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Relacionamento Abusivo: o amor dói?


Por: Simony Ornellas Thomazini
Data: 26/04/2019
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Nem sempre é fácil identificar quando estamos em um relacionamento abusivo. E escrevo esse texto com autonomia pela mulher que sou, e pelas experiências que já presenciei profissionalmente e pessoalmente. Isso acontece porque facilmente perdemos a “medida” daquilo que é considerado abuso. Às vezes acontece, por exemplo, de mulheres viverem sempre em ambientes autoritários, e, quando encontra um parceiro que age da mesma maneira, não conseguem reconhecer como “abuso”. E um relacionamento nunca é só o abuso, ele também é amor, ou, o que as pessoas costumam chamar de amor, mas aqui retomo a questão que está enunciada no título: O amor dói? 

Antes de responder a essa questão precisamos saber o que é um relacionamento abusivo, afinal?

Todo relacionamento em que está vetada a liberdade, vontades, desejos, que se subestima o outro, que o coloca num estado frequente de vulnerabilidade e que possui uma questão muito intrínseca ao poder sobre outra pessoa, é considerado um relacionamento abusivo. Muitas mulheres ainda acreditam na crença de que para ser considerado um relacionamento abusivo é preciso que haja a violência física, porém, essa violência pode ser manifestada também de outras maneiras, como: violência psicológica, moral, intelectual, emocional, sexual e patrimonial.

Para que a mulher possa se dar conta de que vive um relacionamento abusivo é outro processo ainda mais doloroso, porque às vezes isso não é tão explícito, e é aí que mora outro perigo. Às vezes, acredita-se que aquela maneira pela qual o outro demanda, de forma impositiva e recoberta de ameaças muitas vezes, é entendido pela mulher como uma forma dele “amar”, quando na verdade, é um abuso velado. Existe também casos em que o parceiro manipula tanto a mulher, que a faz sentir-se constantemente culpada se ela não fizer o que ele pede. Assim, ela entra num ciclo de violência da qual não consegue mais sair.

Como identificar?

Quando você, por exemplo, tem o desejo de estudar, mas ele diz que você não precisa, assim como o desejo de trabalhar. Ou seja, ele veta o seu desejo em fazer o que quiser. E aqui entra a possibilidade de se ter uma autonomia financeira, de ter outras expectativas e viver a vida da maneira como desejar. Muitas vezes desejar para além dele, é visto como perigoso, fazendo com que aja de forma autoritária e violenta. 

Outro exemplo é quando ele seleciona a maneira como você vai vestir uma roupa ou dizendo que você não é boa o suficiente, ou que não vai conseguir viver sem ter ele ao lado. Essas são algumas das maneiras que se pode identificar um relacionamento abusivo, mas existem muitas outras, estando explícito ou não. 

Todas as mulheres estão sujeitas a vivenciar um relacionamento abusivo, não existe uma divisão de classes ou cor, embora as estatísticas recentes denunciem que mais mulheres negras são assassinadas por seus parceiros, indicando, portanto, esse recorte de classes, os relacionamentos abusivos podem acontecer com qualquer mulher, independente de sua cor ou classe. Isso ocorre pelo que já foi dito no início deste texto, ou seja, é sempre muito difícil fazer esse julgamento consigo mesmo, e a mulher nunca está num relacionamento desses porque quer, mas encontra-se numa condição em que não consegue sair desse ciclo de violência. 

É possível ajudar?

Nesses casos, são normalmente as pessoas próximas que conseguem perceber que existe algo errado, mais do que a própria vítima. Isso ocorre porque um relacionamento abusivo sempre dá pistas de que algo não vai bem. Nesse sentido, recomenda-se que essas pessoas podem ajudar oferecendo cada vez mais alternativas como: “Você não pensa em conversar isso com um psicólogo?” “Você não pensa em procurar ajuda?” “Você não quer que eu vá junto com você procurar ajuda?”. É importante lembrar que esse não é um processo simples, demanda tempo, e é muito doloroso para a mulher reconhecer que encontra-se numa relação abusiva. Mas, é preciso que parta sempre da vítima a busca por ajuda, porque se fizermos o que ela poderia fazer por si só, é muito provável que a pessoa acabe voltando ao relacionamento. Existe apenas uma exceção que precisa ser dita abertamente e de maneira enfática: quando há risco de vida. Nesse caso, é imprescindível que haja ações que a retire desse relacionamento, tais como as denúncias anônimas através do número: 180, ou através das leis que asseguram o direito das mulheres como a Lei Maria da Penha, Lei do Feminicídio que são reconhecidos avanços jurídicos, apesar de ainda vivermos numa sociedade machista, com hierarquias de poder aonde a violência ainda é supernaturalizada. 

Tem cura?

Nesses casos de mulheres que são vítimas de relacionamentos abusivos, não dizemos que possa haver uma “cura”, mas é preciso que haja uma ressignificação dessas vivências para que não se caia nesse ciclo de violências novamente. Precisa-se de um tempo para que se possa ressiginificar isso, que não é cronológico, mas lógico, isto é, de acordo com a história de cada um.

Retomo a questão inicial: “O amor dói?” Não! O amor não pode doer, estar num relacionamento em que prevaleça a dor é indicativo de que há algo muito errado. Não estou dizendo que um relacionamento é sinônimo de felicidade, mas é preciso que ao lado haja um companheiro que faça com que a mulher cresça, evolua e possa ser quem ela quiser ser. Alguém que destrói, inferioriza, pune e a rebaixa, não pode ser considerado amor. Nesse caso, é o momento de repensar se esse relacionamento é algo que se quer ou não para a vida, porque aonde há amor, não há abuso.

Simony Ornellas Thomazini


Anuncie com Jornal Noroeste
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