A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.

  • Compartilhar:

Cristãos reformados tiveram a honra de terem realizado o primeiro culto evangélico no Brasil. Isso ocorreu em 10 de março de 1557. Neste ano corrente, esse evento tão especial completará 465 anos. Vamos falar um pouco sobre esse evento e seus desdobramentos neste artigo.

Logo após o descobrimento do Brasil, o vice-almirante e aventureiro francês Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1575), de 45 anos, teve a ideia de fundar uma colônia no Brasil – a França Antártica. Nesse intuito, liderou uma caravana de três navios, com 600 tripulantes e passageiros, rumo à terra recém-descoberta. Eles saíram de Hâvre de Grâce no dia 22 de julho de 1555 e chegaram à Baía de Guanabara no dia 10 de novembro do mesmo ano. O grupo se instalou na pequena ilha de Serigipe, onde foi construído o Forte Coligny.

Desejando um apoio moral e espiritual, Villegaignon escreveu uma carta ao reformador francês João Calvino (1509 – 1564) solicitando o envio de cristãos protestantes à nova colônia. A Igreja Reformada de Genebra atendeu ao pedido e enviou um grupo de 14 evangélicos, ou huguenotes (nome que se dá aos cristãos reformados de língua francesa), liderados por dois pastores, rev. Pierre Richier e rev. Guillaume Chatier. Eles tinham claro objetivo de implantar a fé reformada na nova colônia e também evangelizar os indígenas.

No dia 07 de março de 1557, os huguenotes enviados por Calvino chegaram ao Brasil, com outros 300 colonos franceses. O desembarque foi no dia 10 de março, uma quarta-feira. Nesse mesmo dia, numa pequena sala no centro da ilha, no Forte Coligny, foi realizado o primeiro culto reformado no Brasil. Na verdade, esse foi também o primeiro culto protestante/reformado nas Américas. Na ocasião, o pastor Richier pregou em francês sobre o verso 04 do Salmo 27: Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR e meditar no seu templo.. Alguns dias depois, 21 de março, celebraram a primeira Santa Ceia, segundo o rito reformado, em solo brasileiro.

Infelizmente, o bom relacionamento de Villegaignon com os huguenotes durou pouco tempo. Villegaignon, que inicialmente parecia simpatizante à causa reformada, acusou-os de heresia e expulsou-os da colônia em outubro de 1557. Menos de três meses depois, no dia 04 de janeiro de 1558, o vice-almirante obrigou os cristãos reformados a retornarem à França, num velho navio. Lamentavelmente, por causa de muitas limitações, não havia condições para que todos pudessem fazer a viagem de retorno à Europa. Assim, cinco huguenotes se ofereceram para retornar à terra brasileira. Apesar de recebê-los amistosamente de volta, não demorou muito para que Villegaignon os acusasse de traição e espionagem. Como representante de Henrique VII, Villegaignon obrigou esses huguenotes a responder um questionário sobre alguns pontos da doutrina cristã e deu-lhes um tempo de doze horas para que apresentassem as respostas por escrito. Apesar de não serem teólogos, os cinco huguenotes responderam ao questionário, pela pena de Jean du Bourdel, o mais letrado dentre eles. O resultado foi uma belíssima confissão de fé que é conhecida como a Confissão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense, assinada por todos eles, de próprio punho.

O vice-almirante Villegaignon declarou herética a confissão dos huguenotes e condenou-os à morte.  No dia 9 de fevereiro de 1558, Jean du Bourdel, Matthieu Verneil e Pierre Bourdon, depois de agredidos e humilhados,  foram estrangulados e lançados ao mar. O huguenote André Lafon vacilou em suas convicções e, também por ser o único alfaiate da colônia, foi poupado e ficou preso. Um huguenote chamado Jacques Le Balleur conseguiu fugir e foi para São Vicente. Porém, mais tarde foi levado preso para a Bahia e enforcado oito anos depois, no Rio de Janeiro. Ele e seus companheiros ficaram conhecidos como os mártires calvinistas (ou reformados) do Brasil e Villegaignon recebeu a justa alcunha de “o Caim da América”.

A França Antártica foi um fracasso e a aventura de Villegaignon durou menos de 11 anos. No dia 20 de janeiro de 1567, os franceses foram expulsos do Brasil por Mem de Sá Sottomayor (c.1500 – 1572), o terceiro governador geral do Brasil. Villegaignon retornou à França e escreveu obras contra a teologia reformada, sendo devidamente refutado por teólogos reformados. Ele faleceu em 1575, aos 65 anos.

A presença desses cristãos reformados em solo brasileiro, pouco mais de meio século depois da descoberta do Brasil, foi de pouca duração. Porém, é incontestável que foi um marco na história das missões internacionais protestantes, especialmente as de matriz teológica reformada. A vinda dos huguenotes para evangelizar em solo brasileiro, a maravilhosa Confissão de Fé da Guanabara e o martírio de alguns desses cristãos fazem calar vozes que insistem em afirmar que a teologia reformada é um empecilho para a evangelização e missões mundiais. Com efeito, verdades bíblicas, como a soberania de Deus na salvação de pecadores, se constituem o fundamento e a  fonte de grande motivação para o labor evangelístico.

Além disso, a história do primeiro culto reformado no Brasil e seus desdobramentos é um poderoso incentivo aos cristãos brasileiros de nossos dias, especialmente aos reformados, para o avanço missionário da igreja, pregando o evangelho e fazendo discípulos em todo lugar, como nos ordenou nosso Senhor Jesus Cristo (Marcos 16.15). Os huguenotes que estiveram aqui naquele período, especialmente os mártires, deixaram-nos um precioso legado que não podemos desconsiderar. Mãos à obra, irmãos.

Azael Araújo

Azael Araújo


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.