O Virtual e a Comunicação
Ao iniciar esta nova exposição de ideias, afirmo que não sou contra as redes sociais e não pretendo demonizá-las. Afinal, sem esta tecnologia, não poderia estar aqui refletindo e debatendo com vocês. Contudo, penso que se faz necessário tecermos críticas e reflexões a respeito de nossas práticas tecnocientíficas e seus efeitos sobre nossa existência. Sua repercussão em nosso quotidiano. Sua interferência em nossas relações e construção de valores. Escolhi este tema, pois indubitavelmente a capacidade de nos comunicarmos nos faz cada vez mais humanos. Permite a troca de ideias e emoções. Constrói vínculos. A comunicação nos permite exercitar a fala e a escuta. Por conseguinte, representa uma importante expressão de modos de ser. Ok! Mas afinal, também não há comunicação pela rede virtual? Comunicação mais rápida e eficaz?
Para continuar nossa reflexão, temos de partir da ideia de que comunicar passa pela noção e prática dos indivíduos uns com os outros de fala e escuta. A questão é: com as redes virtuais de comunicação, realmente nos comunicamos, isto é, criamos vínculos reais ou simplesmente passamos dados e informações quase que a todo tempo? Temos de perceber que ao construir uma comunicação, há quem fale e quem escute. Com a rede virtual, ouvimos de fato a fala do outro? Percebemos a presença do outro ou apenas passamos por ele? A comunicação virtual, de fato constrói vínculos sólidos ou somente ligações de momento?
Obviamente, ao falarmos com o outro, mesmo no não virtual, pode-se passar o “vazio”, o supérfluo, a desinformação, a mentira. No caso da comunicação virtual, será que não se dispende maiores preocupações com o excesso de informações, de palavras, de imagens, de sons, nos desviando da reflexão e do debate concreto? Neste excesso de coisas divulgadas e passadas, conseguimos ouvir uns aos outros? Pois, nesta situação, somos assaltados por muito ruído de produções e divulgações tão rápidas e instantâneas, que mal podemos nos ouvir.
Assim sendo, se não conseguimos ouvir um ao outro, fica difícil construir uma verdadeira comunicação. Menos comunicação, significa menor entendimento e vínculo uns com os outros. Nesta condição, onde todos querem divulgar algo e tudo precisa ser imediato e instantâneo, havendo muita informação que pode desinformar. Tem-se um aparente comunicar que na verdade promove um afastar. Com este ritmo de frenesi de dados e informações, não temos tempo necessário para reflexão. Neste aspecto, não há tempo para ouvir uns aos outros ou trocar palavras mais sólidas. O comunicar aparentemente torna-se mais rápido, porém mais artificial e menos humanizante. Penso que temos nesta situação muito a refletir e bastante a comunicar.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com