Quem foram os tropeiros?
Vocês comem carne de boi?
Tropeiros. Uma profissão que iniciou no século 18, a partir do ano de 1700, quando a produção de ouro e diamante em Minas Gerais, demandava animais para o transporte desse precioso material para o porto do Rio de Janeiro, por determinação da Coroa. Como era proibido a criação de muares no Brasil, iniciou o transporte desses animais que vinham do excedente da Argentina (Cordoba) que já não eram aproveitados. Para transportar esses animais para o Brasil, foram constituídas as tropas, que eram homens que conduziam esses animais pelas picadas abertas. Daí surgiu a profissão dos tropeiros. A principal estrada aberta foi a Viamão Sorocaba, ligando o Rio Grande do Sul a Sorocaba (SP). Ali eram comercializados na maior feira de muares do Brasil. Chegou a comercializar mais de 100.000 mulas por ano. Essas mulas eram utilizadas para levar alimentos a Minas Gerais e trazer os metais preciosos para o porto do Rio de Janeiro (Paraty).
Dependendo da quantidade de animais que seriam conduzidas, era também o número de tropeiros que constituíam a tropa. Normalmente poderiam ser conduzidos de 800 a 1000 animais. Em 1731, o tropeiro, Cristovão Pereira de Abreu, conduziu uma tropa de 3200 cabeças de gado e 132 homens do Rio Grande do Sul até Sorocaba (SP) (SOLERA, 2010). Essa viagem durou 13 meses, e durante a viagem muitas vilas foram se formando e com o tempo se tornaram cidades.
As mulas eram animais muito procurado para esse transporte, pois poderiam viver até os 35 anos e transportavam até 50% do seu peso, enquanto o cavalo vivia menos e poderia transportar apenas 30% do seu peso.
No livro Tropeirismo e Geodiversidade no Paraná (LICCARDO, 2017) afirma que o tropeirismo oficialmente perdurou até 1959. Mas conhecemos diversos tropeiros que deram a vida a esse serviço até o início do século 21.
Por isso perguntei no início, se vocês comem carne de boi. Hoje esses animais são transportados por caminhões, e esses bois não mais andam pelas estradas. Queremos com esse artigo homenagear todos os tropeiros que trabalharam desde 1700, transportando muares e gado por esse Brasil.
Poema da lembrança
Por essa estrada estou a passar
Que outrora por terra era o caminhar
Florestas a atravessar
Que hoje quase não existe exemplar
Cruzava rio e córrego em perfeição
Que hoje só vejo poluição
A saudade a apresentar
Da poeira a levantar
Do Sol a esquentar
Da chuva a refrescar
Uma tropa devagar a se deslocar
Uma comitiva ansiosa a chegar
Muita saudade e o coração a saltar
Do som do berrante a tocar
Daqueles animais à nossa frente a passar
E de medo correrem a esquivar
Que saudade daquela comida, e o cozinheiro a improvisar
Mas que nossa fome realmente vinha matar
Muitas coisas daquela época vieram a mudar
Inclusive a nos transformar
Um dia, eu sei, que muitas pessoas irão ler
Minhas histórias e vão se surpreender
Como pode por tantas coisas passar
E continuar a viajar?
Eu respondo que era o que eu gostava,
Mas também minha família necessitava
Agora vou me despedir,
Pois uma tropa tem que ir. (Do Livro Memórias de um tropeiro)