com seus traumas e seus dramas cotidianos, muitas vezes ignoradas por todo o resto.

A trama de Rosa e Momo acompanha a história de Madame Rosa, uma judia sobrevivente do Holocausto que vive no litoral da Itália e que abre sua casa como creche para acolher os filhos de prostitutas ou abrigar crianças desabrigadas. Dentre essas crianças está Momo, um adolescente senegalês muçulmano de 12 anos, sem teto e dado a pequenos delitos ele rouba Rosa e acaba sendo abrigado por ela.

Dessa história surge uma das melhores e mais impactantes atuações de Sophia Loren em décadas. E a direção de Ponti não se deixa levar pelo caminho fácil e apresenta uma história sentimental e emocionante sem cair nas armadilhas ou nos clichês tão comuns dos dramas de ultimamente, que visam apenas o choro deliberado e a tristeza sem razão. Tudo está presente ali, a amizade, o amor, a resistência. Embalado por tudo isso, encontra-se uma bela reflexão sobre a vida. Num mundo onde, em pleno século XXI, o diferente ainda é mal visto, o filme demonstra que, por mais diferentes que as pessoas sejam, no fundo todas elas são humanas e tocadas pelos mesmos sentimentos.

Por que ver esse filme? Porque é um bom drama e entrega aquilo a que se propôs da melhor forma possível, sem exageros ou pieguismo. Além disso, esse é um filme que não busca apenas tocar a emoção de seu expectador, mas ajuda-o a pensar o mundo a sua volta e suas próprias relações, colocando em pauta o seu passado e também o passado das pessoas com quem convive. Desperta o respeito e a admiração pelo diferente, já que ele, quase sempre, vem com um pesado fardo. Sem dúvida uma ótima escolha para o fim de semana. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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