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Quantos gols valem uma chuteira?


Por: Jacilene Cruz
Data: 22/07/2025
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Gabriel, meu sobrinho, tem 20 anos. Na verdade, sobrinho-neto. Eu, contrariando a família toda pra variar, ainda o chamo de Biel, quando todos insistem em chamá-lo pelo segundo nome – Asaph. Inclusive é este que está escrito na camisa de número 10 (base) ou 40 (principal) do Figueirense, time de Santa Catarina – creio que essa informação era desnecessária, mas já escrevi, escrito ficará.

Conforme antecipei, Biel é jogador de futebol. Assim como em outras profissões que exigem arte, ser nacionalmente reconhecido é tarefa árdua. Depende, não apenas de talento, mas de oportunidades e condições financeiras para transformar o “dom” em salário digno. Ter nascido às margens do Rio Branco, que fica a milhas e milhas distante[1] de tantas oportunidades, foi uma dificuldade a mais. Entretanto, ele já consegue se manter através dos dribles e gols.

Pincelando um pouco de alegria nessa nossa conversa, digo-lhes que antes de dar tchaw a sua natal boa vista, aos 9 anos, Biel já tinha vivido muita coisa. Pretendo contar várias, mas começaremos de leve. Vamos com uma romaresca história.

Segundo ele mesmo me contou:

- Certo dia, meu tio me fez uma proposta, ou melhor, um desafio. Ele disse que me daria uma chuteira da Nike (minha primeira, no caso) se eu marcasse quatro gols em um jogo contra a equipe mais forte do campeonato. Eu, com apenas 6 aninhos, jogando no sub-9 contra garotos 3 anos mais velhos, não me intimidei. O jogo terminou 4 x 4, e eu marquei os quatro gols da minha equipe.

Que dó do meu lindinho! Imagino o quanto ele correu e driblou. Deve ter botado os bofes para fora. Será que queria mesmo a chuteira? O tio, que sempre foi como um pai, cumpriu a promessa e deu ao danadinho a sonhada chuteira da Nike.

Talvez o tio, que é meu sobrinho-sobrinho, tenha se inspirado na história vivida e contada pelo já não tão famoso e não tão querido baixinho. Aquele que fazia qualquer coisa para curtir o carnaval no Brasil. Qualquer coisa, incluía gols, o que era bom! Diferente de hoje em dia quando alguns jogadores, pela mesma razão, coitadinhos, se machucam.  

Vamos a mais uma história:

Quando ainda jogava pelo Barcelona, Romário queria a todo custo vir curtir a festa da carne na Sapucaí. O técnico Johan Cruyff lançou o seguinte desafio:

- Faça dois gols que eu te libero três dias a mais que os outros jogadores do clube.

O atual senador fez, não apenas dois, mas três gols no primeiro tempo da partida. No intervalo, já de malas prontas, zarpou para aproveitar por sete dias os sambas e amores do carnaval carioca[2].

Missão dada, missão cumprida. Em Boa Vista ou Barcelona. Por uma chuteira da Nike ou por sete dias de festa, eles mereceram o prêmio.

Biel é um grande atleta. Hoje, ao rever minhas memórias para escrever essa crônica, cheguei em uma mensagem que ele me enviou. Li, lacrimejei e vi que estava inundada pela saudade do meu grande parceiro nos jogos de tabuleiro – seja Mexe-mexe, Perfil, Imagem & Ação ou Academia – ele está sempre pronto para se divertir comigo.  E esses dias juntos, não há chuteira que pague.



[1] Versos da primeira estrofe da música A Dois Passos do Paraíso – da Blitz.

 

 

Asaph em jogos de Figueirense

Fotos: https://www.instagram.com/g10asaph/#

Jacilene Cruz


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