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O perigo do ativismo religioso como estratégia eleitoreira


Por: Alex Fernandes França
Data: 10/08/2023
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A relação entre religião e política sempre foi uma questão delicada, com o potencial de influenciar profundamente os processos democráticos. Nas últimas décadas, temos observado um fenômeno alarmante: o crescente uso do ativismo religioso como plataforma eleitoreira e ferramenta de favorecimento político, seja nas esferas municipais, estaduais ou nacional. Candidatos políticos têm se aproveitado da fé alheia como uma estratégia para conquistar popularidade e, consequentemente, angariar votos. A coluna Em Foco desta edição levanta sérias preocupações sobre a integridade do sistema democrático e a separação entre religião e Estado.

O ativismo religioso transformado em estratégia eleitoral é uma forma de manipulação emocional que explora a fé profundamente enraizada nas comunidades. Candidatos astutos aproveitam a influência das instituições religiosas para promover sua imagem e agendas políticas, muitas vezes deturpando ou exagerando sua própria crença religiosa para criar uma conexão artificial com os eleitores.

Essa manipulação da fé alheia pode ser especialmente prejudicial, pois explora as vulnerabilidades emocionais das pessoas, minando sua capacidade de discernir a diferença entre o compromisso genuíno com valores religiosos e a exploração oportunista desses valores para fins políticos.

Uma das bases fundamentais das democracias modernas é a separação entre religião e Estado. Essa separação garante a igualdade de direitos e a liberdade de religião para todos os cidadãos, independentemente de sua fé ou crença. O uso do ativismo religioso como plataforma eleitoreira ameaça diretamente essa separação, pois sugere que determinada religião ou sistema de crenças é mais legítimo ou valioso do que outros.

Quando candidatos se apresentam como defensores de uma determinada fé, estão efetivamente excluindo ou marginalizando aqueles que não compartilham dessas crenças. Isso pode criar divisões na sociedade e corroer a coesão social, comprometendo a capacidade do governo de representar e atender às necessidades de todos os cidadãos de maneira justa.

 

“Uma das bases fundamentais das democracias modernas é a separação entre religião e Estado”

O filósofo alemão, um dos principais pensadores do Iluminismo, Immanuel Kant (1724-1804), defende a ideia de que, quando os líderes políticos abusam da religião para seus próprios fins, transformam uma fonte de iluminação espiritual em uma ferramenta de manipulação e opressão.

O uso do ativismo religioso como estratégia eleitoral muitas vezes desvia o foco dos problemas e desafios reais que um povo enfrenta. Candidatos podem usar discursos fervorosos sobre valores religiosos para distrair os eleitores de questões cruciais, como economia, educação, saúde e políticas públicas. Esse desvio de atenção pode impedir um debate público saudável e informado, prejudicando a tomada de decisões baseada em fatos e evidências.

O ativismo religioso usado como plataforma eleitoreira e ferramenta de favorecimento político é um fenômeno preocupante que ameaça os princípios fundamentais da democracia e da separação entre religião e Estado. Candidatos que exploram a fé alheia para obter popularidade e votos estão minando a integridade do processo democrático e criando divisões na sociedade. É crucial que os eleitores estejam cientes dessas táticas manipuladoras e busquem candidatos que se comprometam com uma política baseada em princípios sólidos e na busca pelo bem comum, em vez de se aproveitarem da fé das pessoas para seus próprios ganhos políticos.

 

·       Alex Fernandes França é Administrador de Empresas, Teólogo, Historiador e Mestrando em Ensino pelo PPIFOR – UNESPAR

 

Alex Fernandes França


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