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“Onde eu uso isso na minha vida?”


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 09/03/2023
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Uma frase bastante comum de ser ouvida no universo escolar é: “Onde eu uso isso na minha vida?”. É claro que essa é uma pergunta que possui alguma seriedade, pois o conhecimento pelo conhecimento (eruditismo) pode ser prejudicial para o próprio ensino, na verdade, a começar pelo próprio ensino. No entanto, não é trivial ter em vista que essa frase às vezes é dita por uma criança ou por um adolescente de 14 anos. Nesses casos, não é preciso nem estender o assunto, a vida dele não é tão extensa a ponto de ter noção plena do que será útil ou não em sua vida. Na verdade, a vida é tão grande que, analisando friamente, a pessoa deveria dizer: “o que é a minha vida perto da VIDA?”.

Alguns professores mais imediatistas, talvez também mais utilitaristas, diante do “onde eu uso isso?” apenas dizem: “na avaliação, e a avaliação faz parte da vida”, ou, “no vestibular, e ele faz parte da vida”. Não nego que esse elemento intimidador possa surtir efeito, às vezes surte. A pessoa começa a estudar por obrigação e, de repente, estuda para além da obrigação. Só quem não é envolvido com o universo escolar pode pensar que é fácil estimular os estudos. Na verdade, pais ou responsáveis sabem na maioria dos casos o quão difícil é estimular a criança ou o adolescente (e também um adulto) a estudar.

O que acontece, e aqui não deixo de tecer uma crítica, ainda que não uma crítica radical, é que geralmente quando se estuda só para a avaliação ou para um vestibular, boa parte dos conteúdos depois vai embora também. Às vezes custo a pensar que um monte de conteúdos que estudei na educação básica se perdeu. E olha que foram muitos anos de estudo e dedicação. Porém, de quando em quando penso que a vastidão de conhecimentos um dia estudados foram como a base de uma construção, em que aqueles conteúdos não foram perdidos (essa ideia traz em si um quê psicanalítico), mas modificados. Sob essa perspectiva passo a ver que nada é em vão, que nada é perdido.

Cada professor, cada disciplina, não educa para a vida (futuro), mas na vida (presente), e nisso está uma das belezas da educação. Cada conteúdo mais se parece com um grande quebra-cabeça, o que não deixa de ser essa ideia um tanto inspirada nos ideais renascentistas, onde o conhecimento a respeito de tudo era valorizado. Leonardo da Vinci (1452-1519), não ao acaso, é visto enquanto uma pessoa universal, de conteúdos universais. Assim, uma boa resposta à pergunta “onde eu uso isso na minha vida?” seriam os versos de Tom Jobim (1927-1994): “Longe é a arte/ Tão breve a vida”. Traduzindo para o cenário escolar: a vida é muito mais do que a nossa vidinha.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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