Prevenir o abuso infantil é uma missão coletiva
Maio é o mês dedicado ao combate do abuso e à exploração sexual infantil no Brasil. O #maiolaranja é uma iniciativa que visa dar visibilidade a este assunto. Como psicóloga, acredito que a base da prevenção do abuso infantil está na criação de ambientes de respeito, confiança e diálogo constante entre pais, educadores e a comunidade de forma geral. Quando criamos relações afetivas seguras, conseguimos ensinar os pequenos a reconhecer, estabelecer e preservar seus limites pessoais. Pensando nisso, trouxe alguns pontos importante para desenvolverem com as crianças:
? Estabeleça uma comunicação aberta, clara e honesta: Incentive conversas diárias sobre diversos assuntos, mesmo que breves, onde a criança sinta que pode expressar seus sentimentos, medos e dúvidas sem julgamento. Essa aproximação cria uma relação de confiança e torna mais fácil que a criança fale sobre tópicos sensíveis, facilitando assim identificar sinais de desconforto ou situações atípicas. Quando falar sobre o corpo, explique, de maneira simples e adequada à idade, que todo corpo tem partes íntimas que ninguém deve ver e tocar sem consentimento.
? Ensine o conceito de limites e toque seguro: Desde cedo, ajude a criança a compreender a diferença entre um toque seguro e um toque que gera desconforto. Conte histórias, use jogos e exemplos práticos para ilustrar. Ensine que, se alguém ultrapassar seus limites, ela deve dizer “não”, independente de quem seja, e, o mais importante, deve procurar um adulto de confiança imediatamente.
? Monitore o ambiente digital: Na atualidade a interação online é cada vez mais presente, e muitos dos abusos acontecem no ambiente digital, por isso é importante ensinar as crianças sobre segurança na internet. Explique os riscos de compartilhar informações pessoais e fotos, defina limites para o acesso a redes sociais e aplicativos, fique atento à classificação indicativa e, sempre que possível, explore antes o aplicativo. Mantenha um diálogo constante sobre o que elas veem e com quem interagem virtualmente e garanta que saibam que podem recorrer a você se algo parecer inadequado.
? Construa uma rede de apoio: Além do núcleo familiar, incentive a participação da criança em ambientes onde haja adultos confiáveis, como escola, atividades extracurriculares e grupos comunitários. Professores, treinadores e outros cuidadores podem atuar como aliados na identificação precoce de comportamentos suspeitos. Além disso, é importante ressaltar que o abuso muitas vezes pode vir de alguém do núcleo familiar e ter essa rede de apoio pode ajudar a criança a se defender.
? Busque capacitações e informações constantes: Seja você, pai, professor ou alguém da comunidade, participe de cursos, palestras e grupos de apoio sobre prevenção do abuso infantil, adquirir informações atualizadas podem auxiliar no reconhecimento de sinais e ajudar a entender quais os procedimentos adequados para agir em situações de suspeita, criando asssim uma intervenção rápida e eficaz.
? Estimule a autoestima e as habilidades sociais: Crianças que se sentem seguras e valorizadas tendem a ter mais autoconfiança, estando assim mais propensas a informar situações desconfortáveis ou abusivas. Estimule atividades que promovam a autonomia, a expressão emocional e o desenvolvimento de habilidades sociais. Tudo isso promove um fortalecimento emocional e cria uma barreira protetora, permitindo que os pequenos estabeleçam limites com segurança e de forma natural.
? Observe e reconheça os sinais de mudança: Fique atento às alterações no comportamento, como isolamento, regressão em habilidades já adquiridas, medo repentino de determinadas pessoas ou ambientes e fique atento a comentários vagos sobre experiências desagradáveis. Essas mudanças podem ser um sinal de que algo não está bem. Ao notar essas mudanças o acompanhamento psicológico e a vigilância atenta irão ajudar a intervir de forma precoce, antes que a situação se agrave.
Essas medidas, quando adotadas de forma contínua e integrada, protegem a criança fisicamente, mas também promovem um desenvolvimento emocional e social saudável.
Contudo, acho importante ressaltar que a prevenção não se resume apenas à identificação de sinais claros e visíveis. Muitas vezes, o abuso pode se manifestar de maneira sutil, escondido em silêncios e atitudes que passam despercebidas. Por isso, é importante que todos os envolvidos na criação das crianças, pais, educadores e profissionais da saúde estejam continuamente atentos e dispostos a acolher.
Caso você se depare com alguma suspeita, não deixe de acionar os serviços de proteção, como os conselhos tutelares e os profissionais especializados. A intervenção precoce interrompe o ciclo do abuso. Em resumo, a prevenção do abuso infantil é um trabalho constante que exige paciência, diálogo, educação e vigilância. Ao estabelecermos uma cultura de respeito e cuidado com os pequenos, estamos, de forma coletiva, construindo um ambiente onde eles possam crescer em segurança, livres de qualquer forma de violência. Denunciar e procurar ajuda é um ato de amor e responsabilidade.